Redatora especialista na cobertura de saúde, bem-estar e comportamento.
O Instituto Butantan apresentou nesta terça-feira (12) os dados globais da Coronavac, vacina contra COVID-19 desenvolvida pelo centro de pesquisa em parceria com a farmacêutica Sinovac.
De acordo com os dados revelados em coletiva de imprensa, a Coronavac apresenta pelo menos 50,38% de eficácia contra o coronavírus - taxa acima dos 50% universalmente estabelecidos para que uma vacina seja eficaz.
Dados de eficácia da Coronavac
- Muito leves (não precisa de intervenção): 50,38%
- Leves (precisa de algum tipo de assistência): 77,96%
- Graves e moderados (hospitalização e hospitlização/UTI): 100%
Ao explicar os dados do imunizante, o diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, Ricardo Palácios, detalhou por que a vacina chegou a este número.
Para o estudo da fase 3 da Coronavac, os pesquisadores do Butantan e da Sinovac recrutaram voluntários. Dessas, 252 pessoas foram infectadas (naturalmente) pelo SARS-CoV-2. Dos 252 voluntários que se infectaram pelo coronavírus, 167 receberam doses de placebo e os outros 85 receberam a vacina.
Para o cálculo de eficácia, os pesquisadores ainda definiram quais tipos de pacientes seriam observados: casos muito leves, leves, moderados e graves. Os assintomáticos foram descartados dos testes, uma vez que ainda não há protocolos específicos para determinar quem se configura ou não neste caso.
Ainda de acordo com Palácios, a decisão de incluir todos os grupos sintomáticos de pacientes de COVID-19 - que, pela escala da Organização Mundial de Saúde, varia de 0 a 10, sendo 0 para assintomáticos, 1 a 3 leves, 4 e 5 moderados, 6 a 9 graves e 10 para fatalidades - deve-se à necessidade de urgência da pandemia.
Em contrapartida, porém, o médico salientou que a realização dos testes em todos os grupos sintomáticos poderia afetar a eficácia global da Coronavac - o que, de fato, ocorreu.
"Se colocássemos o limite nos moderados e graves, precisaríamos de muitas pessoas e tempo. O limite para os testes foi, então, para casos leves. Porém, a eficácia abaixa conforme abaixa-se este limite", explica
"Por outro lado, a vantagem de ter maior número de casos é que com um estudo relativamente pequeno temos um resultado mais rápido e eficiente. Havíamos previsto que a vacina devia ter uma menor eficácia nos casos mais leves e maior nos casos mais moderados e graves. Conseguimos montar esse efeito biológico. É uma vacina eficaz. Temos uma vacina que consegue controlar a pandemia através desse efeito que é a intensidade da doença clinica", afirmou o médico durante a coletiva.
Outro ponto que afetou a taxa de eficácia da Coronavac, segundo Palácios, foram as condições a que a vacina foi submetida nos testes - como a segunda onda de COVID-19 no Brasil. "Pegamos o início da segunda onda no Brasil. Essa vacina foi colocada sobre um estresse absolutamente extraordinário e nenhuma outra vacina [usada ou em estudo sobre a COVID-19] foi submetida a esse estresse", disse o especialista.
Ele também chama a atenção para um dado que reflete esse estresse: "A incidência de pessoas no grupo de placebos é várias vezes superior à de qualquer outra vacina publicada. Por isso o número mais importante aqui não é os 50,38%. É esse 23,64. Essa é a demonstração de que fomos submetidos ao maior estresse possível."
O número citado destacado por Palácios refere-se à taxa de incidência de COVID-19 obtida por uma fórmula matemática e pelos dados de infectados que usaram placebo durante o teste. Segundo os números, das 4.599 pessoas que receberam doses de placebo nos estudos da fase 3 para a Coronavac, 167 desenvolveram uma forma leve da doença frente a 85 pacientes que tomaram a vacina e tiveram coronavírus também em sua forma leve.
Fim da pandemia de COVID19?
Palácios ainda destacou que a vacina cumpre o seu papel de ajudar a controlar o sistema de saúde na pandemia.
"Em pessoas que tiveram casos leves, o percentual de eficácia foi de 77,96%. É aí que está o impacto da vacina no sistema de saúde: se ela controla o atendimento no sistema ambulatorial e hospitalares, sabemos que pela demanda da COVID-19, outras pessoas deixaram de ser atendidas", disse.
Entretanto, ainda não é possível definir se este é ou não o fim definitivo da pandemia de COVID-19. "Precisamos fazer mais estudos sobre quais são os efeitos [da vacina] na comunidade".
Coronavírus
Melatonina produzida no pulmão barra ação de coronavírus, diz novo estudo
Novo coronavírus: mitos e verdades sobre a doença Covid-19