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Você realmente está comendo bem? Muitas pessoas acreditam que o bom e velho prato de arroz, feijão, bife e salada são suficientes para trazer todos os nutrientes que o nosso corpo precisa. E por isso algumas deficiências passam despercebidas por nossos olhos, tendo consequências graves em nossa saúde.
Esse processo é chamado de fome oculta, e acontece quando há uma carência nutricional não aparente de um ou mais nutrientes em nosso corpo.
Para que você não seja vítima desse mal e só entenda a importância do aporte correto de nutrientes quando for tarde demais, conversamos com especialistas e montamos um guia com as principais deficiências nutricionais em cada fase da vida e como elas afetam o organismo:
Pessoas com doenças crônicas
Se para pessoas que são saudáveis o aporte nutricional é fundamental, para quem tem doenças crônicas essa recomendação é ainda mais reforçada. "Isso acontece porque as medicações para doenças crônicas podem interferir na absorção de nutrientes, assim como a não ingestão desses pode agravar alguns quadros", afirma o pesquisador Joffrey.
Alguns exemplos são a falta de potássio na dieta, que pode descompensar a bomba sódio-potássio em nosso sangue, contribuindo para o aumento da pressão arterial, ou então de magnésio, que pode aumentar a intolerância à glicose.
Além disso, a boa alimentação pode inclusive contribuir para que esses quadros sejam controlados, evitando complicações decorrentes das doenças crônicas. "Os fitoesterois, por exemplo, são muito importantes para o controle do colesterol alto, podendo ser obtido na alimentação (óleos vegetais crus, nozes, feijão, legumes, verduras e alimentos enriquecidos) ou por meio da suplementação", explica a nutricionista Nicole.
Idosos
A alimentação saudável é muito importante para os idosos, sendo de extrema importância compor o cardápio com todos os grupos de alimentos (proteína, carboidrato, lipídeos, minerais, vitaminas e aumento de fibras).
No entanto, para essa faixa etária, alguns cuidados extras precisam existir. "A privação de vitaminas pode ocasionar desde a alteração no sistema imunológico até problemas sérios de saúde", diz a nutricionista Christiane Portes, coordenadora de Nutrição do Lar Sant´ana.
Entre os indivíduos com idades acima de 60 anos, os nutrientes com maior percentual de inadequação foram as vitaminas E, D e cálcio, tanto para homens quanto para mulheres nas áreas urbana e rural, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares.
Além desses, o The Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS) também aponta os nutrientes selênio, zinco e vitamina A como deficientes na população idosa. "A ausência de vitamina C pode atrapalhar a absorção de ferro para o organismo, podendo causar anemia, e a falta de vitamina D prejudica a absorção de cálcio, podendo ocasionar a osteoporose", exemplifica a nutricionista.
É muito comum nessa faixa etária o idoso apresentar o mau funcionamento do intestino, por isso é importante o aumento da ingestão de água. "É necessário também incentivar a ingestão de alimentos macios por conta da dentição que pode ser deficiente, sem deixar de incluir proteínas na dieta, que impedem a perda de massa magra inerente à idade", lembra Christiane.
Fisiologicamente, o idoso apresenta alteração no paladar, por conta da diminuição de papilas gustativas. "Por conta dessa dificuldade, é muito comum o idoso aumentar a ingestão de sal e açúcar, causando alterações na pressão arterial ou diabetes, por exemplo", alerta a nutricionista.
No entanto, muitas vezes é difícil adaptar a dieta do idoso, que está acostumado com determinados hábitos alimentares que nem sempre são saudáveis - nesses casos, a suplementação pode ser uma boa saída. Existem suplementos específicos para idosos, que podem vir na forma de cápsulas ou em pó, para acrescentar em sucos ou outras preparações.
Essas suplementações orientadas para a população idosa garantem o aporte necessário de proteínas e outros nutrientes mais solicitados pela faixa etária, como as vitaminas A e do complexo B, responsáveis pela manutenção da boa visão e memória.
Adultos
De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, na faixa etária de 19 a 59 anos, as maiores prevalências de inadequação nutricional competem à vitamina D, vitamina E, cálcio, magnésio, vitamina A e vitamina C. "
Com uma dieta pobre em nutrientes gerais, o adulto terá baixa imunidade e estará mais exposto a infecções, além de um maior risco para doenças crônicas não transmissíveis, depressão, falta de libido e uma série de outros problemas", explica a nutricionista Nicole Trevisan, de São Paulo.
