Médico diplomado desde 2000 pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) com formação acadêmica em Clínica Médica pela&nb...
iO que é Teníase?
A teníase é uma doença parasitária que ocorre quando a forma adulta de um tipo de tênia (verme) está presente no intestino humano. Seu contágio acontece após a ingestão de carne de porco ou de boi crua, mal cozida ou mal passada que estava previamente contaminada por larvas, chamadas também de cisticercos.
Apesar de a teníase ser uma verminose que acomete principalmente o intestino através da corrente sanguínea, ela pode também atingir outros órgãos, passando pelo fígado, coração e pulmões. Durante o seu ciclo evolutivo, um único verme adulto é formado, permanecendo solitário no intestino, por isso popularmente a tênia pode ser chamada de solitária.
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Causas
O que provoca a teníase?
A teníase é provocada por dois diferentes vermes intestinais, que têm um aspecto de uma longa fita, podendo medir até 10 metros de comprimento - e, muitas vezes, passam despercebidos pelo portador. Essa parasitose está muito relacionada à falta de saneamento básico e consumo de carnes malcozidas.
Os principais vermes intestinais que causam a doença são separados em duas classificações:
Taenia solium
A contaminação por Taenia solium no indivíduo ocorre através do consumo de carne de porco. Em sua forma adulta, seu formato pode ser diferenciado da Taenia saginata pela presença de “ganchos” na parte de seu corpo que se fixa ao hospedeiro.
A contaminação por Taenia solium no indivíduo ocorre através do consumo de carne de porco mal cozida e contaminada. Em sua forma adulta, seu formato pode ser diferenciado da Taenia saginata pela presença de “ganchos” na parte de seu corpo, que se fixa ao hospedeiro.
Jerônimo De Conto Oliveira, gastroenterologista representante da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), explica que, no ser humano, a ingestão de alimentos contaminados por essa tênia pode causar também a cisticercose, como veremos mais à frente.
Taenia saginata
A Taenia saginata é o segundo parasita responsável pela teníase. Enquanto a Taenia solium contamina essencialmente a carne suína, a Taenia saginata contamina a carne bovina.
Em suas formas larvais, não é possível diferenciar as duas tênias. Porém, em seu estágio adulto, a saginata não possui ganchos na parte de sua anatomia responsável pela fixação no hospedeiro. Apesar disso, a presença de ventosas já é o suficiente para firmar o parasita no intestino.
Teníase e cisticercose: qual é a diferença?
O gastroenterologista Irigrácin Lima Diniz Basílio explica que tanto a teníase quanto a cisticercose são doenças transmitidas pela Taenia e, portanto, pela mesma espécie de cestódeo (parasita interno), porém, em cada quadro o agente está em umas diferente fase do seu ciclo de vida.
A teníase é marcada pela presença do verme adulto no organismo. A cisticercose, por sua vez, ocorre quando, após a ingestão de alimentos contaminados, as larvas migram pela corrente sanguínea e se instalam em órgãos e tecidos do corpo (como músculos, cérebro, fígado) sob a forma de cisticerco. Uma vez instalados, os cisticercos permanecem nos tecidos sem migrar ou evoluir e podem gerar doenças potencialmente graves, como a neurocisticercose, situação em que há acometimentos neurológicos como crises epilépticas e distúrbios psíquicos.
Transmissão
Ciclo de vida da tênia
A transmissão da teníase começa quando os ovos das tênias adultas saem do hospedeiro humano através da eliminação das proglotes (segmentos do corpo do verme) junto às fezes, que podem ser consumidas por animais, como porco ou gado, quando há problemas de saneamento básico na região.
O bacharel em ciências biológicas Fernando Bagnariolli explica que, em seguida, os ovos do parasita eclodem em larvas no trato digestivo do animal, caindo na corrente sanguínea e parando na musculatura desse hospedeiro intermediário.
Essa larva forma um cisticerco e pode vir a ser ingerida pelo ser humano ao consumir a carne do animal mal-cozida. Após passar pelo estômago humano, sai desse cisticerco uma larva, que se instala no intestino e se desenvolve até sua forma adulta, dando origem à teníase. Pode, então, ser dada origem novamente ao ciclo da doença.
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Sintomas
A maior parte das pessoas infectadas pode não ter quaisquer sintomas de teníase. Porém, algumas manifestações comuns e inespecíficas da doença são:
- Dor abdominal
- Náusea
- Debilidade
- Perda de peso
- Flatulência
- Diarreia ou constipação
- Perda do apetite
- Ansiedade
- Dor de cabeça e urticária
É importante lembrar que, quando o verme cresce demasiadamente, também pode haver obstrução do apêndice, colédoco (duto do sistema digestivo responsável pelo transporte de bile) e do duto pancreático.
Diagnóstico
A identificação da doença costuma ocorrer principalmente pelas manifestações clínicas ou relato de eliminação de partes do corpo do verme (proglotes) nas fezes.
Segundo Irigrácin Lima, com relação à Taenia solium, que elimina os segmentos do seu corpo, o método de peneiração (tamização) das fezes costuma auxiliar na identificação do quadro. Já nos casos de contaminação pela Taenia saginata, é possível sua visualização em roupas de cama ou roupas íntimas, uma vez que suas proglotes têm um sistema muscular fortalecido que permite mobilidade e eliminação.
Outro forma de se diagnosticar a teníase é a pesquisa direta na região perianal em busca da identificação de ovos de tênia (método de Graham ou de Hall).
Tratamento
O tratamento da teníase pode ser feito com um antiparasitário tomado por via oral. Alguns dos mais indicados são:
- Mebendazol
- Clorossalicilamida
- Niclosamida
- Praziquantel
- Albendazol
Toda e qualquer medicação deve ser tomada com orientação e prescrição médica. Em casos excepcionais, como aqueles em que o parasita cresce demais dentro do intestino e penetra em outros órgãos e tecidos, são requeridas intervenções cirúrgicas.
Prevenção
As medidas de controle e prevenção da teníase são focadas na interrupção do ciclo de vida do parasita, evitando o contágio de animais e pessoas. Para isso, são necessárias ações higiênicas e sanitárias, como:
- Construção de rede de esgotos
- Práticas higiênicas adequadas por parte da população, não consumindo alimentos (carnes) crus ou malcozidos
- Lavagem adequada das mãos após usar o banheiro e antes de se alimentar
- Ambientes domiciliares que possuem criação de animais devem ser bem estruturados para que não haja nenhum tipo de contato entre os animais e fezes humanas.
“A prevenção pode ser atingida a partir da educação em saúde voltada para a população, deixando-a alerta sobre os riscos e medidas de controle, mas também através do estímulo ao consumo de carnes e derivados bem assados e cozidos”, explica Irigrácin.
Além disso, a identificação e o tratamento dos doentes contaminados são fundamentais para romper o ciclo da teníase. Por isso, com o surgimento de qualquer sinal da parasitose, busque auxílio médico imediatamente.
Referências
Fernando Bagnariolli, biólogo especialista
Irigrácin Lima Diniz Basílio, membro titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia
Jerônimo De Conto Oliveira, gastroenterologista especialista em Endoscopia Digestiva, representante da Associação Médica do Rio Grande do Sul
Neurocisticercose: artigo de atualização da doença publicado pela Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical