Dra. Licia Mota possui graduação em Medicina pela Universidade de Brasília (1999), residência médica em Clínica Médica (...
iRedatora especializada em saúde, bem-estar, alimentação e família.
A artrite reumatoide é uma doença autoimune, ou seja, anticorpos do próprio corpo reagem contra o organismo, no caso, contra a membrana sinovial - estrutura que compõe as articulações. A doença causa uma inflamação crônica nesses órgãos, que se não for tratada pode causar deformações, principalmente nas mãos, punhos e pés.
Ela faz parte do grupo chamado doenças reumáticas, que se caracterizam por enfermidades que acometem nosso sistema motor. As causas da artrite reumatoide são desconhecidas. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, quase um milhão de pessoas são portadoras da doença.
A reumatologista Lícia Maria Henrique da Mota, coordenadora da Comissão de Artrite Reumatoide, da Sociedade Brasileira de Reumatologia, explica que, se não for adequadamente tratada, a artrite reumatoide destrói as articulações, aumentando a sua dependência para realizar as tarefas diárias. No Dia Nacional de Luta Contra o Reumatismo.
Atenção para a carteirinha de vacinação
Se estar imunizado é importante para a população como um todo, nos portadores de artrite reumatoide isso é uma regra! "A vacinação garante que o paciente mantenha o sistema imunológico fortalecido e evita o aparecimento de doenças oportunistas, que podem piorar o quadro como um todo", explica o reumatologista David Pedrosa, do Hospital Santa Luzia e da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
No entanto, a vacinação da pessoa com artrite deve ter algumas ressalvas. "Vacinas de vírus vivo, como febre amarela, não devem ser utilizadas em pacientes com doença em atividade e em uso de imunossupressores", ressalta Pedrosa.
Ele também afirma que a dose da medicação do paciente também pode levar a uma interrupção do calendário de vacinação, tendo em vista que a resposta a vacina pode ser insatisfatória. "Além disso, algumas vacinas fora do calendário oficial podem ser indicadas para alguns pacientes antes deles começarem classes de medicações específicas", completa o reumatologista David.
Faça exercícios
A fisioterapia e prática de exercícios ajuda a corrigir e prevenir a perda ou a limitação do movimento articular, a atrofia e a fraqueza muscular e a instabilidade das articulações. Segundo a reumatologista Tatiana Molinas Hasegawa, do Centro de Qualidade de Vida (CQV), em São Paulo, músculos mais fortes ajudam a proteger a articulação inflamada pela doença autoimune.
"Deve-se priorizar exercícios com menor grau de impacto articular e voltado para fortalecimento muscular e alongamentos, sempre acompanhado por profissionais da área e observando as limitações individuais", afirma o reumatologista David.
No início, a reabilitação pode ser feita com exercícios isométricos (feitos com a contração muscular sem o movimento do membro) e, posteriormente, com exercícios isotônicos (que envolvem a mesma contração muscular, mas agora com o movimento), introduzindo lentamente exercícios com carga. "Após um período de 12 a 16 semanas, dependendo da evolução de cada paciente, é possível iniciar exercícios de fortalecimento", afirma Tatiana.
Durma bem
É sabido que o sistema imunológico sofre influência do ciclo sono - e nesse sentido, o paciente com artrite reumatoide se beneficia muito de uma noite bem dormida, pois o organismo entra em equilíbrio e foge de problemas como estresse, gripes, resfriados ou alterações na pressão arterial. "A higiene do sono também é fundamental para o bom controle sintomático da doença", lembra o reumatologista David.
Entretanto, alguns portadores podem sentir dificuldades para dormir por conta das dores, ficando com o sono quebrado em várias partes ou então pegando no sono muito tarde. "Em ocasiões como essa, pode se fazer necessário um cochilo da tarde, que não deve exceder o período de uma hora para não atrapalhar o processo fisiológico do sono."
Controle seu peso
Manter um peso adequado é fundamental para quem tem artrite reumatoide por diversos motivos. Inicialmente, o sobrepeso por si pode causar uma sobrecarga mecânica, e acelerar o processo de degeneração das articulações - contribuído para a piora do quadro. "Além disso, a artrite reumatoide isoladamente aumento o risco de doenças do coração, e a obesidade associada aumentaria ainda mais as chances a doença nesse paciente", alerta o reumatologista David.
