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Quando uma mulher fica grávida, ela entra em um universo rico em informações. É um momento de muita exploração, autoconhecimento e aprendizado. Com a chegada do recém-nascido, a amamentação é uma pauta frequente na vida dela e, com isso, dúvidas, autocobrança e inseguranças podem surgir nesse período.
O leite materno, por ser o primeiro alimento do pequeno, é um composto rico em nutrientes com anticorpos que ajudam no desenvolvimento desse ser que acabou de chegar ao mundo. Mas o processo de amamentação nem sempre é um mar de rosas. Mariana Neves (nome fictício), 34, mãe de um menino de um ano e dois meses, tinha uma vontade tremenda de amamentar desde que soube da gravidez. Por saber de todos os benefícios do aleitamento, sua vontade crescia a cada segundo. Porém, as coisas não foram tão fáceis assim.
"Como mãe, eu queria muito aquele momento com o meu bebê, um momento só nosso. Me atentava à pega, à posição certa, aos horários. Com mais ou menos três dias de vida, meu bebê chorou uma madrugada toda, mesmo eu dando o peito por diversas vezes, não saía uma gotinha de leite", relata.
Mesmo com o coração apertado, Mariana aceitou o conselho de sua mãe para dar uma mamadeira com fórmula e somente assim o bebê dormiu e se acalmou. "Era desesperador vê-lo chorar e estar de mãos atadas e, por isso, mantivemos o aleitamento artificial com orientação médica, mas sem deixar de tentar amamentá-lo", conta.
Kamille Deus, 29, mãe de duas crianças, uma menina de 11 anos e um menino de dois anos e quatro meses, amamentou a primeira exclusivamente no peito até dois meses e meio, mas depois também precisou entrar com fórmula intercalando com as mamadas. A partir de quatro meses não saía mais leite da mama e ela precisou alimentar sua filha somente com a fórmula.
Por ter sido mãe nova, aos 19 anos, ela ouviu muitos palpites e julgamentos desmotivadores como: 'você não tem paciência de amamentar sua filha' ou 'é mais fácil dar mamadeira, mãe de verdade dá o peito'. "Cada palavra ouvida era uma facada. Fosse de pessoas mais distantes ou próximas, cada frase ficava gravada e amamentar se tornou um ato doloroso, não fisicamente, mas enquanto ela mamava o pouco de leite que tinha, eu chorava pensando que a culpa era minha", relembra Kamille.
A notícia da segunda gravidez veio junto com uma nova esperança de que finalmente tudo seria diferente. No meio do caminho, porém, ela sofreu um aborto espontâneo, mas um tempo depois chegou a confirmação que tanto esperava: grávida. O recém-nascido mamou já na primeira hora de vida. Kamille respirou aliviada ao ver o filho mamando a cada duas horas nas primeiras três semanas. Já na quarta, o intervalo diminuiu e o bebê ficava mais irritado.
Até que outro episódio a desestabilizou muito. "Ele mamava, sugava e chorava. Chorava para valer. Comecei a pensar se estava saindo leite. E, sem querer acreditar, deixei meu filho aos berros com a minha mãe e corri para pegar a bombinha de extrair leite. Juntando os dois seios, eu extraí menos que 10 ml. Eu só pensava: 'de novo não'. Aconteceu de novo mais tarde no mesmo dia".
A pediatra indicou fórmula apenas quando isso acontecesse e orientou quanto ao processo de relactação com seringa e uso de hormônio para estimular o leite. Duas semanas tentando, os episódios de falta de leite começaram a ficar cada vez mais frequentes. "Continuamos estimulando de várias maneiras, mas o resultado foi que com um mês, começou o complemento intercalado. Com três meses, meu filho largou o peito que estava cada vez mais vazio. Nessa fase, levava o dia inteiro para encher um pouco e ele mamar à noite".
Desde a primeira gestação, quando notou a dificuldade em amamentar, Kamille fez de tudo para estimular a produção de leite. "A pediatra falava para estimular bastante com banho de água quente entre cada mamada, alimentação correta e muita água, e eu seguia à risca cada orientação. Mas a produção de leite foi caindo, até esgotar", ressalta.
Para Mariana não foi diferente. Como seu sonho era um dia poder amamentar, compartilhava com o marido a frustração de não conseguir realizá-lo e ambos não desistiram de buscar meios para reverter a situação. "Não nos demos por satisfeitos, buscamos ajuda para entender o que estava acontecendo e aprendemos diversas técnicas para estimular a amamentação, mas sem sucesso em nenhuma delas".
