Médica dermatologista graduada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Integra o corpo clínico...
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Por muitos anos, tricologistas e dermatologistas receitaram diversas loções e procedimentos cosméticos para a tratar a calvície. Porém, recentemente, o uso de um medicamento tem ganhado popularidade devido aos resultados positivos no que diz respeito ao crescimento e aumento da densidade do cabelo: o minoxidil.
Porém, apesar dos resultados positivos - que já foram evidenciados em estudos -, ainda existe uma controvérsia entre os profissionais de saúde a respeito da indicação do minoxidil para tratar a alopecia androgenética (também conhecida como calvície hereditária). Isso porque o medicamento, na sua forma oral, é, na realidade, indicado para o tratamento de hipertensão arterial.
Mas, afinal, é seguro usar o minoxidil como uma alternativa para a calvície? Confira a seguir todos os detalhes sobre o medicamento e o que dizem os especialistas a respeito dessa outra utilização do remédio.
O que é minoxidil e para que serve?
O minoxidil é um medicamento anti-hipertensivo vasodilatador, ou seja, que dilata os vasos sanguíneos, atuando para reduzir a hipertensão arterial sistêmica. Seu uso está associado ao tratamento da pressão arterial alta e grave, que não se reverte com os medicamentos usuais.
O medicamento foi criado na década de 1970 e, com o passar dos anos, foi possível notar que sua fórmula estimula o crescimento de pelos em várias partes do corpo. Com isso, o fabricante desenvolveu uma loção de uso tópico, capaz de tratar a calvície quando aplicada diretamente no couro cabeludo.
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Entretanto, por ser uma solução que deve ser utilizada por toda a vida, além de deixar o cabelo oleoso, muitos pacientes acabam desistindo do tratamento. Com isso, alguns médicos dos Estados Unidos começaram a testar a administração do minoxidil oral, em dosagens mais baixas, para tratar a calvície.
“Não é uma medicação de primeira linha para esta finalidade, mas devido aos efeitos colaterais de crescimento de fios e pelos no corpo, o minoxidil tem sido utilizado na alopecia androgenética”, explica João Rocha, médico da equipe de Cardiologia do Grupo HealthSculp.
Minoxidil para cabelo: funciona mesmo?
O uso de minoxidil para queda de cabelo, em baixas dosagens em sua forma oral, já foi avaliado por alguns estudos científicos. Um deles, publicado no periódico Dematology and Therapy, analisou a eficácia e segurança do medicamento para o tratamento da alopécia androgenética masculina.
A análise acompanhou 30 homens, entre 24 e 59 anos de idade, que foram tratados com cinco miligramas de minoxidil durante 24 semanas. Segundo os autores, houve um aumento significativo na contagem total de cabelos, com um resultado seguro em indivíduos saudáveis.
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Já outro estudo, desta vez publicado no F1000 Research, avaliou o uso de minoxidil oral no público feminino com diagnóstico de eflúvio telógeno. A pesquisa acompanhou 36 mulheres que foram tratadas com o remédio para hipertensão durante seis meses, diariamente. Segundo os resultados, o minoxidil reduziu a queda de cabelo no período de seis meses de uso do medicamento.
Porém, é importante ressaltar que os autores de ambos os estudos enfatizam que mais pesquisas devem ser realizadas para confirmar esses efeitos. Outro ponto de atenção indicado pelos especialistas é que o uso do medicamento para essa finalidade deve ser controlado e feito somente sob orientação médica.
Minoxidil: como usar?
O uso do minoxidil oral para tratar calvície é feito em dosagens menores do que o tratamento para hipertensão. Enquanto a dose para a pressão alta é de 10 mg por dia, são receitadas de 0,25 mg a 5 mg para tratar a alopecia. A indicação também deve ser feita após o diagnóstico da condição e quando outros tratamentos de uso tópico não apresentaram resultados eficazes.
“Primeiro, precisamos diagnosticar a alopecia androgenética no paciente, indicar o tratamento adequado e, dependendo da resposta, é possível, então, associar o minoxidil oral”, explica a dermatologista e tricologista Simone Neri.
O que os especialistas dizem sobre o minoxidil para cabelo
Apesar dos estudos científicos e da indicação em dosagens menores, o uso de minoxidil para cabelo, em sua forma oral, não é aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador dos Estados Unidos, e nem pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a reguladora no Brasil.
