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A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que, até esta terça-feira (24), foram confirmados 131 casos de varíola dos macacos em 19 países em que a doença não é considerada endêmica. Outras 106 ocorrências estão em investigação.
Para a organização, apesar do surto ser incomum, a transmissão pode ser contida. Para isso, a OMS convocou novas reuniões para apoiar os Estados membros com mais informações sobre como lidar com a doença e com a sua transmissão.
A doença, que é endêmica na região da África Ocidental e da África Central, tem gerado preocupação de autoridades e levantado alerta após a primeira infecção no Reino Unido, relatada no dia 7 de maio.
Desde então, a varíola dos macacos foi notificada nos seguintes países: Espanha, Itália, Portugal, Austrália, Bélgica, França, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Holanda, Suíça, Suécia, Áustria, Israel, Dinamarca, Eslovênia, República Tcheca e Emirados Árabes Unidos.
O primeiro caso europeu foi confirmado em um indivíduo que havia viajado à Nigéria, onde a doença é endêmica. Porém, casos posteriores não apresentaram relação com viagens a países africanos. Esse fato tem reforçado a preocupação de que o vírus esteja se espalhando de forma comunitária.
No Brasil não há casos notificados até o momento. Porém, a primeira infecção por varíola dos macacos na Alemanha foi identificada em um paciente brasileiro de 26 anos. Ele havia viajado para Portugal e Espanha antes de chegar ao país.
O que é a varíola dos macacos?
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a varíola dos macacos é uma doença causada pelo vírus monkeypox, transmitida por gotículas, fluidos corporais, contato com lesões na pele ou com objetos contaminados. Apesar do nome, o reservatório animal da doença ainda é desconhecido, embora haja teorias de que esteja entre os roedores.
A doença foi descoberta em 1958, quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em colônias de macacos mantidas para pesquisa — o que explica a origem do nome. O primeiro caso humano foi registrado em 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, a varíola dos macacos foi relatada em outros países da África Central e Ocidental.
Em humanos, os sintomas da varíola dos macacos são semelhantes aos da varíola humana, que já foi erradicada: febre, dor de cabeça, dor muscular e fadiga intensa. Porém, a principal diferença está no inchaço dos linfonodos (linfadenopatia).
Além disso, entre um e três dias após o surgimento da febre, o paciente desenvolve lesões na pele, caracterizadas por serem peroladas e cheias de líquido. A doença geralmente dura de duas a quatro semanas, segundo o CDC.
É possível acontecer uma pandemia de varíola dos macacos?
O aumento de casos de varíola dos macacos em países não endêmicos tem causado preocupação entre OMS e autoridades sanitárias. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma nota nesta terça-feira (24) recomendando a adoção de medidas de proteção em aeroportos para adiar a chegada da doença no Brasil.
"Tais medidas não farmacológicas, como o distanciamento físico sempre que possível, o uso de máscaras de proteção e a higienização frequente das mãos, têm o condão de proteger o indivíduo e a coletividade não apenas contra a Covid-19, mas também contra outras doenças", diz a nota.
O Ministério da Saúde informou ao portal G1 que instituiu na última segunda-feira (23) uma Sala de Situação para monitorar o cenário da monkeypox no país. Disse, também, que encaminhou a todos os estados o Comunicado de Risco sobre a patologia, com orientações aos profissionais de saúde e informações disponíveis até o momento sobre a doença.
Apesar disso, especialistas consideram que uma pandemia a nível da COVID-19 é improvável de acontecer. “Não precisamos entrar em pânico e acredito que o monkeypox não possa causar uma pandemia nos moldes da COVID-19”, considera Giliane Trindade, professora do departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB-UFMG) e integrante da Câmara Técnica Temporária do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), grupo de cientistas criado para acompanhar os desdobramentos dos casos recentes de varíola dos macacos.
“O Sars-Cov-2 tem uma série de características que fizeram dele um patógeno de muito sucesso em transmissão, o que não é o caso do monkeypox. Ele não é um vírus tão fácil de ser transmitido e seus sintomas deixam as pessoas bem adoecidas, fatigadas, fazendo com que elas fiquem em casa, diferente do que aconteceu com os casos assintomáticos da COVID-19”, completa a professora, em entrevista ao Minha Vida.
O infectologista José David Urbaez Brito, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), partilha da mesma visão. “Não estamos falando de uma doença com a qual não sabemos lidar. Já faz décadas que ela surgiu e há propostas de tratamento que já funcionam com a varíola humana, mesmo tendo sido erradicada, que podem ser um recurso para a varíola dos macacos”, explica.