A fim de aumentar a produção de leite, Mariana tentou de tudo, crendices populares, uso de todas as técnicas que foram orientadas pela médica, posições que pudessem favorecer a amamentação e uso de medicação com orientação médica. Tudo isso para incentivar o pequeno a largar de vez a mamadeira e sentir-se saciado apenas com o leite materno.
"Cada vez mais a ansiedade aumentava, assim como a cobrança a mim mesma e a sensação de impotência. Nada dava certo e, aos poucos, fui deixando essas técnicas de lado, optando por estimular a pouca produção de leite colocando-o primeiro para mamar antes de oferecer a mamadeira. Se mamava por cinco minutos era muito, chorava desesperadamente e aquilo me dava um aperto enorme no peito. Me sentia tão frustrada. Várias vezes ao dia tirava leite com a bombinha e lhe dava, mas eram raras as vezes que tinha quantidade para uma mamada completa, então eu completava sempre com a fórmula", recorda.
Ela fez isso por mais ou menos quatro meses, quando a quantidade de leite diminuiu drasticamente e ela resolveu parar de ordenhar, pois não conseguia mais produzir leite e seu filho mamava apenas a fórmula. "Ordenhar e sair pouco leite era uma tortura, uma dor física e emocional. Aos poucos, ao ver meu bebê crescendo saudável, com bom ganho de peso, fui aceitando que não era menos mãe do que aquelas que amamentavam", completa.
Não desestimule uma mãe
O leite materno de fato é o alimento mais recomendado para o bebê, mas a produção desse leite pelo corpo pode variar de uma mãe para outra. De acordo com a pediatra Mônica Carceles Fráguas, neonatologista do Hospital e Maternidade Pro Matre, medo, insegurança e estresse são alguns fatores emocionais que podem atrapalhar a produção de leite.
Portanto, soltar comentários e opiniões maldosas disfarçadas de "preocupação" pode desestimular uma mãe que está lutando para produzir leite e amamentar seu filho. Um episódio marcante na vida de Kamille foi quando precisou levar o segundo filho ao pronto-socorro e ao dizer que com quatro meses o menino não mamava a médica desdenhou da situação. Ela tentou explicar que seu filho tinha desmamado porque ela não estava mais produzindo leite para sustentá-lo. "Besteira. Era só ter estimulado. Não existe baixa produção de leite. Você que não estimulou. Se tivesse amamentando, não estaria aqui agora", disse a médica.
Vale ressaltar que a baixa produção de leite existe e é relativamente comum. Diversas alternativas podem ajudar a estimular a produção, mas cada corpo funciona de uma maneira diferente e, para algumas mulheres, as técnicas podem sim funcionar - e para outras não. Segundo a ginecologista Carolina Curci, colaboradora da Lansinoh, a mãe pode apresentar uma certa dificuldade, demorar para ter a descida do leite, e isso pode colaborar para gerar um fator de estresse. "A mulher não é um estoque de leite, e sim uma fabriquinha de leite".
Mesmo depois de tentar todas as possibilidades para estimulação do leite, a melhor solução é introduzir fórmula. "Quando o bebezinho não estiver ganhando peso, o pediatra vai falar que está na hora de introduzir fórmula, então introduza 10ml, 20ml, 30ml e o restante fique na mama", indica a ginecologista. Isso deve ser feito sempre com orientação médica para notar a evolução do caso.
Introduzir fórmula ao invés de amamentar pode gerar uma certa culpa e quebra de expectativa por parte da mãe. Por isso, o auxílio de um bom profissional da saúde é primordial nesse período. "Tudo o que passei, tudo o que eu senti e ouvi, eu demorei muito para assimilar e perceber que a culpa não era minha. A pediatra do caçula foi um anjo neste processo de entendimento. Sem julgamentos, com muito conhecimento e orientação, ela me ajudou a enxergar que o meu corpo trabalhou o quanto pôde, mas chegou no seu limite", conta Kamille.
Uma mãe não é menos mãe por não conseguir amamentar, cada uma deve entender o seu processo e tirar todas as dúvidas com um especialista de confiança. "Precisamos orientar essa mãe, acolher essa mãe, ver quais preocupações ela tem, se realmente tem alguma coisa impedindo ela de amamentar, isso é super importante", ressalta a médica Carolina Curci.
