Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF//MG) em 2002. Residência Médica em Neurologia pela...
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Caracterizada por uma dor de cabeça forte e incapacitante, a enxaqueca é uma doença neurológica e hereditária que afeta severamente a qualidade de vida. As crises podem durar até 72 horas e surgirem por mais de 15 dias no mês, acompanhadas de sintomas como enjoo, vômitos e sensibilidade a luzes, sons e cheiros.
As crises costumam ser controladas a partir da administração de medicamentos analgésicos. Caso não sejam eficientes, o especialista responsável pelo tratamento pode prescrever o uso de triptanos, medicamentos à base de triptamina que apresentam baixa incidência de efeitos colaterais.
De acordo com Leonardo de Sousa Bernardes, neurologista com especialização em Neuro-Oncologia do Hospital Albert Sabin, o tratamento também pode envolver métodos não farmacológicos, como prática de atividades físicas, acupuntura, biofeedback e yoga.
Todavia, nos últimos anos, a implementação da cirurgia para enxaqueca tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil e no mundo — especialmente para pessoas que não apresentam melhora diante das abordagens convencionais.
Criado no início dos anos 2000 pelo cirurgião plástico-americano Bahman Guyuron, o método foi desenvolvido a partir da percepção de que cirurgias estéticas na região frontal e superior da face acabavam tendo como efeito a diminuição dos sintomas da enxaqueca.
Como funciona a cirurgia para enxaqueca?
Em entrevista prévia ao MinhaVida, o neurologista André Felício explicou que os estímulos dolorosos entram no cérebro através de nervos periféricos que partem da pele, dos vasos e das membranas da cabeça e até do pescoço.
Os ramos periféricos desses nervos podem sofrer compressões de estruturas ao seu redor, como músculos e ossos, o que provoca a liberação de substâncias que desencadeiam diversos eventos responsáveis pela inflamação dos nervos e das membranas ao redor do cérebro. Isso causa os principais sintomas de enxaqueca, como dor intensa, náusea e fotofobia.
Nesse sentido, o procedimento consiste em descomprimir dois tipos de nervos associados à sensibilidade: o trigêmeo (é o principal nervo da face e passa pelas regiões de nariz, bochechas, testa, lateral e maxilar) e o occipital (que passa pela nuca e parte de trás da cabeça).
Importante ressaltar que trata-se de uma cirurgia superficial e, portanto, não chega ao cérebro. Atualmente, existem sete tipos de cirurgia para enxaqueca, cada um para uma área em que as dores costumam começar. A origem da dor é o que determina onde será feito o procedimento.
Para quem a cirurgia de enxaqueca é indicada?
A cirurgia para enxaqueca pode ser feita em qualquer paciente que tenha sido diagnosticado por um neurologista e que não respondeu aos tratamentos convencionais. O método também aborda pessoas que sofrem com os efeitos colaterais dos medicamentos ou possuem intolerância a eles.
Nos Estados Unidos, onde a cirurgia é mais popularizada, ela é realizada em universidades, como Harvard. Já no Brasil, o procedimento é considerado experimental pela Academia Brasileira de Neurologia e pela Sociedade Brasileira de Cefaleia. Por isso, neurologistas não podem realizá-lo. No entanto, é importante destacar que o Conselho Federal de Medicina (CFM) não impede a prática.
O preço da cirurgia pode variar entre R$ 5 mil e R$ 50 mil, dependendo da complexidade da intervenção. Ela é feita em hospitais e, na maioria das vezes, exige anestesia geral — podendo durar de 20 minutos até cinco horas. A internação dura apenas um dia e o paciente pode retornar às suas atividades entre dez e 15 dias após o procedimento.
Assim como qualquer procedimento, há risco de sangramento e infecção, além de uma temporária alteração na sensibilidade da região afetada.
Existem outros procedimentos para tratar a enxaqueca?
Os tratamentos para enxaqueca são variados e podem incluir desde o uso de analgésicos até métodos não farmacológicos. A indicação pode variar de acordo com o tipo de enxaqueca e, no geral, tem como objetivo diminuir a frequência e a intensidade das dores ao longo do mês.
Leia mais: Enxaqueca: o que fazer durante uma crise?
Além dos tratamentos já conhecidos, outra abordagem inclui a aplicação de toxina botulínica para enxaqueca, opção autorizada pela ANVISA desde 2011 e que busca reverter o quadro, minimizando a ocorrência de crises.
A técnica inclui a aplicação da toxina em diversas áreas da cabeça e da região cervical, que age como um bloqueador neuromuscular. Ao provocar o bloqueio da transmissão dos estímulos dos neurônios para os músculos, ela impede a contração muscular, o que deixa a região mais relaxada e contribui para o alívio da enxaqueca.
As contraindicações para o procedimento existem para pessoas alérgicas à toxina botulínica, gestantes e pessoas com doenças nas juntas musculares. Pacientes com diagnóstico de infecções ativas também devem evitar o tratamento.