Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com especialização em Infectologia p...
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Especialistas do Reino Unido acreditam ter identificado o que está por trás dos recentes casos misteriosos de hepatite em crianças em todo o mundo. Segundo os pesquisadores de Londres, na Inglaterra, e de Glasgow, na Escócia, dois vírus podem estar ligados ao surto: o adenovírus e o vírus adeno-associado dois (AA2).
Além disso, os cientistas descartaram a relação da infecção por COVID-19 ou da aplicação de vacinas contra o coronavírus com os casos de hepatite de origem misteriosa em crianças.
Apesar disso, os pesquisadores acreditam que o isolamento social imposto como medida de contenção do Sars-CoV-2 pode ter feito os bebês serem expostos à infecções mais tarde do que o normal, fazendo com que eles perdessem a imunidade precoce ao adenovírus e ao AAV2.
O que são esses dois vírus e como eles atuam?
O adenovírus é um agente que costuma causar resfriados e dores de estômago e já havia sido apontado como uma das possíveis causas do surto de hepatite misteriosa.
"Esse é um vírus que, como qualquer outro, tem capacidade mutante. O que tem sido dito é que pode ter surgido uma nova cepa que tenha tropismo (fenômeno biológico que orienta o crescimento de um organismo) pelo fígado, gerando um quadro de hepatite", comentou Marcelo Neubauer de Paula, infectologista e médico acupunturista do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA) em entrevista prévia ao MinhaVida.
Segundo o pediatra Pedro Cavalcante, especializado pelo Instituto da Criança da Universidade de São Paulo (USP) e médico de família, o adenovírus pode comprometer o sistema gastrointestinal, afetando, inclusive, o fígado.
Já o AAV2 não costuma causar doenças e requer um vírus auxiliar coinfectante para se replicar, o que pode ser o caso do adenovírus. Isso explicaria porque algumas crianças desenvolveram complicações hepáticas incomuns e preocupantes.
Mais estudos são necessários
A professora Emma Thomson, que liderou a pesquisa na Universidade de Glasgow, afirma que estudos maiores precisam ser realizados para investigar o papel do AAV2 em casos de hepatite pediátrica.
“Também precisamos entender mais sobre a circulação sazonal do AAV2, um vírus que não é monitorado rotineiramente”, completa. “Pode ser que um pico de infecção por adenovírus tenha coincidido com um pico de exposição ao AAV2, levando a uma manifestação incomum de hepatite em crianças suscetíveis”, sugere a professora em relatório.
Outra pesquisadora por trás da descoberta, Judith Breuer, da Universidade College London e do Hospital Great Ormond Street, afirma que espera que os resultados tranquilizem os pais preocupados com a COVID-19. “Nenhuma das equipes encontrou qualquer ligação direta com a infecção por Sars-CoV-2”, afirmou em relatório.