Com mais de 40 anos de experiência, Dr. Paulo Chaccur é formado pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo. I...
iO cansaço é um sintoma presente e até comum após a realização de diversos procedimentos cirúrgicos, especialmente cardíacos. Isso se deve a uma série de fatores vinculados ao desgaste emocional e físico, como estresse, receios, preocupações, a ansiedade gerada nos dias que antecedem a cirurgia, a própria agressão do procedimento e a recuperação pós-operatória.
No caso de intervenções cardíacas é preciso enfatizar ainda um aspecto distinto de outras cirurgias: o emprego do coração-pulmão artificial, chamado de circulação extracorpórea, que interfere na recuperação, desencadeando a fadiga com mais intensidade do que em outros tipos de cirurgia. Nesse caso, a explicação se dá em dois fatores: a reação inflamatória decorrente do procedimento e a possível anemia pós-operatória.
A reação inflamatória ocorre, sobretudo, devido ao tempo de circulação extracorpórea, ou seja, quanto maior o tempo da utilização do coração-pulmão artificial, mais intensas podem ser as reações do organismo. É possível que a pessoa apresente ganho de peso devido ao edema (inchaço) dos tecidos, o que também favorece a fadiga neste período. O sintoma, porém, deve desaparecer com a completa recuperação.
Já a anemia, outro fator que contribui para o cansaço no pós-operatório, é uma consequência da perda de sangue que ocorre durante a cirurgia. É frequente que pacientes que apresentavam níveis de hemoglobina no sangue ao redor de 13 gr/dl, 14 ou mais cheguem a 9 gr/dl ou até menos. Valores de referência da hemoglobina: homens: 14 a 18 g/dL; mulheres: 12 a 16 g/dL; grávidas: 11 g/dL.
Coração debilitado, corpo cansado
O coração é o órgão que garante a circulação do sangue por todo o corpo. Quando passa por uma intervenção cirúrgica, até a sua total recuperação, precisa trabalhar com certo esforço para garantir seu pleno funcionamento.
Por isso, quanto maiores forem as alterações que afetem a sua condição, ou seja, seu trabalho de bombeamento, mais o corpo apresentará cansaço físico, uma vez que o órgão será mais exigido.
Fadiga e o coração
Vale destacar também que, de modo geral, na cardiologia a fadiga é frequente - e não apenas no pós-cirúrgico. Muitas pessoas sentem cansaço, normalmente em conjunto com falta de ar e fraqueza, em decorrência de uma insuficiência cardíaca, da doença arterial coronária ou de uma disfunção miocárdica. Diante desses quadros, os pacientes são tratados cirurgicamente e apresentam melhora ou a ausência do sintoma após o procedimento.
A fadiga, porém, pode persistir em alguns casos de pacientes cardíacos. Essa permanência por um período mais longo está geralmente associada a uma sequela miocárdica residual, que deve ser tratada com medicamentos para diminuir a intensidade.
Processo de recuperação
É, portanto, frequente tanto no pré quanto no pós-operatório da cirurgia cardíaca a presença da fadiga. Pacientes, após intervenção, tendem a experimentar um cansaço que atinge seu pico entre duas a seis semanas.
Tudo vai depender da condição nutricional e emocional pré-operatória, da cardiopatia a ser tratada (com ou sem disfunção miocárdica), do tempo total da cirurgia (principalmente da duração da extracorpórea) e da participação do paciente, que pode minimizar a agressão da cirurgia em seu organismo com uma atitude positiva e colaborativa.
Otimistas têm vantagens
Quando falamos da atitude do paciente, um ponto importante a ser considerado é a aceitação para enfrentar o tratamento ainda no pré-cirúrgico. Há aqueles que, principalmente quando há dor, possíveis sequelas ou limitações físicas, aceitam e desejam o procedimento, em muitos casos, o mais breve possível.
O sentimento associado à confiança da relação médico-paciente gera um bem-estar significativo apesar da apreensão do tratamento.
O fato é que se o paciente compreende a necessidade da cirurgia e atua positivamente, querendo ficar bem e continuar sua trajetória de vida, as situações de dificuldades ou limitações no pós-operatório são consideradas como pequenos obstáculos ou contratempos - e a endorfina liberada nesse período diminui o potencial de dor e a necessidade de analgésicos.
Dizemos que o paciente tem uma postura colaborativa ao não colocar foco nas limitações e dores, mas sim na recuperação e melhora de seu quadro. Em casos assim, passados entre cinco e sete dias de internação, já é possível que a pessoa apresente peso corporal igual ao da internação, reduzindo o cansaço e tornando viável efetuar as atividades de fisioterapia necessárias para a recuperação.
Com o passar dos dias e com refeições adequadas, ocorrerá a correção da anemia, melhorando gradativamente o sintoma de fadiga.
Pessimismo só piora o quadro
Já as pessoas que apresentam pensamentos negativos e atitudes menos colaborativas têm propensão a sentir mais dores, limitações e dificuldades de recuperação. A pessoa que tem uma postura negativa se comporta de forma totalmente oposta à mencionada anteriormente. Ou seja, na menor dificuldade já enxerga um grande obstáculo a ser transposto no pós-operatório. Tudo acaba se tornando um problema e a dor fica ainda mais evidente.
Outra diferença também observada nos casos de intervenção cirúrgica é a maneira das pessoas encararem o risco: quando informamos que o risco da cirurgia é de 1%, o indivíduo otimista diz "que bom, eu tenho 99% de chance de ter sucesso e sair bem". Já o pessimista foca e enfatiza sempre no risco, mesmo que ele seja de apenas 1%. A atitude, portanto, também importa!