O apoio familiar também é essencial nesse processo. "Lutei com o apoio incondicional do meu esposo para amamentar nosso filho e, mesmo dando a mamadeira, aquele era ainda um momento só nosso, e isso não fazia com que houvesse menos amor e dedicação que o ato de amamentar", afirma Mariana.
Não há espaço para julgamentos
Tudo que uma mãe precisa quando está passando pela fase de amamentação é de apoio da família, dos amigos e dos profissionais da saúde. Julgamentos não vão ajudar aquela mãe que se vê encurralada tentando alimentar seu filho, muito pelo contrário, eles podem acabar piorando a situação.
"Muitas vezes as pessoas não entendiam e questionavam meu desejo insistente de amamentar. Acabavam por me desincentivar, me deixavam mais nervosa e me sentindo incapaz. Ouvi diversas vezes para acabar com as tentativas de fazer ele mamar no peito, de tirar na bombinha e ficar apenas com o aleitamento artificial, afinal 'era mais fácil'. Ao meu ver, amamentar não é um processo fácil, é um aprendizado para a mãe, família e para o bebê. Ter com quem contar nesse momento é fundamental, palavras positivas e apoio podem fazer toda a diferença", aconselha Mariana.
"Hoje, não posso dizer que superei totalmente não ter amamentado como gostaria. Foi frustrante na época e confesso que ainda é um pouco, ficou um certo ressentimento. Eu ouvi muita coisa ruim. Mas a culpa? Ah, ela se foi há tempos. E ficou apenas a gratidão pelos meus filhos serem saudáveis, porque no final é isso: só eles importam", completa Kamille.
O que não falar para uma mãe que não consegue amamentar
"Você não vai conseguir amamentar mesmo porque não tem bico"
"Seu peito é pequeno, você não vai conseguir amamentar"
"Seu peito é grande, como você não consegue amamentar?"
Mesmo que o corpo se prepare para uma gestação e para o nascimento de um ser, cada um possui suas particularidades. Portanto, não é correto assimilar o formato da mama com a baixa produção de leite. Segundo a pediatra Mônica Fráguas, uma mama grande não significa que produz mais leite do que uma mama pequena, por exemplo. O mesmo vale para o bico do peito.
"Melhor dar complemento porque ele não vai mamar"
Esse tipo de frase pode desincentivar a mãe de estimular a produção de leite, por isso, não é legal de ser falada, visto que essa atitude deve ser tomada com amparo médico a fim de encontrar melhores soluções para essa mãe que está tendo dificuldades na amamentação.
"Acho que o seu bebê está passando fome"
Essa frase pode machucar muito uma mãe que não está conseguindo amamentar. Afinal, que mãe gostaria de ver seu filho passando fome? Além disso, desesperar uma mãe que já está insegura com a amamentação não é a melhor opção. O peso e saúde do bebê devem ser monitorados pelo médico pediatra e somente ele poderá trazer alternativas eficazes para a alimentação do pequeno.
"Acho que o seu bebê está passando fome"
"Você não amamenta seu filho porque não quer, você tem medo"
O medo de amamentar é a realidade de muitas mulheres e não deve ser usado em uma frase para diminuir a mãe. "Às vezes em uma conversa já dá pra entender a mãe, porque o medo pode vir da dor ou do medo de ficar presa naqueles horários ou de ouvir relatos de outras mães que sentiram dor e dificuldade para amamentar. Isso acaba projetando um certo receio na hora de amamentar", esclarece a pediatra Mônica Carceles Fráguas. Dessa forma, em casos de medo de amamentar, a médica indica associar o tratamento pediátrico com acompanhamento psicológico, para entender de onde está vindo esse sentimento e se é um trauma.
"Eu consigo amamentar meu bebê perfeitamente e ainda dar conta de tudo"
Esse tipo de frase gera comparações desnecessárias que são ainda mais frequentes no pós-parto. Evitar falar essas coisas para uma mãe que está com dificuldades de amamentar é importante, afinal, não é justo comparar a sua realidade com a de outra pessoa. A ginecologista Carolina Curci indica manter por perto aquelas pessoas que querem o seu bem e do seu bebê, familiares, amigos e médicos devem ser sua base de apoio para evitar comparações injustas.