Por isso, existem opiniões divergentes dos profissionais de saúde em relação à recomendação do medicamento para essa finalidade. Recentemente, a Sociedade Brasileira de Tricologia (SBTri) se posicionou contra o uso do minoxidil oral para o tratamento da alopecia.
“O Loniten [nome comercial do minoxidil] é um anti-hipertensivo muito potente, com indicações específicas. Como médico e tricologista, eu o contraindico de forma absoluta”, diz o médico e tricologista Luciano Barsanti, presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia (SBTri) e Diretor Médico do Instituto do Cabelo, em nota oficial.
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Em entrevista ao MinhaVida, Barsanti reforçou seu posicionamento, mesmo quando o medicamento é usado em dosagens baixas. “As pessoas reagem ao medicamento de maneiras diferentes. Além disso, a dosagem deveria variar de acordo com o peso do paciente, mas não é o que acontece. O risco está aí”, afirma.
Por outro lado, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) se posicionou afirmando que o minoxidil oral pode ser indicado para pacientes selecionados com alopecia, desde que feito após uma avaliação médica.
“Seu uso criterioso, isolado ou associado a outras abordagens, ocorre por indicação médica. A avaliação clínica e cardiológica do paciente pode ser necessária previamente ao seu uso. No cumprimento de seu papel, o médico dermatologista fará a indicação, a prescrição e o acompanhamento do tratamento”, diz comunicado oficial da entidade.
A dermatologista e tricologista Simone Neri, que é membro da SBD, concorda com o posicionamento. “É claro que não é para todo paciente que deve ser indicado, mas eu tive pacientes com quadro grave de alopecia androgenética que, mesmo com bloqueador hormonal, não tiveram bons resultados. Com o uso do minoxidil oral, foi obtida uma melhora boa”, comenta.
Minoxidil: efeitos colaterais e precauções
Como qualquer outro medicamento, o minoxidil tem efeitos colaterais associados ao seu uso para tratamento da calvície. De acordo com o médico João Rocha, é possível citar a hipotensão arterial (queda na pressão arterial), acompanhada de mal-estar, tontura, sonolência, náuseas e taquicardia como algumas das reações adversas do uso do remédio oral.
Já o tricologista Luciano Barsanti afirma que, no Instituto do Cabelo, onde realiza cerca de vinte consultas diariamente, atende cerca de três pacientes por dia com efeitos colaterais provocados pelo uso do medicamento para tratar a alopecia.
“Taquicardia, arritmia, tontura, queda da pressão ao se levantar da cama ou cadeira, tudo isso são complicações comuns do uso do minoxidil oral”, comenta. “Também já atendi paciente com zumbido no ouvido que melhorou após a suspensão do uso deste medicamento”, completa.
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Por isso, a avaliação médica antes de começar o tratamento com o minoxidil oral é imprescindível. “Como se trata de um medicamento anti-hipertensivo, se o paciente for cardiopata, o uso não é indicado”, afirma Simone. “Além disso, quando a pessoa apresenta reações adversas, o correto é suspender o uso imediatamente”, reforça.
Além disso, a automedicação deve ser evitada. “Isso é fundamental porque existem várias propagandas de minoxidil oral pelas redes sociais. É importante que as pessoas tomem cuidado, evitem a automedicação e que, se caso recebam uma receita do minoxidil oral, que ouçam a opinião de um cardiologista também”, opina Luciano.
No caso de mulheres que sofrem com alopecia androgenética, um dos principais efeitos colaterais do uso do minoxidil oral é o surgimento de pelos no rosto. “Isso pode ser um incômodo para a mulher, então, sempre costumamos avisar as pacientes antes”, completa Simone Neri.
Se parar de tomar minoxidil, o cabelo volta a cair?
Essa é uma das principais dúvidas a respeito do medicamento, mas a resposta é: depende da causa da queda do cabelo. Segundo a dermatologista Simone Neri, se o paciente sofre com alopecia androgenética, caso haja a suspensão do uso do medicamento, a tendência é que os fios voltem, sim, a ficar mais finos e a cair.
Por outro lado, a especialista aponta que, se por algum motivo, o medicamento for indicado ao paciente com eflúvio telógeno, que é a queda transitória de cabelo, o minoxidil oral pode ser suspenso sem haver prejuízos. Portanto, isso pode variar muito de paciente para paciente.
Além disso, em muitos casos, o medicamento não é indicado para o tratamento de queda capilar transitória - o que reforça ainda mais a necessidade de acompanhamento médico antes, durante e após o uso do remédio.