Doenças cardiovasculares, hipertensão, câncer, colesterol alto e atrofia cerebral são as principais doenças relacionadas com o baixo consumo de nutrientes na fase adulta. Isso porque no geral a deficiência acontece com todas essas vitaminas de uma vez, e não em casos isolados.
"Existe hoje a chamada fome oculta, que acontece em decorrência da alimentação rica em produtos extremamente gordurosos e açucarados, que fazem com que as crianças e adultos tenham um excesso de gordura, sal e açúcar no organismo, mas uma carência de vitaminas e minerais por uma dieta inadequada", diz Nicole.
De acordo com o pesquisador especialista em antioxidantes Jeffrey B. Blumberg, professor da Friedman School of Nutrition Science and Policy da Tufts University, nos Estados Unidos, é muito difícil para o adulto mudar seus hábitos de uma hora para a outra - por isso a importância de uma boa educação alimentar desde a infância.
"Nesse cenário, a suplementação vitamínica funciona como um complemento dessa dieta deficiente, diversos estudos comprovam que ela pode ajudar na prevenção das doenças citadas", explica Jeffrey.
Sendo assim, é de extrema importância o acompanhamento nutricional para certificar-se de que se está ingerindo todos os nutrientes necessários, manter uma dieta equilibrada, como todos os grupos alimentares e sem exceder os limites de sódio, gordura saturada e açúcar, recorrendo à suplementação quando ela se fizer necessária.
Adolescentes
Nessa fase da vida estamos em intenso e rápido crescimento e desenvolvimento físico, psíquico e social - e isso requer aumento da ingestão de todos os nutrientes. Como a supervisão dos pais fica mais escassa na adolescência, as refeições se tornam menos balanceadas, ricas em calorias, açúcar e gorduras, com substituição de refeições por lanches industrializados.
De acordo com a nutricionista Isabel, fatores psicossociais como falta de vínculo e disfunções familiares, prática de jejum, gravidez, depressão, distúrbios da imagem corporal, abuso de álcool e outras drogas e até mesmo uso de suplementos dietéticos para o ganho de massa muscular, além de estilo de vida sedentário ou a prática excessiva de esportes, podem influenciar de maneira negativa o estado nutricional dos adolescentes.
"A anemia por deficiência de ferro é a principal carência nutricional encontrada na adolescência, tanto em meninos, devido aumento da massa muscular e atividade física, que demandam maior circulação sanguínea, quanto em meninas, devido o início do período menstrual", explica a nutricionista Isabel. A deficiência de ferro causa retardo de crescimento e atraso da puberdade, além de baixa concentração, cansaço e desanimo.
Na adolescência também se completa o crescimento máximo da massa óssea, e três importantes nutrientes - cálcio, vitamina D e vitamina C - estão frequentemente em baixas concentrações, prejudicando a formação de massa óssea e aumentando o risco de osteopenia.
"Importante enfatizar que, ao adquirir hábitos alimentares adequados e rotina de exercícios físicos durante a infância e adolescência, o estilo de vida saudável perpetuará para o resto da vida adulta, prevenindo doenças da vida moderna", explica a nutricionista Rafaella.
Infância
Anemia, deficiência de vitamina A e desnutrição calórica e proteica são as principais carências na infância do brasileiro, e estão relacionadas com deficiências em cálcio, ferro, zinco, vitamina A, carboidratos e proteínas. "O ferro é um elemento vital para o metabolismo humano, a sua deficiência na infância compromete a coordenação motora e de linguagem, além de ocasionar falta de atenção, fadiga e anemia", explica a nutricionista Isabel.
Já a deficiência de vitamina A, geralmente em decorrência da baixa ingestão de gorduras, compromete o sistema de defesa do corpo e a capacidade visual. A desnutrição calórica e proteica, mais comum em populações de baixa renda, afeta todos os sistemas orgânicos da criança, causando consequências de longo prazo até a vida adulta.
"A deficiência de cálcio pode causar problemas no crescimento e desenvolvimento ósseo e dentário, a de zinco está associada à anorexia, retardo de crescimento, diarreia, atraso na maturação sexual e prejuízo no sistema imunológico", explica a nutricionista infantil Rafaella Yumi Montesinos, do Colégio Santa Amália, de São Paulo.
