Graduação em Medicina pela Universidade de Taubaté (1984). Mestrado em Medicina (Pediatria) pela Universidade de São Pau...
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O leite materno é o melhor alimento possível para o desenvolvimento o bebê. Através do aleitamento, ele recebe uma série de anticorpos e de outras substâncias que fortalecem o sistema imunológico, protegendo de inúmeras doenças, como diabetes, asma e leucemia.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o leite deve ser o alimento exclusivo da criança até o sexto mês de vida. Após este período, a amamentação deve prosseguir junto com a complementação alimentar de outras fontes nutricionais indicadas para cada fase de vida da criança.
Após o período recomendado pela OMS, é comum que algumas mães mantenham leite materno como parte da rotina alimentar da criança — prática que é conhecida como amamentação prolongada. Embora rodeada de questionamentos, manter o aleitamento por mais tempo pode conferir diversos benefícios para a saúde da mãe e do lactente.
Benefícios da amamentação prolongada
A amamentação é um processo que envolve muito mais do que apenas nutrir o bebê. Além dos fatores envolvendo a saúde física, o principal destaque do aleitamento prolongado é que ele contribui para fortalecer o vínculo entre mãe e criança. A primeira relação social do bebê seria com a figura materna e esse amparo, assim como o leite e o calor do contato, fazem com que o pequeno se sinta acolhido e seguro.
Durante o ato de amamentar, o organismo materno produz uma alta quantidade do hormônio ocitocina, que estimula as contrações uterinas e a descida do leite, ao mesmo tempo que provoca uma profunda sensação de prazer materno e é capaz de reduzir os níveis de cortisol, hormônio associado ao estresse.
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Além disso, o leite materno está diretamente relacionado à diminuição da mortalidade infantil e protege contra várias doenças ou deficiências no organismo, como diabetes, hipertensão e colesterol alto. Alergias, doenças respiratórias e infecções também são evitadas, assim como o risco de obesidade infantil diminui.
Segundo a ginecologista e obstetra Carolina Curci, os benefícios também se estendem para a mãe a partir da diminuição da chance de câncer de mama e de ovário. O aleitamento materno também ajuda na redução de peso e na volta do útero ao tamanho normal, afastando o risco de hemorragias.
Quais os desafios da amamentação prolongada?
A disponibilidade de tempo é um dos maiores desafios para manter a amamentação prolongada, especialmente para as mães que já retornaram à sua rotina de trabalho. Ter uma rede de apoio familiar também pode ser um problema para algumas lactantes, mas é fundamental para que ela consiga conciliar a prática com suas atividades diárias.
Embora a amamentação seja algo instintivo, natural e biológico, prolongar o processo é algo reprimido e regado de julgamentos. É comum que algumas mães escutem mitos ao redor da amamentação, o que configura uma pressão social para interrompê-la e que, consequentemente, podem levar ao desmame forçado.
Entre os mitos, um dos principais abordam que, após os dois anos de idade da criança, o leite vira água e perde seus nutrientes, o que não é correto de se afirmar. Há uma mudança contínua na composição do leite materno, tanto no que se refere aos macronutrientes (como proteínas e gorduras) quanto aos micronutrientes.
“Estas mudanças ocorrem desde o início da amamentação, pois a composição vai se adequando às fases do bebê”, explica Clery Bernardi Gallacci, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana. Isso implica que, mesmo após os dois anos, o leite continua oferecendo nutrientes fundamentais, como vitamina A, vitamina C e minerais.
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Ademais, existe o mito que crianças que vivem a amamentação prolongada são prejudicadas emocionalmente e não se desenvolvem, tornando-se mais dependentes da mãe. Segundo Carolina, além de não prejudicar a criança de nenhuma forma, a prática contribui para seu desenvolvimento.
Cuidados com a amamentação prolongada
De acordo com Clery, a criança que se mantém em aleitamento prolongado deve ser monitorada pelo pediatra, pois é importante o acompanhamento do desenvolvimento pondero-estatural (curva de crescimento peso vs. estatura) e avaliação nutricional. Isso porque, em alguns casos, a criança deixa de aceitar outros alimentos necessários para a fase do desenvolvimento e deseja somente o aleitamento.
Em conjunto com isso, a mãe deve ficar atenta com a sua nutrição para que o leite materno se mantenha rico em calorias. “A avaliação da amamentação prolongada deve ser individualizada. A ambiência e o contexto familiar, socioeconômico e cultural devem ser respeitados”, acrescenta Clery.
Quando a amamentação prolongada é prejudicial?
No Brasil, de acordo com a recomendação feita pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a amamentação somente é contraindicada em caso de administração de medicamentos incompatíveis com o aleitamento ou de mães portadoras de HIV e HTLV, o vírus T-linfotrópico humano. A restrição para essas doenças, no entanto, não é obrigatória em todos os países.
Outras doenças infecciosas e potencialmente contagiosas não chegam a impedir a amamentação, como tuberculose, catapora, influenza tipo 1 e rubéola. Porém, é importante que sejam tomados cuidados específicos para que os benefícios não sejam superados por qualquer risco à saúde da criança.
Outro impeditivo da amamentação, embora raro, existe quando a criança apresenta um diagnóstico de galactosemia, uma doença rara em que ela não pode ingerir lactose, o que torna necessária a substituição de todos os alimentos que contenham leite na sua composição, incluindo o leite materno.
Existe idade certa para o desmame?
Segundo o Ministério da Saúde, o desmame é um processo que faz parte da evolução da mãe e da criança. Nesse cenário, ele deveria ocorrer naturalmente, na medida em que a criança vai adquirindo competências para tal.
“No desmame natural a criança se autodesmama, o que pode ocorrer em diferentes idades. Costuma ser gradual, mas às vezes pode ser súbito, como, por exemplo, em uma nova gravidez da mãe — a criança pode estranhar o gosto do leite, que se altera, e o volume, que diminui”, esclarece a cartilha “Saúde da Criança: Nutrição Infantil” do Ministério da Saúde.
O desmame natural proporciona uma transição mais tranquila e menos estressante para a mãe e para a criança, além de fortalecer a relação mãe-filho. O desmame forçado e abrupto deve ser desencorajado, pois, se a criança não está pronta, ela pode se sentir rejeitada pela mãe, gerando insegurança e, em muitos casos, rebeldia.
Segundo Clery, a decisão do desmame envolve diversos fatores socioeconômicos, emocionais e culturais. “O desmame deve ser planejado com a mãe e sua família e assistida pelo profissional de saúde que os acompanha. O fim da amamentação deve ser visto como um processo e não como um evento agressor à criança”, finaliza a especialista.