A doação de órgãos é uma maneira efetiva de salvar vidas. Para fazer este ato de altruísmo, o indivíduo que quer ser doador ou a família de um doador falecido podem manifestar a vontade de disponibilizar órgãos saudáveis que vão ajudar no tratamento de pessoas que precisam de um transplante - procedimento cirúrgico que irá repor um órgão ou tecido de um doente (receptor) por outro órgão ou tecido saudável de um doador (vivo ou morto).
"Hoje, no Brasil, temos mais de 41 mil pessoas à espera de um órgão ou tecido, que poderá melhorar a qualidade de vida e até mesmo garantir a sobrevivência desses indivíduos. Um só doador é capaz de salvar mais de 25 pessoas", diz Diane Nickel, secretária nacional e líder do núcleo de enfermagem ADOTE na região Sul e coordenadora do Banco de Olhos da região Sul de Santa Catarina.
Doar mais de um órgão e/ou tecido ocorre apenas em casos de doadores falecidos, após a confirmação de morte encefálica (morte cerebral) do paciente e permissão da família. Porém, é possível também doar órgãos ainda em vida, disponibilizando um rim, parte do fígado, parte do pulmão ou medula óssea. Entenda a seguir como ser um doador de órgãos:
Doação de múltiplos órgãos
A doação de múltiplos órgãos só acontece quando o doador é um paciente que teve morte encefálica - normalmente resultado de um AVC (hemorrágico ou isquêmico) ou de acidentes. Nestes casos, é realizado um protocolo que comprova a falta de atividades cerebrais e uma avaliação para verificar a presença de câncer ou doença transmissível no indivíduo.
Em geral, este paciente fica internado na UTI, onde um sistema de ventilação mantém os outros órgãos em funcionamento. Porém, para haver efetivamente a doação, o indivíduo precisa comunicar a família sobre sua vontade de doar, deixando claro que ela deve autorizar o procedimento. Isso porque, no Brasil, a doação de órgãos só é realizada após a autorização dos familiares.
Por outro lado, quando uma pessoa morre dentro de sua casa, apenas as córneas podem ser doadas, pois presume-se que a morte está relacionada a parada cardíaca - o que pode comprometer a vitalidade dos outros órgãos. Segundo o coordenador de transplantes da Santa Casa de Porto Alegre, Valter Garcia, nestas situações, o paciente só pode doar tecidos.
Órgãos e tecidos que podem ser transplantados
- Coração
- Fígado
- Pâncreas
- Pulmão
- Rim
- Intestino
- Medula óssea
- Ossos
- Córneas
- Pele
- Válvulas cardíacas
- Cartilagem
- Tendões.
Como ser um doador em vida
Outra possibilidade é ser um doador vivo, que escolhe doar órgãos ou tecidos em vida. Para isso, a pessoa tem que registrar sua disponibilidade com a assinatura de um documento comprovando ser um doador por vontade própria. Além disso, é preciso ter entre 18 e 60 anos, ser sadio e, segundo Garcia, passar por uma intensa bateria de exames, a fim de garantir que sua vida após a doação permaneça saudável a curto e longo prazo.
O que um doador vivo pode doar
Doadores vivos podem doar um dos rins, pois a retirada parcial ainda possibilita que o doador permaneça saudável e viva normalmente. Para a doação do órgão, é feito um teste imunológico verificando a compatibilidade entre o rim do doador e o corpo do receptor, que passará pelo transplante.
É possível também doar uma parte do fígado, pois ele se regenera com o tempo. Os doadores adultos passam por uma hepatectomia, que é a retirada parcial do fígado em até 70% do volume original. Nos meses seguintes ao procedimento, o órgão do doador se recompõe até 90% do volume original e não há sequelas deixadas pela cirurgia. Quando a doação tem receptor pediátrico, um terço do fígado do doador adulto (preferencialmente os pais) é transplantado na criança.
Os doadores em vida também podem disponibilizar parte de um pulmão - que, diferente do fígado, não se regenera. Nestes casos, geralmente, é retirado apenas um lobo (as pontas superiores dos pulmões), nunca podendo doar mais do que um pulmão inteiro. Entre os critérios utilizados na doação, exige-se que os doadores tenham menos de 65 anos e nunca tenham fumado.
Por fim, doadores vivos podem doar medula óssea. Segundo Garcia, a compatibilidade entre doador e receptor é fundamental e recomenda-se que os dois tenham grau de parentesco até 3º grau. O problema, porém, é que grande parte das pessoas que precisam desse tipo de transplante não tem alguém compatível para realizar a doação.
Quem se disponibiliza a doar medula óssea precisa ir até um banco de doação e esperar por um retorno quando houver compatibilidade com um futuro receptor. Podendo ter até 10% de seu material doado, a medula óssea do doador pode ser coletada através de aspiração óssea direta ou coleta de sangue e se recompõe em apenas 14 dias.
Ao manifestar o interesse em ser um doador de medula óssea, o candidato não pode ser portador de nenhuma doença infecciosa transmissível pelo sangue ou histórico cancerígeno, de doença hematológica ou autoimune.
Quem não pode ser doador de órgãos
Além de todos os cuidados na triagem e preservação dos órgãos e tecidos que serão usados em transplantes, há uma série de critérios que podem impossibilitar uma doação. Portadores de doenças infecciosas ativas ou de uma condição específica que acometa algum órgão, por exemplo, não podem ser doadores.
"Existem vários fatores que são avaliados pela equipe de captação e pela equipe transplantadora, tais como idade e causa da morte. Algumas são contraindicações absolutas para a doação, tanto de órgãos como de tecidos, como HIV positivo e infecção sistêmica ativa", explica Nickel.
Impasses da doação
Segundo o médico Valter Garcia, em cada 10 pessoas, a expectativa é que 5 sejam doadoras. Porém, atualmente, apenas 3 conseguem realizar uma doação. A maior dificuldade, neste sentido, vem pela negação das famílias de potenciais doadores falecidos.
Para haver a doação de órgãos pós-morte, os familiares do falecido tem de dar o aval. Mas, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), dados de 2020 revelam que 36% das famílias negaram a doação de órgãos de seus parentes mesmo após comprovada a morte encefálica.