Médico nefrologista formado e especializado pela Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp).
Redatora especialista na cobertura das editorias de saúde, alimentação, fitness e bem-estar.
Ardência ao fazer xixi, incontinência urinária, urina com sangue ou escura são alguns dos principais sintomas da infecção urinária, doença que atinge mais de 50% das mulheres pelo menos uma vez ao longo da vida.
Além dos casos pontuais, há quem sofra da doença de forma recorrente, apresentando três ou mais episódios ao ano. Para estes casos, uma solução que tem ganhado cada vez mais adeptos é a vacina para infecção urinária de repetição.
Tipos de vacina para infecção urinária
1. Uro-Vaxom
A Uro-Vaxom é a vacina para infecção urinária mais comumente utilizada, sendo comercializada no Brasil. Ela atua na defesa do organismo e pode ser adquirida em forma de cápsula laranja ou amarela, contendo um pó de cor bege.
Considerada um imunoterápico, ela é indicada no tratamento a longo prazo de pacientes com infecções do trato urinário (ITU) não tão complicadas e também na prevenção da recorrência dessas infecções. A Uro-Vaxom é composta por 18 descendentes da bactéria Escherichia coli (mais conhecida como E. coli), responsável por até 95% dos casos de cistite (infecção da bexiga).
A vacina é vendida em farmácias, sendo encontrada pelo nome "Uro-Vaxom" ou "Lisado bacteriano de Escherichia coli", conforme aponta o médico nefrologista Roberto Galvão, da Clínica Paulista de Nefrologia.Ele ressalta ainda que a medicação é vendida sob receita médica e que a automedicação pode ser perigosa e, portanto, deve ser evitada.
2. SolcoUrovac
Já a SolcoUrovac é uma vacina para infecção urinária em forma de supositório vaginal. É uma alternativa aos antibióticos para a doença, por ser um método menos invasivo ao organismo. O supositório tem, em sua composição, bactérias enfraquecidas e que não representam perigo ao organismo humano.
Estudos comprovaram que houve uma grande redução de incidência de infecção urinária em mulheres que receberam a vacina e tinham vida sexual ativa e idade inferior a 52 anos.
3. Uromune
A Uromune é uma vacina para infecção do trato urinário formada por bactérias inativas, combinadas com glicose, cloreto de sódio e água.
Uma pesquisa feita por cientistas do Reino Unido indicou que 78% dos casos recorrentes de infecção urinária desapareceram após o tratamento com a vacina Uromune. Foram 75 pacientes que se voluntariaram para as análises, tendo recebido a medicação por três meses, seguidos de 9 meses de acompanhamento médico e exames.
4. Strovac
A Strovac é uma vacina contra infecção urinária desenvolvida na Alemanha, a partir de restos de 10 tipos de bactérias inativas. É fornecida em forma de injeção e três doses devem ser aplicadas em pacientes com infecção urinária de repetição a cada duas semanas. A proteção dessa imunização dura 12 meses.
5. ExPEC4V
A ExPEC4V é a vacina para infecção urinária aplicada via injeção intramuscular e que ainda está em fase de testes em diversos países, como Japão e Estados Unidos. O objetivo desse placebo é impedir a ação da bactéria E. coli, que pode causar também diarreia, úlcera, pneumonia, meningite, pielonefrite e até sepse, uma infecção generalizada no sangue.
Análises têm indicado uma eficácia média de 80% no aumento de anticorpos em pacientes com infecção urinária de repetição, o que pode impedir a recorrência da doença.
Para que serve a vacina para infecção urinária
As vacinas para infecção urinária têm como objetivo estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos e, assim, elevar a imunidade e reduzir de maneira significativa a ocorrência da doença. É estimado que 20% a 30% das mulheres com infecção urinária terão a doença de maneira recorrente. Nestas situações, os médicos normalmente optam por tratamentos com antibióticos.
Contudo, o uso prolongado de antibióticos pode deixar a bactéria causadora da infecção ainda mais resistente, além de afetar o sistema imunológico dos pacientes. Dessa forma, o uso de vacinas para infecção urinária tem sido cada vez mais prescrito por profissionais. No entanto, estudos conclusivos sobre a eficácia e a correta dosagem dessas imunizações ainda estão em andamento.
