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Crianças de até 3 anos apresentam maior chance de transmitir o novo coronavírus dentro de casa, quando comparadas com adolescentes de 14 a 17 anos. É o que sugere um estudo recente realizado por pesquisadores da Public Health Ontario, no Canadá.
A pesquisa, publicada nesta semana na revista científica JAMA Pediatrics (Journal of the American Medical Association), foi conduzida entre junho e dezembro de 2020 e reuniu dados de 6.280 domicílios canadenses em que a primeira pessoa a contrair o vírus era menor de 18 anos.
Após a infecção, os pesquisadores buscaram casos secundários ou de pessoas que foram infectadas na mesma residência até duas semanas após o primeiro caso de COVID-19.
Do total avaliado, 27,3% (1.717 domicílios) registraram um caso de infecção secundária dentro de casa provocada por uma criança ou adolescente que tinha o vírus. Dos casos primários, bebês de 0 a 3 pessoas representaram apenas 12%. Segundo os achados, a proporção no índice em cada faixa etária aumentou com a idade:
- 0 a 3 anos: 12%
- 4 a 8 anos: 20%
- 9 a 13 anos: 30%
- 14 a 17: 38%
Em contrapartida, a probabilidade de transmissão domiciliar era cerca de 40% maior quando a criança infectada tinha 3 anos ou menos, em comparação com os adolescentes. Assim, o achado coloca em xeque a crença geral de que crianças teriam um papel pequeno na disseminação da COVID-19.
Segundo os autores da pesquisa, os dados não se alteraram independentemente de os casos serem assintomáticos ou não, além da reabertura de escolas ou de surtos nos ambientes escolares. Por outro lado, o estudo foi realizado em um período que não considera o início da vacinação contra a COVID-19, nem a circulação da variante Delta, que tem se mostrado mais infecciosa.
"Embora as crianças não pareçam transmitir a infecção com a mesma frequência que os adultos, os cuidadores devem estar cientes do risco de transmissão ao cuidar de crianças doentes no ambiente doméstico. Como é desafiador e muitas vezes impossível se isolar socialmente de crianças doentes, os cuidadores devem aplicar outras medidas de controle de infecção sempre que possível, com o uso de máscaras, aumento da lavagem das mãos e separação dos irmãos", concluem ao fim do estudo.
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Vacina para menores de 18 anos
Em um vídeo publicado em junho deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a cientista-chefe, Soumya Swaminathan, explicou por que a vacinação de crianças contra a COVID-19 não é prioridade no momento atual da pandemia, visto que a população adulta ainda não foi completamente vacinada. "Como temos uma quantidade limitada de doses, precisamos usá-las para proteger os mais vulneráveis", declarou a especialista.
Porém, embora não seja a prioridade máxima, a vacinação de crianças contra o novo coronavírus tem o objetivo de reduzir a taxa de transmissão do vírus e, assim, controlar a pandemia. À vista disso, países da Europa e Estados Unidos já iniciaram a imunização de crianças e adolescentes.
No Brasil, por enquanto, o público menor de 18 anos ainda aguarda a liberação para entrar oficialmente no calendário de vacinação contra a COVID-19. Em junho deste ano, a Anvisa autorizou o uso da vacina Pfizer para crianças com mais de 12 anos, após a apresentação de estudos desenvolvidos pelo laboratório fora do país. Até o momento, é o único imunizante no país indicado para essa faixa etária.
Segundo o Ministério da Saúde, a imunização deste grupo irá ocorrer somente após a vacinação de toda a população de 18 anos ou mais com ao menos uma dose. Além disso, terão prioridade os adolescentes com comorbidade - em seguida, as vacinas serão distribuídas aos demais.
Nesta quarta-feira (18), a Anvisa negou, em diretoria colegiada, a permissão para uso emergencial da vacina CoronaVac em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos. A entidade afirmou que os dados apresentados até o momento são insuficientes para caracterizar a eficácia e segurança do imunizante para esse grupo.
O pedido foi realizado há duas semanas pelo Instituto Butantan, que é o produtor nacional do imunizante em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
Na corrida para acelerar a vacinação no mundo inteiro, outros fabricantes de imunizantes, como a Janssen, Moderna e Oxford/AstraZeneca, também iniciaram testes no público pediátrico a fim de verificar a segurança e eficácia das vacinas neste grupo.