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A queda na vacinação contra a poliomielite no Brasil vem preocupando as autoridades sanitárias e já levanta o alerta para a possibilidade do surgimento de novos casos de infecção pelo vírus. Segundo dados oficiais, o país não tem registros da doença desde 1989.
Informações divulgadas recentemente pelo Ministério da Saúde indicam que a cobertura vacinal com três doses contra a pólio foi de apenas 67,71% em 2021 - atingindo o menor patamar desde 2018, quando a taxa ficou em 89,54%.
De acordo com o Programa Nacional de Imunizações (PNI), a taxa de imunização completa, com mais dois reforços aos quatro anos de idade, foi ainda menor: apenas 51,84%. No Nordeste e no Norte do país, o cenário é mais preocupante, já que o percentual para a imunização completa é de apenas 42% e 44%, respectivamente.
Diante do cenário, o Brasil foi classificado como de alto risco para a volta da doença pela Opas (Organização Panamericana de Saúde). A avaliação feita pela organização leva em conta fatores como vigilância sanitária, condições de enfrentamento para um possível novo caso e a cobertura vacinal.
A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que os países implementem medidas para aumentar a cobertura de vacinação contra a pólio para 95%. Em outubro do ano passado, o Ministério da Saúde chegou a realizar um webinário reforçando a importância de vacinar crianças menores de cinco anos de idade contra a pólio, como um esforço para aumentar a cobertura vacinal.
Casos recentes em Israel e Malawi
Além da situação preocupante no Brasil, no início de março, uma menina de três anos foi diagnosticada com pólio em Jerusalém, capital de Israel. De acordo com o Departamento de Saúde do país, a criança não estava vacinada e não se sabe a origem do vírus.
Na mesma época, outros seis casos de pólio foram registrados na região de Jerusalém em pessoas não vacinadas, totalizando sete ocorrências. O país não registrava um novo caso de poliomielite há mais de 30 anos.
Em fevereiro, o Malawi, na África, identificou um caso de poliomielite selvagem em uma menina de três anos. Foi o primeiro episódio novo da doença desde 1992. Em 2020, a região havia sido certificada como livre da enfermidade. Assim, esse cenário global reforça o alerta em relação à baixa vacinação contra a doença no Brasil.
Por que a cobertura vacinal está em queda?
Desde 2020, o Brasil não atinge sua meta de cobertura vacinal de todos os imunizantes oferecidos pelo PNI. O ideal é fechar essa cobertura acima de 90%, mas a taxa no ano de início da pandemia de COVID-19 foi de apenas 75%. Em 2021, esse percentual foi ainda menor, de apenas 60,7%.
Além da vacinação contra a poliomielite infantil, a vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola (pela vacina tríplice viral) também registrou queda: de 86,2% em 2017, o número passou para 71,4% em 2021. E a imunização contra o rotavírus também registrou queda: de 86,3% em 2012 para 68,3% em 2021.
Um dos motivos para isso, segundo especialistas, é a própria pandemia de COVID-19. Durante o auge dos casos da doença no Brasil e devido ao isolamento social, muitos pais evitaram levar seus filhos a um posto de saúde ou clínica para a imunização, por receio de contrair o coronavírus.
Porém, como essa queda vem acontecendo há cerca de dez anos, a pandemia por si só é apenas uma das razões que podem explicar o não atingimento da meta. O movimento antivacina e a disseminação de fake news sobre o tema também podem explicar essa redução.
Vacinação contra a poliomielite no Brasil
A poliomielite é uma doença contagiosa causada por um enterovírus chamado poliovírus. Existem dois tipos de pólio: a paralítica e a não paralítica. A infecção pode ocorrer de pessoa para pessoa, via fecal-oral, por meio de alimentos, objetos ou água contaminados, ou através de gotículas de secreções da fala, tosse ou espirro.
O vírus, após contraído, se dissemina pela faringe e intestino de uma a três semanas, sendo excretado pela saliva e pelas fezes. Após passar pela garganta e pelo trato intestinal, o agente pode alcançar a corrente sanguínea e chegar ao cérebro. Ao atacar o sistema nervoso, a infecção destrói os neurônios motores e provoca paralisia nos membros inferiores.
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Atualmente, a única forma de prevenir a doença é através da vacinação. Neste contexto, existem dois tipos de imunizantes contra a poliomielite:
- Vacina Oral Poliomielite (VOP): vacina oral (gotinha) atenuada bivalente, composta pelos vírus da pólio vivos, mas enfraquecidos
- Vacina Inativada Poliomielite (VIP): vacina trivalente e injetável, composta por partículas inativas dos vírus da pólio.
A imunização contra a poliomielite deve ser iniciada a partir dos 2 meses de vida, com mais duas doses aos 4 e 6 meses (com aplicação da VIP), além dos reforços entre 15 e 18 meses e entre 4 e 5 anos de idade (com aplicação da VOP), nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). A campanha de vacinação é anual.
Além disso, vale reforçar que, com o retorno presencial das aulas, é ainda mais importante manter a carteirinha de vacinação atualizada. Isso porque a vacinação incompleta pode abrir janelas para surtos de doenças graves, como aconteceu em 2018 com o sarampo, quando 10 mil casos da doença, que já havia sido erradicada no Brasil desde 2016, foram registrados.