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O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), em parceria com o Ministério da Saúde, irá coordenar o projeto de implementação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) Injetável no Brasil. Atualmente, o método é realizado pela ingestão de comprimidos de uso diário. Desta vez, a prevenção contra HIV/Aids poderá ser feita através de seis injeções anuais.
O projeto será financiado pela Unitaid, agência global de saúde ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS), e também será implementado na África do Sul. O anúncio foi feito na última sexta-feira (18), durante seminário conjunto com Brasil e Unitaid, no Instituto de Tecnologia de Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz).
A aplicação será feita através do cabotegravir, principal molécula usada na PrEP de ação prolongada. Ele garante uma proteção de oito semanas contra as infecções pelo HIV por meio de uma única injeção intramuscular e é uma alternativa eficaz para aqueles que não querem tomar comprimidos diários.
No Brasil, o público-alvo do projeto são as populações mais vulneráveis à infecção por HIV: pessoas trans e homens que mantêm relação sexual com outros homens. O diretor de Relações Exteriores e Comunicação da Unitaid, Maurício Cysne, relembrou que o Brasil ainda registra mil novas infecções de HIV e 10 mil mortes anualmente devido à Aids.
Já na África do Sul, o público visado será mulheres jovens e adolescentes, parcelas da população que apresentam taxas elevadas de contaminação. Na região, seis em cada sete novos casos de infecção em adolescentes ocorrem em garotas, enquanto mulheres jovens possuem o dobro do índice de contaminação em relação aos homens jovens.
Alternativa inovadora para o controle da epidemia de HIV/Aids
O PrEP é uma estratégia de prevenção contra o HIV, realizada a partir da administração de remédios antirretrovirais, incluindo Tenofovir e Entricitabina. Esses medicamentos possuem o intuito de proteger pacientes que tenham exposição repentina e contínua ao vírus, mas não é caracterizado como um tratamento.
Não há um tempo exato definido para o início do funcionamento da PrEP. "Em princípio, a pessoa que começa a receber essa prevenção medicamentosa já vai desenvolvendo uma proteção contra o vírus", explica Dania Abdel Rahman, infectologista do Hospital Albert Sabin, em entrevista prévia ao Minha Vida.
A especialista também alerta que a prevenção não é 100% garantida e, por isso, não substitui o uso de preservativos nas relações sexuais. Porém, a PrEP diminui as chances da pessoa adquirir o vírus a partir do momento em que teve contato com ele.
Durante o seminário de anúncio do projeto de PrEP Injetável, Cysne, diretor explicou que a ideia é integrar o cabotegravir aos programas nacionais de saúde, gerando dados que apoiarão a implementação do medicamento a nível global.
Já Carmen Pérez Casas, gerente técnica sênior do Departamento de Estratégias da Unitaid, afirma que é necessário assegurar um amplo acesso ao cabotegravir de longa duração, batendo a meta da ONU de alcançar 95% das pessoas com risco de infecção em 2025
Além de aumentar a abrangência da prevenção contra o HIV, a PrEP injetável também é considerada uma solução para os usuários que enfrentam obstáculos para tomar pílulas regularmente, o que reduz a eficácia da PrEP oral. Isso porque o novo método ajuda a mitigar o medo de que os comprimidos sejam interpretados como tratamento do HIV, fazendo o usuário sofrer com estigmas, discriminação e, até mesmo, violência.
A iniciativa faz parte do Projeto Para Implementação da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (ImPrEP). Segundo uma pesquisa virtual feita com o público-alvo do programa, o interesse pelo uso de um medicamento injetável para a prevenção do HIV subiu de 42% em 2018 para 75% em 2021 no Brasil. Esse dado indica que a adesão ao cabotegravir pode ser positiva.