Graduação em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -UNESP. Doutor em Neurologia pela Facu...
iRedatora entusiasta de beleza e nutrição, autora de reportagens sobre alimentação, receitas saudáveis e cuidados pessoais.
iNeurologista e Neuroimunologista de São Paulo, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia. Graduação em Me...
iO que é Enxaqueca?
A enxaqueca é um tipo de dor de cabeça (cefaleia) incapacitante, de origem genética, caracterizada por uma dor pulsante que afeta um ou os dois lados da cabeça. Os sintomas da enxaqueca podem decorrer da sensibilidade a sons, luz e odores e acompanham náuseas, vômito e dores.
Enxaqueca e dor de cabeça: qual a diferença?
De acordo com Tarso Adoni, médico neurologista do Hospital Sírio-Libanês, existem dois tipos de dores de cabeça: a primária e a secundária. A enxaqueca consiste na dor de cabeça primária, no qual a dor de cabeça em si é a doença e a causa do desconforto. É uma dor latejante e incapacitante. Sua crise pode durar, em média, de quatro a 72 horas.
Já dor de cabeça, ou cefaleia do tipo tensional, é a de origem secundária, ou seja, é um sintoma de alguma outra doença ou quadro de saúde que o corpo está manifestando por meio desse desconforto.
É uma dor de cabeça menos intensa, não latejante e sem sensibilidade a outros estímulos. Tende a ser bilateral (atinge os dois lados da cabeça), enquanto na enxaqueca, geralmente, a dor fica localizada em uma só parte da cabeça.
Saiba mais: Dor de cabeça x enxaqueca: entenda as diferenças
Causas
As causas da enxaqueca são desconhecidas, embora se saiba que elas estão relacionadas com alterações do cérebro e possuem influência genética. Já os gatilhos para as crises de enxaqueca variam de indivíduo para indivíduo, sendo que em alguns não há presença de nenhuma causa específica. Entretanto, os gatilhos de enxaqueca mais comuns são:
- Estresse;
- Jejum intermitente;
- Dormir mais ou menos horas do que o de costume;
- Mudanças bruscas de temperatura e umidade;
- Perfumes e outros odores muito fortes;
- Esforço físico excessivo;
- Luzes e sons intensos;
- Abuso de medicamentos, incluindo analgésicos;
- Fatores hormonais (mulheres nas fases pré, durante e pós-menstruação, gerando a chamada de "enxaqueca menstrual");
- Consumo de certos alimentos e bebidas (queijos amarelos, frutas cítricas, carnes processadas, frituras e gorduras, chocolates, café, chás, refrigerantes, excesso de álcool).
Saiba mais: 7 alimentos que podem ser gatilhos para enxaqueca
Como ocorre a enxaqueca?
A enxaqueca começa quando células nervosas, em estado de hiperexcitabilidade, reagem a algum gatilho e enviam impulsos para os vasos sanguíneos, causando sua constrição. Em seguida, ocorre uma dilatação (expansão) e libertação de doses de prostaglandinas, serotonina e outras substâncias inflamatórias que causam a dor.
O padrão de uma crise de enxaqueca é sempre o mesmo, variando apenas em intensidade. O espaçamento entre crises também é variável.
Saiba mais: Enxaqueca: veja gatilhos que desencadeiam substâncias inflamatórias
Tipos
Os tipos de enxaqueca costumam variar entre a enxaqueca com aura e a enxaqueca sem aura. No entanto, ainda existem alguns subtipos, como o de enxaqueca crônica, hemiplégica, retiniana, vestibular e menstrual. Entenda cada um deles:
Enxaqueca com aura
Enxaqueca com aura é a dor de cabeça incapacitante e precedida de sintomas neurológicos, que servem como um aviso de que uma crise de enxaqueca está por vir. Nela o indivíduo vê flashes de luz, manchas escuras em forma de mosaico ou imagens brilhantes em ziguezague - como quando estamos andando em uma estrada e vemos aquelas ondas de calor que emanam do chão.
Enxaqueca sem aura
Nesse quadro, não há sinais neurológicos anteriores à dor de cabeça latejante. É a chamada "enxaqueca comum".