Para as crianças é fundamental que haja o estímulo e acesso aos diversos grupos de alimentos (cereais, proteínas, hortaliças e frutas), desde o início da alimentação complementar, ou seja, a partir dos seis meses de vida.
"O contato com preparações diversificadas, texturas, sabores e cheiros diferentes estimulam uma melhor formação destes hábitos alimentares saudáveis", afirma Rafaella. Por isso, é importante que a boa alimentação aconteça desde os primeiros anos de vida e que continue sendo estimulada no decorrer dela.
Recém-nascido
Assim que nasce o corpo do bebê continua em pleno desenvolvimento! O recém-nascido está em formação acelerada de tecido muscular, adiposo, esquelético e muitos outros sistemas, justamente porque o seu organismo não se desenvolve completamente no útero da mãe - por isso ele necessita de vários nutrientes para formar células de qualidade.
"A amamentação é o alimento completo para o recém-nascido até os seis meses de vida, pois contêm quantidades adequadas de energia, carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais para o crescimento e desenvolvimento adequado do bebê, além de anticorpos que fortalecem o sistema imunológico dos recém-nascidos", declara a nutricionista Isabel Jereissati.
O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês favorece a prevenção de anemia, alergias, obesidade, desnutrição e deficiências nutricionais. E nesse contexto, a alimentação da mãe interfere diretamente nas características do leite, alterando por consequência a dieta do bebê.
"Por exemplo, a quantidade de gordura no leite materno é raramente alterada entre mães, mas o tipo de gordura presente no leite é modificado de acordo com a dieta materna", conta a nutricionista materno-infantil. Isso significa que mães que consomem muita gordura trans ofertarão ao bebê um leite igualmente rico nesta gordura maléfica à saúde.
"As mães devem se preocupar nos primeiros meses de vida do bebê em se alimentarem com uma dieta variada e natural, excluindo alimentos industrializados, drogas e álcool, para garantir um desenvolvimento adequado de seus filhos", finaliza.
Dietas restritivas da mães, que eliminam da dieta algum grupo alimentar, como proteína animal, oleaginosas (castanhas, amêndoas, nozes), verduras ou carboidratos, podem ocasionar deficiências de nutrientes essenciais nesse momento de amamentação.
"Nesse contexto, a prática de dietas hipocalóricas para recuperar rapidamente ao peso pré-gestacional são extremamente contra indicadas, pois podem causar interrupção da amamentação", explica a nutricionista Isabel.
Além disso, mães vegetarianas ou que possuem outro tipo de restrição alimentar por conta de alergias ou outras doenças devem reforçar a avaliação nutricional, para identificar possíveis carências nutricionais.
O uso de suplemento deve ser prescrito individualmente respeitando as necessidades de cada mãe. "Mães vegetarianas restritas, por exemplo, no geral apresentam baixas reservas pré-gestacionais de alguns nutrientes e com o aumento da demanda pelo feto, necessitam de suplementação não apenas durante toda a gestação, mas também na amamentação."
Na gravidez
A alimentação materna tem relação direta com a saúde do feto. "A demanda por nutrientes aumenta na gravidez para proporcionar condições favoráveis de desenvolvimento e crescimento fetal", explica a nutricionista Isabel Jereissati, especialista em nutrição materno-infantil.
O feto será formado de células, que por sua vez serão produzidas a partir de nutrientes ofertados pela dieta materna - e sem nutriente não se forma um indivíduo! "A maioria das mulheres apresenta baixo consumo de cálcio, ferro e ácido fólico durante a gravidez, nutrientes essenciais que devem ser ingeridos em grandes quantidades durante todo o período gestacional", afirma Isabel.
O consumo adequado de alimentos ricos em cálcio ajuda a controlar a pressão arterial, que tende a baixar durante a gestação, além de manter o desenvolvimento ósseo fetal. Já o ácido fólico é imprescindível para a formação adequada do tubo neural.
"Enquanto a deficiência de ferro aumenta o risco de mortalidade materna, parto prematuro e baixo peso ao nascer", diz a nutricionista. Em alguns casos, principalmente quando a dieta da mãe é restritiva, será necessário acompanhamento médico e suplementação.
No entanto, cuidado com os excessos: algumas pesquisas demonstram que altas doses de vitaminas e minerais também estão relacionadas a alterações durante a vida intrauterina e após o nascimento.