A obesidade também pode favorecer problemas como hipertensão, diabetes e colesterol alto, que já são doenças comuns na pessoa com artrite independente de seu peso.
Cremes de capsaicina aliviam dores
A capsaicina é um princípio ativo com poder anti-inflamatório, que atua reduzindo as dores relacionadas com a artrite reumatoide. O reumatologista David ressalta, contudo, que o tratamento com cremes a base de capsaicina é basicamente para alívio sintomático e não um tratamento para a doença. "Esses produtos são indicados uma a duas vezes ao dia, com o cuidado de evitar a exposição à luz solar e contato com olhos, boca e outras mucosas."
Mudanças em casa
Com a progressão das deformidades, pode ser difícil praticar algumas atividades simples, como abotoar uma camisa ou virar uma maçaneta. Por isso, é importante ficar atento e fazer pequenas modificações na mobília da casa e outros objetos para facilitar o máximo a convivência do paciente com a artrite reumatoide, a fim de que as dores não sejam tão frequentes e a as atividades menos debilitantes.
A reumatologista Lícia Maria Henrique da Mota, coordenadora da Comissão de Artrite Reumatoide, da Sociedade Brasileira de Reumatologia, explica que usar velcro no fecho das roupas, preferir maçanetas e torneiras em formato de cabo em vez das redondas, adaptadores para utensílios domésticos ou então aparelhos elétricos, como facas e escovas de dente, são altamente recomendados.
Outro ponto importante é o risco de osteoporose, que é maior nos pacientes com artrite reumatoide. Por isso, além do acompanhamento médico e avaliação da densidade óssea constantes, a especialista recomenda que sejam feitas algumas adaptações na casa desse paciente, a fim de evitar quedas.
"Colocar barras no banheiro, preferir sabonetes líquidos (em vez da versão em barra, que pode escorregar e cair no chão) e evitar o uso de tapetes são medidas simples que previnem o problema."
Evite passar muito tempo na mesma posição
"O repouso por período prolongado favorece o acúmulo de líquido no interior da articulação inflamada, levando a distensão dessa e ao aumento da sensibilidade dolorosa", conta o reumatologista David. Esse é um dos motivos pelo qual os pacientes geralmente pioram as dores pela manhã ao acordar.
Como não dá pra alongar enquanto dormimos, o melhor a fazer é evitar passar horas sentado ou com os membros parados em uma mesma posição durante muito tempo.
Se você vai viajar de carro ou avião, faça paradas ou levante-se do assento em alguns momentos, e enquanto estiver sentado procure movimentar e alongar as mãos, braços, pernas e pés. Se você trabalha em um escritório, procure alongar-se de tempos em tempos.
Tome as medicações indicadas pelo médico
O tratamento deve ser rigorosamente seguido sob pena de evolução da doença, e consequente destruição articular. "O acompanhamento profissional periódico com adequação de medicações também faz parte do tratamento", afirma o reumatologista David.
Hoje basicamente o tratamento é baseado em imunossupressores, que diminuem a agressão do sistema imunológico contra as articulações e outras estruturas acometidas.
Com o avanço das pesquisas e das novas tecnologias, os pacientes cada vez mais levam uma vida normal sem nenhuma limitação - entretanto, nada disso vale se você não seguir as recomendações médicas e tomar seus remédios à risca.
Indicações da cirurgia
"Hoje em dia a cirurgia para artrite reumatoide é uma exceção", revela David Pedrosa. Ele explica que há aproximadamente 30 anos, quando os tratamentos disponíveis não apresentavam uma resposta efetiva, a cirurgia mostrava-se uma opção para alívio das dores resultantes da atividade da doença.
"Ela era realizada retirando-se a superfície de cartilagem entre as articulações e 'colando' os ossos constituintes", diz. No entanto, os pacientes perdiam a função da articulação em questão. "Felizmente hoje a cirurgia é cada vez mais rara e já praticamente em desuso, diante das novas modalidades terapêuticas."
O procedimento é indicado apenas para aqueles pacientes com gravidade que estão respondendo aos tratamentos utilizados.