Por Irene Marchesan, fonoaudiologia e fundadora da Clínica CEFAC
Primeiro surge a dificuldade para o recém-nascido sugar o peito ao mamar e logo depois aparecem as limitações da fala. Somado a isso, bullying e frustrações tornam o dia a dia de quem tem língua presa, e também para os pais, um desafio diário.
Para que essas consequências não existam, é necessária a realização do teste da linguinha assim que o bebê nasce, conforme protocolo que se tornou Lei Federal e é obrigatório em todas as maternidades do país.
Mas pode ser que você ainda queira perguntar: o que é a língua presa? Trata-se de uma pequena membrana abaixo da língua que quando alterada impede o livre movimento da língua para a realização de funções essenciais como sugar, falar, mastigar, deglutir e respirar.
É preciso que os pais saibam que sua ocorrência pode ser genética, sendo formada durante a gestação. Além disso, alguns estudos apontam que a incidência é de 20% de crianças que nascem com alteração no frênulo lingual. Ou seja, em 2 a cada 10 nascimentos, dado que reforça a importância de estarmos atentos.
Não é preciso que os pais tenham medo de causar dor ou sofrimento para o bebê, já que a cirurgia para o corte do frênulo não dói, na maioria das vezes não sangra e, quando feito em bebês, pode ser um procedimento ambulatorial, já levando o bebê para o peito da mãe, utilizando o leite materno como cicatrizante.
Quanto mais cedo o procedimento for feito, menores os impactos futuros na vida da criança. Por isso, lembre-se: para o bebê mamar e falar melhor, realize o teste da linguinha já no nascimento.
O que acontece se o problema não é resolvido cedo?
Quando essa alteração não é identificada logo ao nascer, provavelmente esse bebê poderá ter dificuldade para mamar no peito, quando normalmente outras causas são apontadas. Muitas vezes, inclusive, apontam como problema da mamãe.
Depois essa criança poderá ter dificuldade durante a aquisição dos sons que exigem a elevação da ponta da língua, como [l] e [r], na mastigação e na deglutição. Mesmo com essas dificuldades, os pais podem ser alertados somente na escola sobre as dificuldades da criança para falar e se sociabilizar.
É comum receber no consultório crianças que estão nesse processo, e que os pais sequer imaginam que seja algo tão simples de se diagnosticar e tratar, mas que causa prejuízos que podem acompanhar a criança para a vida. Nesses casos, o ideal é verificar a possibilidade da cirurgia para cortar o frênulo e trabalhar de forma personalizada para cada criança na terapia, caso seja necessário, antes e após o procedimento.
Irene Marchesan, é fonoaudiologia e fundadora da Clínica CEFAC, em São Paulo. Possui graduação em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1977), mestrado em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1989) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1998). Título de Especialista em Motricidade Orofacial (MO) nº 01, concedido pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa). Membro da International Association Orofacial Myology (IAOM) desde 1995. Membro da American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) desde 1995. Tem experiência clínica desde 1978, e de supervisão clínica desde 1983. Atua na clínica com as alterações das funções orofaciais tendo desenvolvido protocolos específicos para a avaliação dessas funções, assim como criou um protocolo específico para a avaliação do frênulo da língua.