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Se você se sente desmotivado(a), estressado(a), ansioso(a), entediado(a) ou solitário(a) durante a pandemia do novo coronavírus, saiba que você não é único(a). Pessoas do mundo todo foram obrigadas a se recolher em casa pelas medidas de isolamento social ou quarentena como forma de impedir o aumento da transmissão da doença. Agora, todos precisam se adaptar a esta nova realidade.
Neste sentido, além dos cuidados com a saúde do nosso corpo, também é preciso dar atenção ao estado de nossa saúde mental. Isso porque momentos de crise e estresse, como esse em que vivemos, inevitavelmente afetam nosso equilíbrio psíquico - causando males ainda maiores.
De acordo com a psicóloga Adriana de Araújo, discutir sobre este tema agora implica em abordar o bem-estar mental de toda a sociedade. Afinal, somos pessoas sob condições similares (de pandemia e isolamento) e estamos enfrentando inseguranças emocionais parecidas.
"Falar de saúde mental é olhar as demandas, as necessidades gerais e comuns da maioria das pessoas nesse momento, como ansiedade, dificuldade de adaptação, medo do futuro, medo de adoecer e medo de perder pessoas queridas", explica a especialista.
Medo da pandemia
Um estudo publicado na revista Psychiatry Research concluiu que a ansiedade comunitária pode aumentar devido à pandemia de COVID-19. Além disso, a contante cobertura da mídia e o aumento de casos (e do número de mortes) também contribui para o aumento do sentimento ansioso.
Além disso, Adriana de Araújo afirma que o carácter global da pandemia eleva o número de pessoas com probabilidade de desenvolver ou piorar algum quadro emocional. Fatores como medo, incerteza, desinformação e instabilidade econômica acabam impactando no equilíbrio emocional.
Outro ponto é que a atual situação também pode aumentar os níveis de estresse, pois não há para onde "fugir" ou como escapar dessa realidade. "Para muitos, infelizmente, é como não conseguir acordar de um pesadelo", reflete Adriana. Assim, o estresse emocional aumenta quando não é possível suportar a situação imposta.
Solidão e estresse no isolamento
Reforçando este cenário, uma pesquisa publicada na revista The Lancet destacou que a quarentena tem causado efeitos psicológicos negativos nas pessoas, incluindo sintomas de estresse pós-traumático, confusão e raiva - que podem ter longa duração na vida dos afetados.
Dentre os fatores que causam maiores incômodos, estão a mudança de rotina, dificuldades individuais e coletivas de adaptação, prolongamento da duração da quarentena, frustração, tédio, suprimentos inadequados, perda financeira e até estigma da doença.
Para ilustrar como a situação atual afeta o emocional, Adriana compara o isolamento social a um relacionamento tóxico. "Fala-se muito dos problemas causados pelas relações problemáticas, mas o isolamento é igualmente danoso ao cérebro", aponta.
Por isso, Adriana ressalta que é preciso criar um tipo de vínculo à distância com as pessoas, seja através de uma chamada de vídeo ou telefonema. "Uma coisa é morar ou passear sozinho, outra, é ficar dias sem contato com pessoas. Um abraço, uma boa conversa é algo precioso", acrescenta.
Como saber se eu preciso de ajuda
Para a especialista, a falta de uma rotina é um dos principais fatores prejudiciais para a saúde mental neste momento. Ficar de pijama o dia todo, faltar com organização das tarefas, não ter atividades programadas, não ter horário para refeições e o sedentarismo contribuem para a desmotivação e outros problemas emocionais.
Pensamentos que giram em torno da incerteza e medo, insônia que te impede de dormir à noite ou não sentir vontade de fazer nada podem ser indícios de que você precisa da ajuda de um psicólogo. Fique atento e procure um especialista quando notar:
- Pensamentos negativos
- Falta de vontade
- Baixa energia.Choro frequente
- Insônia e dificuldade para dormir
- Medos constantes
- Mudanças nos padrões alimentares
- Dificuldade em se concentrar para tarefas normais
- Sentimentos de desamparo, desesperança, tristeza prolongada ou preocupação avassaladora.
Estes sinais podem ser indicativos de que a pandemia e o isolamento estão provocando consequências negativas em sua vida. Diante disso, a psicóloga alerta sobre ter consciência das próprias emoções e pensamentos.
"Pensamentos ruins detonam a motivação, diminuem a autoestima e impedem as pessoas de sonharem", diz. Para acalmar os pensamentos, invista em conversas com pessoas de confiança para "elaborar, aprender e mudar os padrões de pensamentos".
Dicas para manter a saúde mental
O momento atual possui muitos fatores de estresse que podem afetar seu equilíbrio. Por isso, é importante investir em atividades para fazer a manutenção da sua saúde emocional. Uma dica da psicóloga para ter maior consciência de suas próprias emoções é fazer um diário de sentimentos.
A tarefa consiste em fazer uma "checagem emocional" três vezes ao dia, para saber como você está se sentindo. Ao final de uma semana de anotações, é possível perceber se houve mais sentimentos negativos ou positivos e se houveram muitas oscilações. "Entender o que sente pode ajudar a compreender as razões que levaram a se sentir bem ou mal", complementa.
Confira mais dicas para manter sua saúde mental durante o período da pandemia:
- Faça intervalos de 90 em 90 minutos para respeitar seu tempo de foco. Passar desse intervalo gera desgaste e falta de concentração
- Medite, alongue-se, pratique exercícios de respiração profunda ou mindfulness
- Converse todos os dias com alguém
- Faça boas ações à você e aos outros
- Faça atividades que você goste
- Siga uma dieta saudável sem grandes restrições
- Pratique algum exercício físico, pois eles liberam serotonina, que dá a sensação de prazer, e são benéficos à saúde e ao sistema imunológico
- Evite recorrer a drogas ou álcool para lidar com a situação
- Estabeleça uma rotina, tenha local e horário apropriado para cada tarefa
- Cuide do seu sono, mantenha horários regulares para dormir e acordar
- Tome sol, pois a vitamina D é grande aliada do sistema imunológico
- Mantenha consciência de seus pensamentos e emoções, fazendo a checagem emocional para entender seus próprios padrões.
Cuidado com o excesso de notícias
Além dessas dicas, a exposição excessiva às notícias também pode acarretar no aumento da ansiedade. Por isso, a psiquiatra Sheila Jowsey-Gregoire, da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, também sugere:
- Limitar o tempo que temos acesso à qualquer mídia
- Evitar ficar acordado até tarde monitorando as notícias
- Quando ler notícias, procure fontes confiáveis
- Evitar compartilhamento de boatos e fake news.
Para quem tiver interesse, a psicóloga Adriana de Araújo disponibiliza em seu site de forma gratuita o livro "Ansiedade nos tempos de coronavírus", para ajudar a lidar com os sentimentos durante a pandemia. Além disso, alguns psicólogos disponibilizaram atendimento gratuito durante o isolamento, como forma de ajudar a população angustiada.
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