Coordenador do Núcleo da Dor e Distúrbios do Movimento do Hospital Sírio-Libanês.
Redatora especializada em saúde, bem-estar, alimentação e família.
Carregar bolsas ou mochilas pesadas, postura errada, não se acomodar na cadeira, dirigir muito, ter sobrepeso ou levar uma vida sedentária. Se você se encaixa em uma (ou mais) dessas situações, provavelmente sofre com dores na coluna, que se não forem tratadas corretamente, podem se acentuar e evoluir para doenças mais graves.
A coluna vertebral é composta por vértebras, discos intervertebrais, nervos, músculos, medula e ligamentos. É nesse conjunto que acontece a maior parte das disfunções que causam dores nas costas. Entre elas, a hérnia de disco, cujo estágio inicial está presente na coluna de quase 65% da população adulta brasileira.
As vértebras da nossa coluna estão unidas por articulações chamadas de discos intervertebrais, que são constituídos de material fibroso e gelatinoso e desempenham a função semelhante a de um amortecedor, dando mobilidade para locomoção e movimentos de impacto.
A hérnia de disco ocorre quando parte do disco, em geral os das vértebras cervical, dorsal ou lombar, escorrega para trás ou para o lado da coluna, comprimindo o nervo, daí a causa das dores. No entanto, essa dor é bem característica, como explica o ortopedista e cirurgião de coluna Ricardo Ueta, da Unifesp: "O sintoma clássico é a dor associada à região lombar que irradia para os membros inferiores, atingindo pernas e pés, ocasionando fraqueza muscular e formigamento", diz o especialista.
Segundo o ortopedista Renato Ueta, não há cura definitiva para o problema. "A hérnia de disco é um processo degenerativo. Os tratamentos feitos visam retirar os sintomas do paciente, porém a hérnia continua lá", diz o ortopedista. Confira os tratamentos disponíveis para esse problema:
Medicamentos
Na fase aguda da doença, ou seja, quando você sente aquela dor que incomoda, o tratamento é feito a base de medicamentos analgésicos, e anti-inflamatórios. "A ideia é usar os medicamentos pelo período mais curto possível, e tentar buscar outras formas de evitar a dor", explica o neurocirurgião Manoel Jacobsen Teixeira, coordenador do Núcleo da Dor e Distúrbios do Movimento do Hospital Sírio-Libanês.
Segundo o especialista, se o quadro não se normalizar, podem ser receitados outros medicamentos, como antidepressivos e anticonvulsionantes - mas tudo depende do quadro do paciente e recomendação médica. "Todos eles agem diminuindo a dor por meios diferentes, seja diretamente (analgésicos), por diminuir a inflamação (anti-inflamatórios), ou por aumentar o limiar crítico de dor suportado pelo paciente (antidepressivos e anticonvulsionantes)", completa o ortopedista Paulo Borges Alvim, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Injeções
Se o paciente estiver sofrendo uma dor muito intensa, pode-se ministrar um medicamento por injeção. "A aplicação de medicação anti-inflamatória e analgésica por meio de injeções pode ser intramuscular ou diretamente na coluna vertebral", explica o ortopedista Paulo Borges. Quando a injeção é aplicada na coluna, o processo é acompanhado com o auxílio de métodos de imagem, como fluoroscopia ou tomografia em tempo real, geralmente em regime de hospital com anestesia local. "Podem ser injetados medicamentos no próprio disco, no canal por onde sai a raiz nervosa afetada pela hérnia de disco ou dentro do canal vertebral."
Evite o repouso
"O repouso absoluto é absolutamente contraindicado em pessoas que tem hérnia de disco", declara o neurocirurgião Manoel. De acordo com o especialista, ao ficar em repouso tanto na fase aguda quando na crônica, o risco de incapacidade aumenta - ou seja, a dor pode voltar ainda mais forte quando a pessoa voltar as suas atividades, ou então nem mesmo cessar com o repouso. É importante que a pessoa não seja afastada do trabalho e continue fazendo suas atividades normalmente, respeitando os limites da dor. "A partir do momento em que ficamos parados a musculatura não trabalha, inclusive a coluna. Por isso, quanto mais repouso maior a atrofia ou hipotrofia muscular, fator que pode agravar a dor."
