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Devido à pandemia causada pela COVID-19, muitas questões surgiram em torno dos riscos que o coronavírus poderia causar em grávidas e puérperas, que foram incluídas no grupo de pessoas mais vulneráveis à infecção provocada pelo SARS-CoV-2. Assim, o medo de engravidar durante esse período se tornou algo comum entre muitas mulheres, como demonstrou uma pesquisa realizada em março deste ano.
O resultado da insegurança com uma gravidez no contexto da pandemia acabou refletindo também nos números recentes divulgados pelo Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde. De acordo com o órgão, em 2020, nasceram 2.687.651 bebês, em comparação a 2.849.146 em 2019. O número, que reflete uma queda de 5,66%, é o menor desde 1994.
O impacto no número de crianças nascidas é ainda maior que o causado pela epidemia de zika vírus, que ocorreu no país entre 2015 e 2016. Um estudo realizado pela Universidade do Texas, nos Estados Unidos, demonstrou o declínio no número de nascimentos no Brasil em cerca de nove meses após o zika vírus ser associado ao surgimento de bebês com microcefalia. Naquele período, a queda de nascimentos foi de 5,3%.
A última vez que o país registrou números tão baixos de recém-nascidos foi em 1994, quando 2.571.571 bebês nasceram.
Segundo os dados analisados mês a mês, as maiores quedas percentuais ocorreram em novembro e dezembro, dez meses após a COVID-19 ser confirmada no Brasil. A queda foi de 9% - quase o dobro da média anual.
Hora certa de engravidar
A queda no número de nascimentos em períodos críticos tem se mostrado extremamente comum, mas não significa que se manterá constante. Outros declives já foram observados ao longo da história, em que o contexto não era tão diferente do atual. A recuperação tende a ocorrer após esses momentos de crise, em que as mulheres se sentem confortáveis e seguras o suficiente para terem filhos.
As mudanças e responsabilidades em decorrência da gravidez podem deixar muitas pessoas inseguras, imaginando se o momento escolhido é o mais adequado. O preparo mental e físico da mulher é essencial e pode ser decisivo na hora de determinar o melhor período para engravidar.
Além disso, questões socioeconômicas também impactam diretamente na decisão de adiar ou evitar uma gravidez. A emergência causada pelo vírus zika afetou principalmente mulheres em situação de vulnerabilidade - e num contexto de COVID-19, a situação é semelhante.
Ainda segundo a pesquisa, conduzida pela professora Letícia Marteleto, a confiança das mulheres em sua capacidade de gerenciar o risco de infecção por coronavírus e gravidez durante a pandemia varia dramaticamente de acordo com o status socioeconômico. Dessa forma, espera-se que as mulheres, especialmente as com baixa escolaridade e menor renda, sejam as mais afetadas pelas consequências da COVID-19.