Enxaqueca crônica
A enxaqueca crônica é a dor de cabeça intensa e latejante por 15 dias ou mais durante o mês. No entanto, esse quadro pode ser com aura ou sem aura. O tratamento para enxaqueca crônica é mais complexo, pois se observa um alto consumo de analgésicos por pacientes que sofrem dessa dor tão intensa e persistente - e o abuso de medicamentos pode até mesmo agravar os sintomas.
Enxaqueca hemiplégica
Semelhante a um derrame, os sintomas da enxaqueca hemiplégica podem acompanhar perda de sensibilidade, fraqueza e sensação de pinicar o corpo. No entanto, nesse subtipo de enxaqueca nem sempre ocorre a dor de cabeça e, quando surge, pode durar poucas horas ou alguns dias.
Enxaqueca retiniana
A enxaqueca retiniana é mais comum em mulheres e pode gerar uma perda de visão temporária, podendo durar minutos ou meses. Esse subtipo de enxaqueca pode desenvolver problemas mais graves, por isso é recomendado a procura de um médico/especialista.
Enxaqueca vestibular
Além dos sintomas tradicionais, a enxaqueca vestibular apresenta um quadro com maior foco em tontura e vertigem, podendo aparecer de diversas formas: uma delas é enxergar como se tudo estivesse rodando. A duração dos sintomas desse subtipo de enxaqueca pode variar entre minutos e dias.
Enxaqueca menstrual
Os sintomas da enxaqueca menstrual são semelhantes ao da enxaqueca comum. O que difere esse subtipo de enxaqueca é que ela ocorre durante o período menstrual, geralmente alguns dias antes ou após o início do ciclo. No entanto, o que contribui para o seu surgimento não é nada mais que a redução dos níveis de estrogênio durante o período, também responsável pelos sintomas da TPM.
Sintomas
Os sintomas de enxaqueca mais comuns incluem:
- Crise de dor de cabeça latejante e intensa
- Náusea e vômitos
- Bocejos constantes
- Irritabilidade
- Sensibilidade à luz
- Sensibilidade ao som
- Sensibilidade ao movimento do corpo ou do ambiente
- Tontura
- Fadiga
- Mudanças de apetite
- Problemas de concentração, dificuldade para encontrar as palavras
Fases da enxaqueca
A enxaqueca é dividida em quatro fases: premonitória, aura, dor de cabeça e resolução. Porém, nem todas as pessoas que sofrem de enxaqueca apresentam todas essas etapas - sendo que a maioria já nota os sintomas na terceira fase.
1ª fase da enxaqueca: premonitória (pródromo)
A primeira fase da enxaqueca é chamada de premonitória e apresenta sintomas como fadiga, irritabilidade, depressão, bocejo constante e dificuldade de concentração por cerca de 72 horas (três dias). Esses sintomas aparecem antes da dor de cabeça latejante.
2ª fase: aura
A segunda fase da enxaqueca é definida pela presença de aura - conjunto de sinais visuais, sensoriais, de fala, motores ou outros enviados pelo sistema nervoso central que alertam para um início de enxaqueca.
Os sinais de aura mais comuns são: pontos cegos, manchas coloridas, flashes de luz e cintilações na visão, confusão mental, sensação de formigamento ou agulhamento na cabeça, podendo se espalhar pelo rosto, e fraqueza muscular. A aura tende a durar de cinco a dez minutos, podendo chegar a 60 minutos
3ª fase: dor de cabeça (cefaleia)
A terceira fase é a que mais simboliza a enxaqueca e também a mais incômoda aos pacientes. É percebida devido à dor de cabeça típica, aquela latejante e intensa, podendo durar entre quatro e 72 horas. Costuma ser acompanhada de náusea, vômito e sensibilidade a luz, sons e cheiros.
4ª fase: resolução (pródromo)
A quarta e última fase da enxaqueca é denominada resolução (ou pródromo e até "ressaca"). Nela o paciente apresenta sintomas semelhantes à primeira fase durante o tratamento ou mesmo após curar a enxaqueca. São frequentes as queixas de fadiga, sonolência e dor de cabeça leve por um período de até 48 horas (dois dias).