Pratique exercícios
"Depois dessa fase mais dolorosa, é indicada a prática de atividade física para o fortalecimento da coluna, ajudando na prevenção de novos episódios", explica o ortopedista Ricardo Umeta, da Faculdade Santa Casa de São Paulo. Para pacientes que sentem muita dor, o ideal é o acompanhamento com fisiatra ou fisioterapeuta. Alguns aparelhos são indicados para o tratamento da hérnia de disco por simularem o atendimento fisioterápico, como a mesa de tração eletrônica e a mesa de flexão-descompressão.
"A mesa de tração eletrônica é uma plataforma com segmentos móveis que consegue, de maneira controlada e eletronicamente, fazer tração em segmentos dos membros inferiores do paciente, reproduzindo técnicas fisioterápicas de distração dos membros para tratamento de dor associada à compressão das raízes nervosas", explica o ortopedista Paulo. A mesa de flexão-descompressão também tem segmentos móveis, só que o paciente é colocado em um determinado posicionamento de modo a flexionar a coluna vertebral.
"Essa flexão abre o espaço por onde sai a raiz nervosa acometida, descomprimindo as raízes comprimidas pela hérnia de disco e aliviando a dor", afirma o especialista. Outros exercícios são indicados para o tratamento da hérnia de disco e prevenção de novas fases agudas, como musculação, pilates e atividades na água.
"O ideal é priorizar exercícios que trabalhem principalmente a musculatura abdominal, da área vertebral e dos membros inferiores, visando fortalecimento e alongamento", lembra o ortopedista Ricardo. Os exercícios de RPG também são bem-vindos, afirma o especialista. Entretanto, se você não tiver disponibilidade para fazer essas atividades, não fique parado - caminhar de três a cinco vezes por semana já basta para sair do sedentarismo e manter o corpo ativo. O importante é não ficar parado.
Estabilização vertebral
De acordo com o ortopedista Paulo, a estabilização vertebral pode ser feita de diversas formas. "Ela consiste em fundir as vértebras que estão danificadas por meio de consolidação óssea - após a cicatrização do osso, as vértebras se unem em uma só", explica o especialista. Até que ocorra a cicatrização óssea, a estabilidade deve ser mantida artificialmente, seja por meio da colocação de implantes na coluna (parafusos e espaçadores) ou, agora em menor uso, coletes ou órteses. São dois os efeitos esperados no paciente com hérnia de disco: a diminuição da dor na coluna e, em alguns casos, a diminuição da chance de retorno da hérnia.
Mudanças cotidianas
Não há qualquer restrição de movimento para o paciente com hérnia de disco. Isso quer dizer que ele deve fazer suas atividades normalmente, dentro dos seus limites - se a dor fica mais forte quando a pessoa abaixa para pegar algo no chão, por exemplo, o ideal é ir com mais calma ou então evitar fazer esse movimento com frequência. No entanto, algumas medidas devem ser adotadas para reduzir a pressão sobre a coluna, consequentemente reduzindo a dor. "Passar muito tempo agachado, usar salto alto e ficar sentado por longos períodos são atitudes que devem ser evitadas no paciente com hérnia de disco", afirma o neurocirurgião Manoel.
Controle o peso
O controle do peso é essencial no tratamento da hérnia de disco, uma vez que é a coluna que suporta boa parte do nosso peso. "Os músculos da barriga e das costas são responsáveis por proteger a coluna, no entanto, mas quanto maior for o sobrepeso, maior é a carga sobre o órgão", afirma o ortopedista Ricardo.
Cirurgia
Cerca de 90% dos pacientes sintomáticos com hérnia de disco melhoram com medidas não cirúrgicas, afirmam os especialistas. "Em um período de quatro até seis semanas o corpo se recupera se ministrados os medicamentos corretamente ou então com a prática de exercícios", diz o neurocirurgião Manoel.
Entretanto, há aqueles pacientes que não apresentam melhora apenas com o acompanhamento clínico, e portanto precisam de intervenção cirúrgica. Pacientes com alguma alteração neurológica, perda de força ou perda de movimento em decorrência da hérnia tem indicações para cirurgia.
"É feita a localização dos pontos dolorosos em ambiente cirúrgico e depois a ressecção desses locais", explica o ortopedista Ricardo. Hoje em dia é possível fazer cirurgia de ressecção de hérnia com o paciente acordado, contando com a ajuda de um endoscópio. "Tem também as cirurgias maiores que pedem anestesia geral e internação no paciente", afirma o especialista. Quando a cirurgia é bem executada, os resultados são bons e reestabelecem o paciente.