Médico, nutrólogo e presidente da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia;...
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Você já pegou algum docinho ou abriu um pacote de salgadinhos mesmo quando não estava com fome? Esse é um hábito relacionado ao prazer que aquele alimento proporciona, além de ser um costume relacionado a fatores emocionais.
Para muitas pessoas, quando estão tensas, ansiosas ou estressadas, a tendência é comerem mais. Isso acontece porque o prazer que o alimento proporciona estimula um circuito de recompensa cerebral. Ou seja, quanto mais alívio ou prazer aquele alimento oferece naquele momento de tensão, mais vamos querer comê-lo.
O problema é que esse comportamento pode levar ao sobrepeso, à obesidade e a doenças metabólicas, como o diabetes. Por isso, é importante saber diferenciar o que é fome emocional e o que é fome fisiológica. Vamos falar mais sobre isso a seguir!
Fome emocional vs. fome fisiológica: qual a diferença?
Existe um nome técnico para esses dois tipos de fome: o apetite homeostático e o apetite hedônico. O primeiro é a fome fisiológica, ou seja, está relacionado à necessidade do corpo de receber o alimento para repor suas reservas energéticas e para se nutrir.
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“No apetite homeostático, há a liberação de alguns hormônios e alguns sinalizadores, principalmente, intestinais, que atuam diretamente nos núcleos da fome, da saciedade e da termogênese (produção de calor para queimar gordura)”, explica Durval Ribas, nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Já o apetite hedônico se relaciona ao prazer e aos costumes alimentares de cada pessoa. “Nós temos um sistema de recompensa que, a partir do momento que você ingere esse alimento, você sente prazer”, explica o nutrólogo.
No organismo, esses dois apetites funcionam em equilíbrio em um sistema chamado “nutro-neuro-metabólico”, que regula a quantidade de energia que vamos consumir através dos alimentos e da energia que será gasta ao queimar calorias. Ou seja, é esse sistema que ajuda a regular o nosso peso corporal.
O médico apresentou um painel sobre o tema no Congresso Brasileiro de Nutrologia (CBN), que aconteceu em setembro em São Paulo. Na ocasião, ele explicou que o desequilíbrio nesse sistema pode levar à maior ou à menor ingestão de calorias, levando à magreza excessiva ou ao sobrepeso e à obesidade.
“Evidentemente, o que é mais comum nos dias atuais, seja no Brasil ou em outros países do mundo, é a obesidade”, afirma Durval.
Como perceber que a fome é emocional?
Para diferenciar a fome emocional da fome fisiológica, é só se atentar para alguns sinais. Entre eles:
- A busca por comida vem em momentos de ansiedade, estresse ou tristeza
- Há vontade de comer mesmo de estômago cheio
- Há alívio emocional ao se alimentar
- Surgem sentimento de enjoo e mal-estar após se alimentar
- Há sensação de culpa depois das refeições
- Termina-se uma refeição pensando na próxima
No caso da fome fisiológica, os sinais são aqueles já conhecidos, como sensação de estômago vazio e de fraqueza, dor de cabeça, irritabilidade e o famoso “estômago roncando”.
Quando comer demais pode se tornar um problema?
O desequilíbrio entre fome fisiológica e a emocional tem alguns fatores psicológicos e, até mesmo, relacionados ao estilo de vida e a experiências passadas. Por exemplo, condições como estresse, ansiedade, depressão e tédio podem aumentar a vontade de comer alimentos prazerosos, normalmente mais gordurosos ou açucarados.
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Fatores comportamentais também influenciam. Se uma pessoa aprendeu que se sente melhor quando come esses alimentos, ela pode desenvolver uma associação entre esses alimentos e o prazer emocional. Com isso, ela aumenta seu consumo, mesmo quando não sente fome de verdade.
“A partir desse momento, você está inserido em um ambiente obesogênico, ou seja, que lhe fornece uma qualidade maior de ingestão alimentar do que você precisa para se manter com o peso adequado”, esclarece Durval. “Quando isso acontece, a expressão genética da obesidade se manifesta”, complementa.
O que isso significa, na prática? Esse hábito de comer quando não se está, realmente, com fome passa a ser um gatilho para a obesidade, apresentando um risco para a doença.
Tem como prevenir e tratar esse desequilíbrio?
A prevenção desse desequilíbrio pode ser feita ao tentar mudar esses comportamentos que são gatilhos para a obesidade. Isso pode ser feito com a ajuda de profissionais de psicologia, nutrição, nutrologia e endocrinologia.
O tratamento para pessoas com apetite hedônico pode ser feito também por esses profissionais. As opções incluem terapia comportamental, uso de medicamentos (como inibidores de apetite ou antidepressivos), mudanças na dieta e prática de exercícios físicos.