Graduada em Nutrição pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS (2003), com especialização em Nutrição Clínic...
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A desnutrição e a obesidade infantil são dois grandes problemas de saúde pública no Brasil. Enquanto uma em cada dez crianças brasileiras de até cinco anos estão acima do peso, de acordo com dados do Observatório de Saúde na Infância, o índice de crianças desnutridas em 2021 chegou a 5,3%, de acordo com o Panorama de Obesidade de Crianças e Adolescentes, do Instituto Desiderata.
Apesar de serem consideradas pólos opostos, muitas vezes, a obesidade e a desnutrição podem caminhar juntas. Isso porque o sobrepeso e a obesidade infantil estão profundamente relacionados à má nutrição da criança, ou seja, ao consumo de alimentos ultraprocessados com pouco valor nutricional. Entenda mais a seguir.
O que é desnutrição infantil?
De acordo com Carolina Böettge Rosa, professora do curso de nutrição do Centro Universitário Cesuca, a desnutrição infantil é uma condição caracterizada quando uma criança não recebe os nutrientes adequados para seu crescimento e desenvolvimento saudável.
“Isso pode ocorrer devido à ingestão insuficiente de alimentos, falta de variedade na dieta, má absorção de nutrientes ou condições médicas específicas”, explica a docente. No Brasil, uma das principais causas de desnutrição é a insegurança alimentar, realidade de cerca de 33 milhões de brasileiros, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de COVID-19, da rede Penssan, lançado em 2022.
Ainda segundo a pesquisa, mais da metade (58,7%) da população brasileira enfrenta situação de fome, em diferentes graus (leve, moderado ou grave). Esses números representam um regresso para um patamar equivalente ao da década de 1990.
Esse cenário traz grandes riscos para a saúde da criança, conforme aponta Carolina. É o caso do atraso no crescimento e desenvolvimento cognitivo, comprometimento do sistema imunológico, anemia, problemas digestivos, deficiências de vitaminas e minerais, problemas respiratórios e maior risco de mortalidade.
O que é obesidade infantil?
Por outro lado, a obesidade infantil no Brasil é a realidade de cerca de 340 mil crianças entre 5 e 10 anos de idade, segundo o relatório público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, com dados de pessoas acompanhadas na Atenção Primária à Saúde. Os números contemplam informações de até setembro de 2022.
A obesidade infantil é uma doença crônica, caracterizada pelo excesso de gordura corporal, o que pode estar relacionado a fatores genéticos, má alimentação, sedentarismo ou uma combinação desses fatores. A condição é diagnosticada levando em consideração o cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal), história familiar, hábitos alimentares, nível de atividade física e outras condições de saúde.
Entre os riscos que a obesidade apresenta para as crianças, estão o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, dislipidemia e resistência à insulina), diabetes tipo 2, problemas ortopédicos, distúrbios do sono, problemas psicossociais e respiratórios e esteatose hepática não alcóolica.
Quando a obesidade infantil e a desnutrição estão relacionadas?
A desnutrição e a obesidade infantil podem aparecer juntas em um mesmo cenário. “É possível que uma criança com obesidade também sofra de desnutrição e essa condição é conhecida como ‘desnutrição (ou fome) oculta’”, afirma Carolina.
A nutricionista explica que a “desnutrição oculta” ocorre quando uma pessoa come calorias em excesso, mas não recebe nutrientes essenciais em quantidades adequadas. “Isso pode acontecer quando a dieta é composta, principalmente, por alimentos altamente calóricos, mas pobres em nutrientes essenciais, como vitaminas e minerais”, acrescenta.
A obesidade e a desnutrição podem coexistir nas seguintes situações:
- Quando a dieta da criança é de baixa qualidade: rica em ultraprocessados e deficiente em vitaminas, minerais e outros nutrientes
- Quando há desequilíbrio nutricional: proporção desigual de consumo de macronutrientes, como proteínas, carboidratos e gorduras
- Quando há falta de variedade na dieta: se a criança consome alimentos altamente processados e com baixa densidade nutricional, ela não obtém a variedade de nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável
- Por fatores socioeconômicos: podem contribuir para obesidade e desnutrição, devido ao acesso limitado a alimentos frescos e nutritivos
Nesses cenários, alguns sinais sugerem desnutrição em uma criança com sobrepeso ou obesidade. Segundo Carolina, são eles:
- Deficiências nutricionais (falta de vitamina D, ferro, cálcio e outras vitaminas essenciais)
- Atraso no crescimento em relação à idade
- Fraqueza e fadiga
- Problemas de pele (descamação, erupções cutâneas ou feridas que demoram para cicatrizar)
- Comprometimento do sistema imunológico
- Alterações no comportamento alimentar
- Problemas dentários, como cáries
Como reverter o quadro da desnutrição e da obesidade infantil?
Para reverter a obesidade e a desnutrição infantil são necessárias abordagens diferentes, pois tratam-se de condições distintas com causas e tratamentos específicos. No geral, para reverter a obesidade, é necessário:
- Adoção de uma alimentação saudável e equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras
- Redução do consumo de alimentos ultraprocessados, açúcares adicionados e gorduras saturadas
- Prática regular de atividades físicas adequadas à idade, como brincadeiras ao ar livre, esportes e jogos
- Educação nutricional
- Consulta regular com pediatra e nutricionista e, em alguns casos, psicólogo
Já para reverter a desnutrição infantil, é necessário:
- Melhora da dieta, incentivando a variedade e o equilíbrio
- Suplementação nutricional, se houver prescrição de um profissional de saúde para isso
- Apoio psicossocial
- Acompanhamento médico
Intervenção precoce, com o envolvimento da família no processo de tratamento e educação nutricional
“É importante salientar que ambas as condições requerem uma abordagem personalizada, levando em consideração a saúde geral da criança, fatores socioeconômicos e hábitos de vida”, ressalta Carolina. “Consultar profissionais de saúde qualificados é fundamental para desenvolver planos de tratamento eficazes e seguros”, finaliza.