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As crianças têm mais chances de adquirirem o vírus do Covid-19 através de adultos do que de transmitirem o vírus adiante. Isso é o que aponta o estudo coordenado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), pela Universidade da Califórnia (EUA) e pela Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres.
A pesquisa sobre a transmissão do Covid-19 foi realizada na comunidade de Manguinhos, zona Norte do Rio de Janeiro, em setembro de 2020, e mostra que todas as crianças que testaram positivo para o coronavírus (Sars-CoV-2) haviam tido algum contato com adultos ou adolescentes que já apresentavam sintomas do vírus.
O estudo, coordenado por Patrícia Brasil, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, recrutou e analisou 667 pessoas no Centro de Saúde Germano Sinval Faria (GSFHC). Foram 323 crianças de 0 a 13 anos, 54 adolescentes de 14 a 19 anos, e 290 adultos.
Os resultados foram publicados na revista Pediatrics, da Sociedade Americana de Pediatria.
Transmissão de Covid-19 entre as crianças
Os pesquisadores visitaram as crianças que testaram positivo e realizaram o teste nos demais residentes da casa, independente da presença de sintomas. Entre as 323 crianças, 41 testaram positivo para o coronavírus na primeira visita pelo exame de RT-PCR e quatro durante a segunda visita, totalizando 45 crianças.
Todas as crianças identificadas com infecção por SARS-CoV-2 tiveram contato domiciliar com um adulto ou adolescente com suspeita ou que testou positivo para o coronavírus antes de receberem o diagnóstico.
Uma possível explicação apontada pelos pesquisadores seria de que as crianças, na maioria dos casos, são assintomáticas ou pré-sintomáticas e, dessa forma, jogariam menos gotículas e aerossóis no ambiente. Foi observado também que crianças menores de um ano e adolescentes tendem a ter as maiores taxas de infecção e doença sintomática.
Os cientistas também verificaram que, na maioria dos casos, os adultos desenvolveram anticorpos contra a Covid-19 antes das crianças, comprovando que a transmissão partia deles.
"Os adultos que testaram positivo eram mais vulneráveis à Covid-19, pois mantiveram suas atividades de trabalho na linha de frente, ficando expostos a um grande número de pessoas durante toda a pandemia", aponta a pesquisa.
Efeitos da flexibilização do isolamento
Ao longo do estudo, os cientistas analisaram os efeitos do isolamento social e como a exposição de certos grupos, bem como a flexibilização do distanciamento social, podem ter afetado a transmissão do coronavírus entre adultos e crianças. "Os adultos podem ser propagadores mais importantes porque continuaram a trabalhar fora de casa, enquanto as escolas foram fechadas no início da pandemia e permaneceram fechadas ao longo do estudo."
A pesquisa indica que embora as escolas continuassem fechadas, em meados de agosto de 2020, outras regras de distanciamento social foram flexibilizadas no Rio de Janeiro e os comércios foram reabertos, aumentando a exposição entre adultos e a chance de serem os verdadeiros "vetores" da infecção por Covid-19.
No entanto, a coordenadora Patrícia Brasil ressalta que os dados da pesquisa se referem a um momento diferente da pandemia, quando a variante mais transmissível, e hoje dominante, do coronavírus (P.1), ainda não havia surgido. O isolamento social também era maior do que o atual.
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