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De acordo com os dados mais recentes levantados pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), mulheres e meninas representaram cerca de 48% de todas as novas infecções por HIV no mundo em 2019. E, todas as semanas, cerca de 5.500 jovens entre 15 e 24 anos, do mundo inteiro, são infectadas pelo vírus.
Reféns do HIV, muitas dessas mulheres se deparam com um desafio quanto à maternidade: é possível ser soropositiva e engravidar sem infectar o bebê? E a resposta é, sim! Com acompanhamento adequado e a realização da terapia retroviral ("coquetel" de medicação), dá para diminuir consideravelmente o risco de transmissão vertical - quando a mãe passa o vírus para o feto.
"Com o uso correto das medicações antirretrovirais, a pessoa se torna indetectável - ou seja, a carga viral no organismo é tão baixa que não é detectada nos exames", esclarece a obstetra Bruna Cavalcante, do Grupo Huntington.
Segundo o Ministério da Saúde, as chances de ocorrer uma transmissão de mãe para filho durante a gestação são de 15% a 45%. Mas, com o tratamento correto, essa porcentagem é reduzida drasticamente.
"Em gestações planejadas, com intervenções realizadas adequadamente durante o pré-natal, o parto e a amamentação, o risco de transmissão vertical do HIV é reduzido a menos de 2%", garante a obstetra.
Dados da UNAIDS Brasil revelam que, em 2019, 82% das mulheres grávidas com HIV tinham acesso a medicamentos antirretrovirais, utilizados para prevenir a transmissão vertical. Esta realidade, fruto dos avanços na medicina, faz toda a diferença na vida de quem sonha em ser mãe e ainda garante a saúde de seus bebês.
Cuidados durante o pré-natal
As mulheres soropositivas devem engravidar quando o nível de carga viral estiver indetectável. Para isso, é necessário realizar um acompanhamento médico, que irá avaliar as condições imunológicas da futura gestante, e, consequentemente, escolher o melhor momento clínico para a gestação.
"Se as condições estiverem favoráveis e for comprovada a ausência de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), o médico vai conversar com o casal para decidirem a forma da concepção", pontua a médica.
Segundo o Ministério da Saúde, a possibilidade de contágio do vírus durante e depois dos 9 meses de gestação é de:
- 35% de chance de contágio pela placenta
- 65% no parto, vaginal ou cesárea, caso o bebê deglutir sangue e secreções maternas infectadas
- De 7% a 22% de risco adicional na amamentação, em cada exposição ao seio
Durante o pré-natal, além de fazer a terapia antirretroviral (ARV) indicada pelo médico, a gestante com HIV deve monitorar periodicamente os níveis de carga viral. Esse controle é importante para auxiliar na escolha do tipo de parto (normal, natural, cesárea), analisando qual a melhor opção para evitar a transmissão.
Essa decisão é tomada na 34ª semana de gestação, quando acontece o último exame de carga viral. A obstetra Bruna Cavalcante ressalta a importância de, na hora do parto, o profissional tirar o bebê ainda empelicado - ou seja, embalado na bolsa ou saco amniótico.
Caso não for possível, é essencial proteger a boca e o nariz do bebê, evitando assim que o mesmo ingira as secreções maternas infectadas.
Cuidados pós-parto
O obstetra precisa fazer o clampeamento precoce do cordão umbilical, e, logo em seguida, o bebê precisa receber um banho para retirar as secreções maternas. Em até 4 horas após o parto, o bebê recebe a primeira dose de xarope antirretroviral. Essa medicação será administrada durante quatro semanas.
"Se não for feito esse tratamento, o HIV pode provocar danos cerebrais progressivos no bebê, que impedem ou atrasam o desenvolvimento, além de episódios repetidos de infecções bacterianas, pneumonia, insuficiência cardíaca, entre outros", alerta a obstetra.
Mesmo com todos os cuidados, só é possível ter certeza de que o filho não foi infectado após um ano e meio do nascimento. Isso porque os anticorpos da mãe, passados pelo cordão umbilical, podem levar até 18 meses para serem degradados no organismo do bebê.
Mães soropositivas e a amamentação
Apesar de ser possível engravidar com tranquilidade, mães soropositivas não podem amamentar. Afinal, o leite materno tem mais chance de transmitir o vírus do HIV. O ideal é que a mãe seja orientada sobre a proibição ainda no pré-natal. Assim, ela já pode ir analisando quais medidas irá tomar no período de amamentação.
"Após o parto, as puérperas podem tomar uma medicação específica para inibir a produção do leite, e também podem enfaixar as mamas", orienta a obstetra Bruna Cavalcante.
O ideal é que bebês com mães HIV positivas sejam alimentados, exclusivamente, até os 6 meses de idade com fórmula láctea específica, indicada pelo obstetra ou pediatra. Além disso, não é recomendada a utilização da amamentação cruzada, realizada por outras mulheres.