Diagnóstico
O diagnóstico de enxaqueca é basicamente clínico. O médico neurologista costuma fazer perguntas como:
- Você sente dor em qual lado da cabeça?
- Quais os sintomas relacionados à dor?
- Qual a duração desses sintomas?
- Eles acontecem em ambos os lados do corpo?
- Se são sintomas visuais, como são e em que momento os apresenta?
- Algum desses sintomas aparece antes da dor começar?
- Você tomou algum medicamento para as dores?
- Você faz uso de algum medicamento com frequência?
É normal que seu médico queira ter certeza de que não existem outras causas para sua enxaqueca. Assim, é provável que ele faça exames físicos e neurológicos. Além disso, o médico irá perguntar sobre seu histórico familiar, incluindo questões como:
Saiba mais: Enxaqueca: entenda os tipos e causas da dor de cabeça
- Outros membros da família têm enxaqueca ou outros tipos de dores de cabeça?
- Você usa medicamentos como pílulas anticoncepcionais ou vasodilatadores?
- Sua dor de cabeça começa depois que você faz muito esforço ou após tossir ou espirrar?
Diagnóstico de enxaqueca com aura
É preciso haver pelo menos duas crises com a presença de sintomas da aura, como pontos luminosos ou perda e embaçamento da visão, dormência e formigamento, fraqueza no corpo e dificuldade na fala para se pensar no diagnóstico de enxaqueca com aura.
Buscando ajuda médica
É recomendado procurar ajuda médica sempre que tiver uma dor de cabeça que incomode. Segundo Adoni, pacientes com enxaqueca com aura costumam ficar assustados com os sinais visuais da doença, pensando serem sintomas de um AVC ou mesmo tumores - daí a importância de esclarecimentos e diagnóstico adequado de um especialista.
Os médicos mais apropriados para consultar ao apresentar sintomas de enxaqueca são:
- Neurologista (especialista em enxaqueca)
- Clínico geral
Vale ressaltar que não é preciso apresentar todos os sintomas já citados para ser diagnosticado com enxaqueca.
Tratamento
Os tratamentos para enxaqueca são prioritariamente medicamentosos, seja por via oral ou via intravenosa. Porém, antes de iniciar o tratamento, é necessário saber se o diagnóstico está correto e qual o fator desencadeante da enxaqueca. No geral, o melhor é evitar gatilhos e tomar o medicamento indicado pelo médico quando uma crise aparecer.
Saiba mais: 5 dicas que irão te ajudar durante uma crise de enxaqueca
Medicamentos
Qual o melhor remédio para enxaqueca?
Entre os melhores remédios para enxaqueca utilizados em seu tratamento, estão:
- Ácido Mefenâmico
- Amato
- Buscofem
- Cefalium
- Cefaliv
- Cetoprofeno
- Cinarizina
- Deocil
- Depakote
- Dorflex
- Doril Enxaqueca
- Flanax
- Flancox
- Ibupril (cápsula)
- Ibupril 400mg
- Ibuprofeno
- Lisador
- Naproxeno
- Naramig
- Neosaldina
- Nisulid
- Nimesulida
- Dipirona monoidratada
Existem medicamentos desenvolvidos especificamente para a enxaqueca, os chamados triptanos. Eles são usados em pacientes que não conseguem conviver com a dor forte da enxaqueca e cujo tratamento é mais difícil.
Vale lembrar que somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique.
Prevenção
Os medicamentos para prevenção da enxaqueca incluem neuromoduladores, betabloqueadores, antidepressivos e antivertiginosos. A indicação, no entanto, dependerá de cada caso.
