Clínico geral e nutrólogo, diretor da clínica Dr. Roberto Navarro. Formado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz...
iUma das queixas muito frequentes atualmente nos consultórios médicos é a "dor no estômago", chamada pela classe médica de dor epigástrica ou epigastralgia. A "queimação" no estômago ou azia também acompanha o repertório de queixas que pode indicar algum problema no aparelho digestivo.
A abordagem médica inicial tem como objetivo compreender melhor se os sintomas citados realmente podem ser por problemas estomacais, ou se podem ser por alterações de outros órgãos envolvidos como fígado ou pâncreas, que podem confundir o diagnóstico mais preciso. Uma vez suspeitando-se ser o estômago o órgão desencadeador dos sintomas, exames complementares podem ser solicitados para confirmação diagnóstica, ficando a critério do médico assistente a necessidade ou não dos mesmos.
A gastrite (inflamação da mucosa do estômago) pode ser desencadeada por várias causas, como algumas citadas abaixo:
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Colonização por bactéria (Helicobacter pylori).
- Uso de medicação por tempo prolongado que agride a mucosa gástrica (anti-inflamatórios, ácido acetilsalicílico)
- Aumento da secreção ácida do estômago por estresse (gastrite "nervosa")
- Intolerância (individual) a alguns alimentos irritantes da mucosa gástrica.
Dentro dos tratamentos iniciados para o paciente com gastrite, além da medicação específica, há grande importância para a questão alimentar, sendo muitas vezes decisiva na melhora do quadro clínico.
Cuidados ao se alimentar
Primeiramente, é importante evitar dar intervalos muito grandes entre as refeições, pois para alguns pacientes predispostos geneticamente o contato do suco ácido do estômago diretamente com as células da mucosa gástrica pode levar à uma irritação local e desencadear a gastrite. Isto não acontece quando o alimento está no estômago funcionando como uma barreira física entre o ácido clorídrico produzido pelo estômago e sua mucosa. Muitas horas sem se alimentar também pode piorar a azia. O ideal é comer de 3 em 3 horas.
Alguns hábitos devem ser estimulados no paciente com gastrite, como fracionar a alimentação em volumes menores, evitar refeições "pesadas" com muitos alimentos, de fácil mastigação e digestão (refeições mais leves) em temperaturas não muito elevadas, a fim de contribuir para a melhora do quadro clínico.
Alimentos que devem ser evitados
Alimentos mais gordurosos geralmente necessitam de uma digestão mais intensa, exigindo uma produção maior de suco digestivo pelo estômago que, por ser muito ácido, pode piorar o quadro da gastrite, como é o caso das frituras, carnes gordurosas, manteiga, chocolate, queijos gordurosos (amarelos), biscoitos amanteigados, croissants e embutidos como bacon, salame, presunto gordo, salsichas e mortadela. Alguns temperos e condimentos fortes também podem trazer desconforto ao paciente com gastrite, como pimentas, noz-moscada, vinagre, mostarda, cravo-da-índia e páprica, sendo melhor evitá-las principalmente na fase inicial dos tratamentos.
Alguns pacientes, mas não todos, referem piora da gastrite com algumas frutas mais ácidas como as cítricas: limão, abacaxi, maracujá, laranja, acerola, tangerina e morango. No início dos tratamentos é prudente evitá-las. Alimentos em conserva como o caso dos picles, enlatados, tomates e seus subprodutos como molhos e extratos também são descritos como mal tolerados pelos pacientes, tendo suas ingestas desencorajadas do ponto de vista alimentar.
Saiba mais: Cuidados na preparação dos alimentos evitam azia
Cuidados ao ingerir líquidos
As bebidas alcoólicas causam uma irritação direta na mucosa gástrica, além de estimular o aumento da produção do suco ácido do estômago, sendo portanto proibido seu uso nos pacientes com gastrite. O café (que contém cafeína) também é descrito como alimento a ser descontinuado, pelos mesmos motivos anteriormente citados, embora alguns pacientes tolerem pequenas quantidades.
Beber muito líquido nas refeições pode dificultar o processo adequado da digestão, devido à diluição do suco gástrico, sendo o volume máximo de 200 ml o permitido para não atrapalhar a eficiência digestiva e desencadear a sensação de "estufamento" após a refeição. A cultura popular de tomar leite para diminuir a acidez do estômago deve ser evitada, pois ao diminuir abruptamente essa acidez, o corpo interpretará em seguida como "falta" de acidez no estômago e passará a produzir uma quantidade exagerada de suco gástrico, que é ácido, algum tempo depois da ingesta do leite, voltando o sintoma de "queimação", fenômeno chamado de efeito rebote, piorando mais a ainda os sintomas dispépticos.
Outros cuidados
O tabaco (cigarro) pode estimular a produção de ácido clorídrico pelo estômago elevando demasiadamente a acidez local, podendo contribuir para o aparecimento ou para a piora da gastrite, devendo ser formalmente evitado.
Diminuir o estresse, reservando horários para momentos de lazer e relaxamento, buscar psicoterapia de apoio para casos específicos de transtornos da ansiedade e ajuda de medicação específica (sob prescrição médica) em casos mais extremos são atitudes importantes na busca do tratamento da gastrite "nervosa".
Alimentos aliados contra a gastrite
Quanto aos hábitos alimentares que podem contribuir para a melhora da gastrite ainda é um assunto polêmico na medicina, mas certamente as observações das experiências acumuladas no dia a dia do consultório permitem predizer alguns fatos, como descritos abaixo:
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Verduras (cozidas) como couve e espinafre são coadjuvantes no controle da acidez estomacal excessiva, podendo fazer parte das escolhas do dia a dia.
- Chás de melissa, erva-cidreira, espinheira santa, erva-doce e camomila podem contribuir como coadjuvantes no alívio dos sintomas, mas jamais substituem os tratamentos medicamentosos.
Por fim, procurar ajuda de médicos e nutricionistas é fundamental para o diagnóstico correto da gastrite e seu tratamento envolvendo também o direcionamento nutricional adequado.