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Pessoas que sofreram de um ataque cardíaco ou derrame podem prevenir um segundo ataque ao tomar uma aspirina por dia. No entanto, um novo estudo descobriu que menos da metade das pessoas em todo mundo que já passou por essas situações toma a medicação.
O trabalho, liderado por pesquisadores da Washington University School of Medicine e da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, foi publicado na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA). De acordo com o estudo, em países de baixa renda, apenas 16,6% dos indivíduos elegíveis (que já tiveram um primeiro ataque cardíaco ou derrame) estavam tomando aspirina para prevenir um segundo ataque cardíaco ou AVC.
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Nos países de renda média-baixa, esse número foi de 24,5%, ainda de acordo com o estudo. Já nos países de alta renda, a porcentagem aumentou para 51,5%. “A aspirina oferece uma opção eficaz e de custo relativamente baixo para reduzir a probabilidade de eventos adicionais em indivíduos com doença cardiovascular estabelecida, mas a maioria das pessoas que poderia se beneficiar de uma aspirina diária não a toma”, afirma Sang Gune Yoo, principal autor do trabalho.
De acordo com ele, o novo estudo não pode explicar por que a aspirina é tão subutilizada, mas provavelmente há diversos motivos, como diferente acessibilidade aos cuidados em saúde em geral, informações inconsistentes sobre o uso do medicamento e o fato de que a aspirina não pode ser comprada sem receita em alguns países.
Como o estudo foi feito?
Para chegar à conclusão, os pesquisadores analisaram dados de pesquisa de saúde nacionalmente representativas realizadas em 51 países de baixa, média e alta renda. As pesquisas incluíram perguntas sobre o histórico médico de doenças cardiovasculares e sobre o uso de aspirina. O estudo incluiu 125.505 indivíduos, com 10.590 autorrelatos de história de doença cardiovascular.
Um outro estudo, publicado em 2011 com o título “Prospective Urban Rural Epidemiology (PURE)”, também apresentou um uso de aspirina igualmente baixo. “Poderíamos esperar que depois de 10 anos houvesse um uso mais generalizado de aspirina, mas as coisas realmente não mudaram”, disse Yoo. “Essa pesquisa trata de um processo de doença que atinge muitas pessoas, independente de onde você mora. Temos que lembrar que isso pode beneficiar um grande número de pessoas.”
Por que a aspirina previne um novo ataque cardíaco?
A aspirina atua como um anticoagulante, impedindo que pequenas células sanguíneas formem coágulos. Com isso, o medicamento previne um segundo ataque cardíaco ou derrame porque esses coágulos podem, eventualmente, bloquear as artérias e contribuir para a redução da quantidade de sangue rico em oxigênio que chega aos órgãos vitais.
“Desde a década de 80, sabemos que o processo de ocorrência de um infarto ou de um derrame envolve, não só a placa de gordura, mas, também, o entupimento da artéria por um coágulo, que chamados de trombo”, explica Marcelo Cantarelli, cardiologista e membro da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista.
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O especialista explica que o ácido acetilsalicílico, principal componente da Aspirina, ajuda a dissolver esse trombo, prevenindo sua formação e, consequentemente, o ataque cardíaco e o derrame. “As evidências atuais são bem concretas da Aspirina atuar na prevenção desses eventos, principalmente quando já eles aconteceram antes. Então, o medicamento ajuda a evitar que eles ocorram novamente”, esclarece.
E quem pode tomar Aspirina como método preventivo?
Segundo Marcelo, as pessoas que sofreram um ataque cardíaco ou derrame e apresentam riscos de ter um segundo evento do tipo podem usar a Aspirina como tratamento preventivo, assim como pessoas que possuem aterosclerose e doenças trombofílicas (que aumentam as chances de formação de trombos).
“Nesses casos, vale a pena fazer a prevenção e o uso do medicamento é diário”, afirma o cardiologista. Mas vale ressaltar que o uso da Aspirina como método preventivo deverá ser avaliado por um médico de confiança e especialista.
“Existem pessoas que têm alto risco de sangramentos, de hemorragias. Isso o médico vai avaliar, pois pode ser que a pessoa não consiga usar o antiagregante (como é o caso da Aspirina)”, afirma. “É preciso pesar qual é o risco de sangramento que o paciente tem e qual o risco de isquemia que ele tem, o risco de ter obstruções nas artérias. E aí, fazer essa checagem e ver se vale a pena medicar”, finaliza o médico.