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Em 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS), após extensos debates, recomendou que o aleitamento materno deveria ser exclusivo até o sexto mês e a alimentação complementar deveria ser iniciada no início do sétimo mês.
Essa orientação permaneceu amplamente aceita até 2008, quando o Comitê de Nutrição da Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição (ESPGHAN) passou a recomendar que o início da alimentação complementar fosse realizado nunca antes da 17ª semana de vida e nunca após a 26ª semana, tendo como principal foco a questão da introdução de alérgenos, que não deveria ser precoce nem retardada a fim de prevenir a alergia alimentar. Esse período entre a 17ª e a 26ª semanas (4 a 6 meses) seria uma espécie de "janela imunológica" em que se conduziria mais tolerância e menos alergia.
Esse posicionamento gerou intensa polêmica, sendo bastante criticado pela falta de evidências científicas para a tal "janela imunológica", por possíveis conflitos de interesse e pelo fato de, potencialmente, prejudicar as políticas de incentivo ao aleitamento materno.
Em 2009, o Comitê de Nutrição da ESPGHAN voltou a se manifestar, sugerindo que, como estratégia global, o aleitamento materno deveria ser mantido como exclusivo até "por volta do sexto mês", mas enfatizando a necessidade de individualização de cada caso. Mesmo em publicações bastante recentes, a ESPGHAN mantém a sugestão de que a introdução da alimentação complementar seja entre a 17ª e a 26ª semanas de vida.
Em 2011, a OMS, tendo como principal base a metanálise publicada por Kramer e colaboradores, veio a público para ratificar sua posição, defendendo o aleitamento materno exclusivo até o final do sexto mês, incluindo um comentário final de que essa orientação era exclusivamente baseada em evidências e isenta de conflitos de interesses.
Atualmente seguem como mais recomendadas as orientações da OMS: introdução da alimentação complementar a partir do início do sétimo mês até o final do primeiro ano. O principal embasamento para esta orientação é que as necessidades nutricionais aumentam com a idade nos primeiros dois anos de vida e as calorias fornecidas pelo leite materno passam a ser insuficientes.
Quanto à oferta ideal para introdução dos alimentos tidos como "alergênicos", são feitos de acordo com cada caso, com base em históricos de alergias alimentares familiares.
Alimentos como ovo, peixe e glúten terão menor fator alergênico se introduzidos no período da "janela imunológica". Não temos evidência na literatura que se introduzirmos o glúten, peixe ou ovo depois do primeiro ano de vida diminuiremos o risco de alergia.
Alimentação com base na janela imunológica
- Glúten: indicado a partir dos seis meses. O risco de desenvolvimento de doença celíaca se eleva com a introdução de alimentos contendo glúten antes dos três meses ou após os sete meses em bebês geneticamente predispostos. A introdução precoce ou tardia pode estar associada com risco elevado de diabetes tipo 1. O glúten é um alimento presente nos cereais, especialmente no trigo
- Peixe: indicado a partir dos seis meses. Se introduzirmos antes dos nove meses do bebê o risco de a criança desenvolver dermatite cai 24%. Peixes indicados são: tilápia, badejo, pescada e robalo
- Ovo: indicado a partir dos seis meses. O risco de alergia ao ovo aumenta 1,5 vezes quando ele é introduzido após os nove meses e três vezes quando é introduzido após um ano do bebê.