Mariana Teixeira Vilasboas, formada em Medicina pela primeira turma da faculdade Pitágoras Montes Claros, fez Residência...
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Os primeiros meses de vida do bebê são um período importante de adaptação quanto aos cuidados com o recém-nascido. Uma das principais preocupações dos pais é quanto à qualidade de sono - e uma das técnicas mais antigas para acalmar o pequeno é o charutinho.
A técnica do charutinho consiste em embrulhar o bebê em uma manta ou cueiro a fim de simular o ambiente uterino onde permanecia aquecido, apertado e seguro, ambiente ideal para um sono tranquilo.
"Quando os bebês estão dentro da barriga da mãe, ficam aconchegados pelo útero. Então, ao enrolá-los com a manta, principalmente os recém-nascidos, eles experimentam a mesma sensação de conforto já conhecida", explica a pediatra Mariana Vilasboas, da Pineapple Medicina Integrativa.
Além disso, a técnica impede o bebê de ter movimentos ainda não coordenados, como reflexos primitivos, que podem assustá-lo e causar uma crise de choro. Todavia, o charutinho não é recomendado devido aos perigos que pode trazer a vida da criança.
Riscos do charutinho ao bebê
Segundo um estudo da Universidade de Bristol, no Reino Unido, o principal risco ao utilizar a técnica do charutinho é que ela aumenta o risco da Síndrome da Morte Súbita Infantil (SMSI), especialmente para os bebês com mais de seis meses. Nessa idade, eles já têm a habilidade de rolar para uma posição que não é segura, segundo Francielle Tosatti, pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
"O risco de morte ocorre devido ao fato de a criança ficar presa na manta, assim, possui menos chances de conseguir se mexer caso algo obstrua o nariz ou a boca durante o sono", esclarece Vilasboas.
O estudo, que foi publicado no periódico médico Pediatrics em 2016, apontou que o hábito também está associado ao aumento das chances de hipertermia, que ocorre quando a temperatura do corpo do bebê sobe excessivamente, e de infecções respiratórias.
Além disso, a Sociedade Norte-Americana de Pediatria alerta os riscos de desenvolvimento de displasia de quadril em bebês que tenham suas pernas enfaixadas de forma muito firme. "O enfardamento das pernas do bebê deve permitir que elas se dobrem para dentro e para fora", orienta a entidade.
Cuidados ao utilizar o charutinho
Caso a mãe precise enrolar o bebê em charutinho devido a alguma necessidade ou indicação médica, existem alguns cuidados que devem ser tomados para garantir a segurança. Segundo Vilasboas, esses cuidados incluem:
- Deitar o bebê sempre de barriga para cima com as costas apoiadas em colchão firme
- Não deixar nenhum cobertor solto no berço, nem o de enrolar o bebê, por aumentar o risco de sufocamento se ele se desenrolar
- A manta precisa estar firme para que a criança não se desenrole e sufoque
- A manta precisa estar frouxa o suficiente a ponto de podermos passar uma mão entre ela e o tórax da criança para minimizar problemas respiratórios e para não pressionar seus quadris e pernas.
Tosatti ainda ressalta que, segundo informações da Academia Americana de Pediatria (APA), o bebê deve ser colocado para dormir de barriga para cima, especialmente se estiver enfaixado, com o intuito de diminuir o risco de morte súbita. Além disso, o bebê deve ser constantemente monitorado para evitar que ele role acidentalmente.
Alternativas ao charutinho
Existem muitas estratégias e métodos para acalmar o bebê e ajudá-lo a dormir. Segundo Cinthia Calsisnki, enfermeira obstetra pela Unifesp, o sling traz benefícios semelhantes ao uso do charutinho, mas de uma forma muito mais segura.
Também conhecido como carregador de bebê, ele consiste em um pano ajustado através de duas argolas, permitindo que a criança fique numa posição confortável e anatômica junto ao corpo da mãe ou pai. Segundo especialistas, o sling mais recomendado é aquele feito de tecido, de preferência de algodão, visto que isso evita que o bebê sinta muito calor.
Outra alternativa segura ao charutinho é o uso de saco de dormir. Por se prender aos ombros da criança, ele permite que ele se mova livremente durante a noite enquanto ajuda no controle da temperatura corporal.
"O saco de dormir tem um espaço limitado, mas não aperta o bebê, deixando o quadril sem impedimentos e mãos e braços livres. Também não representa risco de sufocamento, já que não cobre o rosto do bebê", aponta Mariana Vilasboas.
Como promover um sono seguro e tranquilo ao bebê
Segundo Francielle Tosatti, o uso do ruído branco e sons da natureza, o banho, a shantala e a própria amamentação são métodos que acalmam e ajudam o pequeno a dormir. Mas, para isso, o local também deve ser apropriado.
Todo bebê de até um ano de idade deve dormir de barriga para cima e a superfície deve ser firme. Conforme explica Vilasboas, o lençol usado deve ser de elástico e não deve haver nenhum objeto solto dentro do berço.
"Não é considerado seguro a criança dormir em carrinhos de bebê, cadeirinhas de carro, sofás ou poltronas", acrescenta Vilasboas. O mesmo se aplica ao uso de redes.
Além disso, não devem conter objetos soltos no berço, como travesseiros, colchas, edredons e protetores de berço - pois há o risco de sufocamento da criança caso ela cubra o rosto parcialmente ou totalmente durante o sono. Uma alternativa aos protetores de berço são as telas respiráveis.
Ademais, segundo Mariana Vilasboas, existem outras práticas que podem ajudar o bebê a ter um sono seguro, como:
- Evitar cobrir a cabeça do bebê com cobertores ou mantas e sim ajustar o aquecimento com roupas mais quentes e adequadas de acordo com o clima
- Utilizar o quarto compartilhado reduz em 50% a chance de SMSI. Até um ano de idade é recomendado que os bebês durmam no quarto dos pais, próximos à cama, mas numa superfície separada e apropriada
- O aleitamento materno é considerado fator de proteção contra as mortes súbitas relacionadas ao sono.
"Educação e conscientização da população, sobretudo de pais, profissionais da saúde sobre medidas de prevenção da morte súbita infantil, bem como medidas para realizar o sono seguro, são de suma importância", finaliza a pediatra.
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