Ação da vacina para infecção urinária
Geralmente, a vacina para infecção urinária é composta por bactérias inativas, visando atacar as partículas causadoras da doença e melhorar a imunidade a partir de uma maior produção de anticorpos. Por isso, este tipo de imunização é mais indicado para quem já apresenta um quadro de infecção urinária de repetição e somente é vendido sob prescrição médica.
O médico Roberto Galvão aponta que, como a maioria dos casos de infecção urinária recorrente são em pessoas do sexo feminino, a recomendação da vacina abrange majoritariamente mulheres adultas e sexualmente ativas.
Bactérias combatidas pela vacina de infecção urinária
Cada vacina para infecção urinária de repetição age no combate de um ou mais tipos de bactérias.
- Uro-Vaxom: combate a bactéria E. coli, que é responsável pela imensa maioria dos casos de infecção urinária;
- SolcoUrovac e Strovac: procuram aumentar a imunidade contra as bactérias E. coli, Proteus mirabilis, Morganella morganii, Klebsiella pneumoniae e Enterococcus faecalis;
- Uromune: age contra as infecções urinárias provocadas pelas bactérias E. coli, Klebsiella pneumoniae, Proteus vulgaris e Enterococcus faecalis.
Dosagem da vacina para infecção urinária
A dosagem da vacina para infecção urinária varia de acordo com cada caso, tipo de imunização e indicação médica. Portanto, a posologia ainda não é pré-estabelecida.
Segundo Carmen Tzanno, nefrologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, é comum que a vacina, independentemente do tipo, seja administrada durante três meses. É possível, ainda, que ela seja combinada a antibióticos em ocorrências de infecções urinárias mais graves.
Dosagem da Uro-Vaxom
Como a Uro-Vaxom é vendida em território brasileiro, a recomendação é de 1 cápsula (de 6 mg) ao dia pela manhã, em jejum, durante três meses para prevenir infecções urinárias. Já para o tratamento da infecção urinária de repetição, o aconselhado é ingerir 1 cápsula ao dia pela manhã, em jejum, juntamente com antibióticos, por no mínimo 10 dias e até sumirem os sintomas.
Contraindicações da vacina para infecção urinária
O uso de qualquer vacina para infecção urinária de repetição não é indicado para gestantes, lactantes e crianças menores de 4 anos de idade. Pacientes com hipersensibilidade a um dos componentes da forma, com alterações do trato urinário ou pacientes assintomáticos também são contraindicados ao uso da vacina.
Possíveis efeitos colaterais da vacina para infecção urinária
O médico Roberto Galvão ressalta que os efeitos colaterais das vacinas para infecção urinária ocorrem em menos de 4% dos pacientes. Apesar de muito raros, alguns pacientes podem apresentar:
- Náusea;
- Diarreia;
- Pele avermelhada (erupções);
- Coceira;
- Febre
- Dor de cabeça
- Fadiga;
- Dor no local da injeção;
- Sangramento vaginal (no caso do supositório).
A nefrologista Carmen recomenda que o tratamento seja interrompido naqueles pacientes com sintomas gastrointestinais (diarreia, náuseas ou dor abdominal) e nos casos de reações alérgicas com febre, manifestações cutâneas (erupções na pele) ou prurido (coceira).
Referências
- Carmen Tzanno, médica do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, pós-doutora em nefrologia, especializada em estudo de envelhecimento, alterações neurológicas e interações medicamentosas em pacientes em diálise;
- Roberto Galvão, médico nefrologista da Clínica Paulista de Nefrologia;
- Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária;
- CARRARO-EDUCARDO, José Carlos; GAVA, Isabela Ambrosio. O uso de vacinas na profilaxia das infecções do trato urinário. Jornal Brasileiro de Nefrologia, v. 34, n. 2. São Paulo, abr-jun, 2012;
- O'BRIEN, Valerie P.; et al. Drug and Vaccine Development for the Treatment and Prevention of Urinary Tract Infections. Microbiology Spectrum, v. 4, n. 1, 2016;
- YANG, B.; FOLEY, S. First experience in the UK of treating women with recurrent urinary tract infections with the bacterial vaccine Uromune. BJU International, v. 121, n. 2, 2018.