Médico pela Universidade Federal do Espirito Santo (UFES) Neurologista formado pela Universidade Federal de São Paulo (U...
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Existem mais de 13 milhões de pessoas vivendo com diabetes no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes. Dessas, cerca de 8,75 milhões têm diabetes tipo 1, levando o país ao terceiro lugar no ranking de casos absolutos no mundo.
A doença crônica é caracterizada pelo aumento de açúcar no sangue devido à falta ou à má absorção da insulina. Porém, para além dos efeitos metabólicos, o diabetes também pode trazer efeitos negativos para a saúde mental dos pacientes.
Um estudo publicado no periódico da American Diabetes Association mostrou que pessoas com diabetes têm o dobro de chance de desenvolver depressão em relação às pessoas sem a doença. Outro estudo da mesma associação mostrou que a maioria das pessoas com diabetes se sente julgada e culpada por outras pessoas por sua condição.
O impacto do diagnóstico de diabetes
“Todo diagnóstico de doença crônica pode trazer alguma consequência para a nossa saúde mental. No caso do diabetes tipo 1 e 2, esse diagnóstico traz incertezas e, junto com elas, ansiedade”, explica Fabiano Moulin, especialista em neurologia cognitiva e do comportamento.
Além da ansiedade, o diagnóstico pode trazer uma sensação de injustiça: por que isso está acontecendo comigo? “Essa é uma sensação típica de quem é diagnosticado com diabetes tipo 1, pois o diagnóstico costuma ser feito de uma forma mais abrupta, quando o paciente já está com sintomas graves e isso gera uma ideia de que a vida, dali pra frente, vai ser diferente”, comenta o especialista.
Mas os desafios não param por aí: o tratamento da doença também exerce uma carga mental diária. Afinal, o manejo da condição exige, em alguns casos, a aplicação de insulina diariamente, mudanças de hábitos alimentares e de estilo de vida, verificação de glicemia, uso de bombas de insulina, entre outros.
Em encontro realizado pela Roche Diabetes Care, no final de outubro, em São Paulo, o jornalista Tom Bueno, fundador do canal “Um Diabético”, contou um pouco sobre essa demanda mental.
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“São várias tomadas de decisões, medição de glicemia, de glicose, monitoramento de atividade física, várias deliberações em vários aspectos, tanto para a glicemia não ficar muito alta e nem ficar muito baixa”, afirmou durante o evento, que contou com a cobertura do MinhaVida. “A rotina de quem tem diabetes, às vezes, cansa, devido a essa demanda, mas não temos escolha.”
A fala do jornalista representa o desafio diário que é viver com uma condição crônica como diabetes e que, muitas vezes, é desconhecida por quem não tem a doença. Na visão do neurologista, essa “hipervigilância” necessária durante o manejo do diabetes faz com que o cérebro entre em estado de “antecipação”, o que pode piorar a ansiedade.
Informação de qualidade é fundamental para o paciente
Diante desse cenário, a solução é se manter informado, mas com informações de qualidade. Para isso, é fundamental se cercar das fontes corretas e confiáveis: a sua própria equipe médica, referências científicas, sociedades médicas e de pacientes e grupos de apoio.
“É preciso adquirir uma arte de buscar essas informações nas fontes corretas e isso começa a partir da equipe multidisciplinar de cuidado: médico, nutricionista e psicólogo, por exemplo”, orienta Fabiano. “Temos que ter atenção com supostas curas milagrosas e promessas muito fora da rotina. Infelizmente, esse tipo de conteúdo está mais em busca de audiência do que, obrigatoriamente, em busca de saúde e cuidado”, ressalta.
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Por isso, ao ser diagnosticado com diabetes, seja do tipo 1 ou do tipo 2, é fundamental tirar todas as suas dúvidas com o médico, assim como buscar acompanhamento de nutricionista, profissional de educação física e psicólogo.
Tecnologias que facilitam o dia a dia são bem-vindas
Além da informação, apostar em novas tecnologias que facilitam o tratamento para diabetes e, ao mesmo tempo, oferecerem maior bem-estar para o paciente é uma boa opção.
“Toda forma de tratamento pode impactar positivamente ou negativamente a saúde mental do paciente e da família. Então, é muito importante que a pessoa entenda o que está acontecendo com ela, o que o diagnóstico implica e ter noção da gama de opções de tratamento para que ela tenha a possibilidade de escolher o que é melhor para ela”, afirma o neurologista.
Um exemplo é a bomba de insulina, muito utilizada por crianças com diabetes tipo 1 e por perfis de pacientes que apresentam crises de hipoglicemia recorrentes ou que que precisam controlar a glicemia de maneira mais assertiva em suas refeições. No entanto, a opção mais tradicional de bomba de insulina pode apresentar algumas limitações no dia a dia.
“As bombas de insulina mais tradicionais apresentam um fio para que elas sejam penduradas e nem todo paciente se adapta com isso, muitos acham ruim, pode atrapalhar a atividade física ou pode causar desconforto”, comenta a endocrinologista Mônica Gabbay. “Além disso, 63% das pessoas com diabetes erram os cálculos de insulina no momento da refeição, o que pode levar a uma sobrecarga de insulina”, complementa.
É nesse sentido que optar por tecnologias mais modernas pode facilitar o tratamento da doença e, consequentemente, melhorar o bem-estar e aliviar a carga mental gerada pela tomada de decisões no dia a dia. Recentemente, a primeira bomba de insulina sem fio chegou ao Brasil: a Accu-Chek Solo.
Essa minibomba, como é chamada, pode ser colocada e retirada do corpo a qualquer momento e funciona sem fio. Dessa forma, o aparelho aplica insulina continuamente e em doses precisas, já que oferece uma calculadora de bolus, que calcula a quantidade de insulina necessária para cada refeição, integrada para administração precisa de insulina.
“Na hora que a pessoa vai comer, ela só precisa informar quantos gramas de carboidrato vai comer para calcular quanto de insulina será preciso”, explica Mônica. “Isso facilita o dia a dia e oferece mais flexibilidade para a pessoa com diabetes”, completa.
Facilidades como essas, na visão do neurologista Fabiano, são fundamentais para privilegiar a autonomia e a liberdade do paciente. “São dois aspectos, dentro de vários, importantíssimos para a saúde mental”, finaliza.