Dermatologista, é membro efetivo e diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética (RJ), coordenadora m...
iO desejo de ter cabelos lisos levou milhares de pessoas a recorrer nos últimos anos ao uso de alisamentos capilares à base de formaldeído (formol). Também outrora chamada de escovas progressivas, estes procedimentos nos cabelos desde então já causaram inúmeros danos à saúde.
O formol (formalina, oximetileno ou aldeído fórmico) é um líquido incolor, extremamente tóxico, cujo uso em cosméticos só é liberado se obedecer aos limites máximos impostos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Ele faz parte de um grupamento químico pertencente à família dos aldeídos, que é utilizado principalmente como conservante.
Se os relaxamentos, alisamentos e químicas mais agressivos acarretam diversos prejuízos aos cabelos, imagine com a utilização do formol neles. O formol vitrifica o fio, ou seja, funciona como um laminado, fechando-os.
Enquanto o efeito durar, ele deixará aparentemente os cabelos bonitos, porém nada poderá penetrar neles. Nutrientes, umectantes ou hidratantes, que são essenciais a saúde dos cabelos, pouca coisa destes elementos consegue adentrá-los.
Além disso, com o tempo e o desgaste ou destruição completa da fibra capilar, a pessoa perde significativamente massa capilar, podendo afinar drasticamente os fios de cabelos. Ou pior: perder de vez os cabelos! O resultado disto tudo é sempre bastante comprometedor.
Entretanto, as consequências e os perigos do formol vão muito além. O uso do formol pode causar irritação, coceira, queimadura, inchaço, descamação e vermelhidão do couro cabeludo, queda do cabelo, ardência e lacrimejamento dos olhos, falta de ar, tosse, dor de cabeça, ardência e coceira no nariz, devido ao contato direto com a pele ou com vapor.
Contínuas exposições ao produto podem provocar ainda sérios processos alérgicos, boca amarga, dores de barriga, enjôos, vômitos, desmaios, feridas na boca, narina e olhos, e câncer nas vias aéreas superiores (nariz, faringe, laringe, traquéia e brônquios), podendo até levar à morte.
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Mas há algumas substâncias ativas específicas com propriedades alisantes que são permitidas pela legislação, como ácido tioglicólico, hidróxido de sódio, hidróxido de potássio, hidróxido de cálcio, hidróxido de lítio e hidróxido de guanidina.
No entanto, os relaxamentos, alisamentos, escovas e demais tratamentos químicos para minimizar e reduzir volume e alisar os cachos são, em geral, potencialmente agressivos. O propósito de alisar altera substancialmente a estrutura capilar. Algumas vezes, ao menos no princípio e por pouco tempo, resultam em cabelos lindos, porém na maioria dos casos costuma trazer problemas.
Por isso, é válido sempre ressaltar que qualquer química de redução leva a fragilidade nos fios, logo, se deve analisar o estado da fibra e nunca se esquecer de protegê-los e hidratá-los antes e após o uso dela.
Mistura de química
Outro ponto muito importante é não fazer química de coloração junto com a química de redução. É imprescindível haver um espaço de tempo entre ambas para não prejudicar os cabelos. Para manter saúde dos cabelos também é essencial o uso diário de filtro solar capilar e hidratações quinzenais.
Não esqueça que o formaldeído é proibido, não tem função de alisante e não pode ser aplicado com a proposta de tratamento. As escovas que alisam e que contém formol, mesmo sob a "proteção" e disfarce de qualquer outro ativo, também são proibidas. Infelizmente uma parcela do mercado mascara esse problema com escovas de ativos, sob diversos nomes, que tem boa aplicação em cosméticos para iludir os consumidores. Não ponha sua saúde em risco. Na dúvida, busque um especialista em Tricologia antes de fazer qualquer uso de supostos "alisantes".
Proibição do formol
De acordo com a Resolução 36 (junho de 2009), a ANVISA proibiu a comercialização do formol em estabelecimentos comerciais, com a finalidade de restringir o acesso da população a este produto e coibir o uso de formol indevido como alisante capilar.
Atualmente, somente a concentração de, no máximo 0,2% de formol, é permitida em produtos cosméticos. No entanto, não se pode confundir as concentrações de formol, a utilização do formaldeído e seus correlatos e a função de alisante.
A legislação sanitária permite o uso de formol e glutaraldeído em produtos cosméticos capilares apenas na função de conservantes (com limite máximo de 0,2% e 0,1%, respectivamente), durante a fabricação do produto. A adição de formol, glutaraldeído ou qualquer outra substância a um produto finalizado, isto é, apto para uso, constitui séria infração sanitária, estando o estabelecimento que adota esta prática sujeito às sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, sendo que adulteração desses produtos configura crime.
Portanto, seu uso além do percentual autorizado pela ANVISA é expressamente proibido, sendo extremamente prejudicial à saúde e afetando profundamente o couro cabeludo e os fios.