Além dos medicamentos para enxaqueca e cuidados no momento da crise, você pode adotar alguns autocuidados para enxaqueca que ajudam em sua prevenção:
- Mantenha um diário para identificar fatores desencadeantes de enxaquecas (anote data e a hora da enxaqueca, todos os alimentos que você comeu, atividades que você participou e medicamentos ingeridos)
- Evite alimentos, medicamentos e fatores ambientais desencadeantes
- Fique atento aos gatilhos psicológicos, como estresse e ansiedade
- Procure um especialista que indique o medicamento preventivo mais apropriado para você
- Atenção ao sono: tente não dormir demais e nem muito pouco
- Beba água e tenha cuidado com a hidratação ao longo do dia
- Evite o sedentarismo
- Evite o jejum prolongado
Saiba mais: 5 hábitos que ajudam a evitar enxaqueca
Convivendo (Prognóstico)
Medicamento preventivo
Pessoas que têm enxaquecas frequentes devem sempre andar com seus medicamentos. Isso porque, algum tempo após a dor de cabeça se iniciar, ocorre um processo de sensibilização central, que mantém a dor e a torna mais rebelde aos analgésicos. É importante seguir à risca as medicações e dosagens indicadas pelo neurologista.
Além disso, vale a pena procurar orientação sobre remédios para enxaqueca que condizem com o seu tipo de condição - especialmente pacientes que convivem com pelo menos uma ou duas crises ao mês e cujas dores são incapacitantes. Um exemplo são os anticorpos monoclonais, que recentemente foram aprovados no Brasil e servem como preventivos contra a enxaqueca.
Como aliviar a enxaqueca?
Durante uma crise, tudo o que queremos saber é “o que é bom para aliviar a enxaqueca?” Como os desencadeantes da enxaqueca são diferentes para cada um, a forma de como melhorar a enxaqueca também varia. Alguns dos tratamentos não medicamentosos mais comuns incluem compressas quentes ou frias, massagens, terapia de biofeedback, homeopatia e acupuntura.
Confira, a seguir, algumas medidas a serem tomadas de como aliviar a enxaqueca:
- Trate os sintomas separadamente: como o analgésico trata apenas a dor da enxaqueca, os outros sintomas devem ser tratados de forma tópica. Esse cuidado é redobrado com aqueles que sofrem com vômitos, pois eles podem golfar os analgésicos, precisando ir ao pronto-socorro para receberem medicações injetáveis.
- Descanse em local escuro e silencioso: durante uma crise de enxaqueca, o paciente não suporta ambientes barulhentos e com muita luz. Por isso, o ideal é se sentar ou deitar - o que for mais confortável - em um local com pouca luz e sem barulhos, evitando ao máximo atividades que o tirem do repouso.
- Faça refeições leves e hidrate-se: beba muito líquido, tanto água quanto soluções hidratantes disponíveis no mercado. Caso haja vômito, o melhor é não ingerir alimentos sólidos e, em casos graves, procurar um pronto-atendimento para receber medicações injetáveis mais potentes.
Saiba mais: 6 nutrientes que combatem a enxaqueca
Complicações possíveis
A enxaqueca crônica, por exemplo, pode causar incapacitação pela dor crônica, afetando a execução de atividades diárias e a qualidade de vida. Quando uma crise intensa se prolonga por mais de 72 horas, diz-se que o paciente está em status enxaquecoso (ou migranoso) e incapacitante.
Do ponto de vista neurológico, a enxaqueca com aura é o quadro que pode resultar em danos permanentes. Isso porque, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia, esse tipo de enxaqueca oferece mais risco de complicações vasculares (como um AVC) ao paciente do que a enxaqueca sem aura.
Saiba mais: Cirurgia para enxaqueca: saiba como funciona e quando o procedimento é indicado
Referências
Ministério da Saúde
Sociedade Brasileira de Cefaleia
Tarso Adoni, médico neurologista do Hospital Sírio-Libanês - CRM 100.427
Inara Taís de Almeida, médica neurologista - CRM 172179
DSR Dias, GC da Silva Santos, IL Lima…Brazilian Journal of Development. Cefaleias primárias: revisão da literatura. Março, 2022. Disponível em: https://scholar.archive.org/work/p5tac4jevzautgm6j5ui2i2pdi/access/wayback/https://brazilianjournals.com/ojs/index.php/BRJD/article/download/46186/pdf
Martins, J., Certal, V., Santos, T., Amorim, H., & Carvalho, C. (1). Enxaqueca vestibular. Revista Portuguesa De Otorrinolaringologia E Cirurgia De Cabeça E Pescoço, 49(4), 305-310. Disponível em: https://doi.org/10.34631/sporl.204