Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (2004). Concluiu no ano de 2008 a Residência em Clínica...
iNo mundo, pelos dados de 2013, o diabetes já afeta aproximadamente 371 milhões de pessoas. Aqui no Brasil, nós somos o quarto país do mundo em número de casos, quase 13,4 milhões de brasileiros, segundo dados no mesmo ano.
Oferecer novas possibilidades de tratamentos, com maior comodidade, eficácia e controle dos níveis de açúcar no sangue: estes têm sido os focos de diversos estudos nas últimas décadas, com o objetivo de tornar a vida dos diabéticos mais simples e fácil.
Neste artigo, vamos falar de algumas destas novidades. Prepare-se, pois é de fato um admirável mundo novo que se abre diante dos seus olhos:
Insulina biossimilar
A primeira insulina biossimilar do Brasil foi registrada pela Anvisa em maio de 2017. O produto, chamado Basaglar, é uma insulina análoga de longa duração administrada por injeção subcutânea, sendo uma opção de tratamento para diabetes tipo 1 e 2. O biossimilar é uma cópia de um medicamento biológico de referência, mas é diferente de um genérico, que tem características que impedem que o produto final seja idêntico ao medicamento biológico que serve de comparação. O produto foi atestado como biossimilar do medicamento de comparação Lantus (insulina glargina).
Insulinas orais
Pergunte a qualquer diabético que usa insulina qual é seu maior desconforto. Pode ter certeza que na grande maioria dos casos a pessoa irá se queixar das picadas da agulha e das medidas do aparelho de glicemia. A ideia de se sintetizar em laboratório uma insulina que funcione e não seja injetável não é nova. Em 2006 chegou a ser comercializada no mundo uma insulina inalatória, porém foi retirada do mercado em 2007 por não ter sido amplamente aceita, uma vez que não abolia todas as injeções durante o dia. Nos anos seguintes, novos estudos se seguiram e atualmente as perspectivas do lançamento de uma insulina via oral estão bem mais próximas.
Até então era sabido que quando se tentava sintetizar a insulina colocando-a em formato de comprimido, as enzimas digestivas do nosso estômago e intestino se encarregavam de destruí-la, o que tornava o tratamento ineficiente. Agora, foi desenvolvido um novo tipo de comprimido que, nos testes iniciais, tem demonstrado eficácia e perfil de segurança adequados. Esta insulina oral ainda está em fase de testes, mas surge como uma boa promessa para os próximos anos.
Células-tronco
Por apresentarem potencial de se diferenciar em qualquer outra célula do organismo, as células-tronco têm sido usadas no tratamento dos pacientes diabéticos, demostrando resultados promissores. Por décadas, os pesquisadores tentam transformar as células-tronco em células do pâncreas, para que elas possam produzir insulina e fornecer ao paciente o seu suprimento normal deste hormônio. A tentativa nas pesquisas é justamente injetar estas células-tronco que irão produzir insulina, sem o paciente apresentar rejeição.
Uma linha de pesquisa é o uso de células-tronco do paciente para controlar o seu próprio sistema imunológico. Sabe-se que o diabetes tipo 1 ocorre quando o organismo do paciente passa a não reconhecer as células que produzem insulina (as células Beta pancreáticas) e as ataca, destruindo-as. No Brasil, a equipe de cientistas da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, tem realizado várias pesquisas nesse campo, com resultados animadores.
Um dos líderes desta pesquisa, o Dr. Eduardo Couri, tem divulgado os resultados deste trabalho, dentre eles o "Transplante Autólogo de Células-Tronco Hematopoéticas em Pacientes diabéticos tipo 1 recém-diagnosticados". A ideia nesta técnica é a coleta de células-tronco da pessoa com diabetes, seguida pelo uso de medicamentos que forcem o sistema imunológico a se desligar - como se fosse uma quimioterapia - e na sequencia, injetar novamente as próprias células-tronco do paciente para que ocorra uma reorganização do sistema de defesa, que não mais atacará as células que produzem insulina, preservando, assim, o pâncreas.
Outra linha de estudos que tem avançado muito nos últimos anos é a pesquisa com a transferência nuclear de células somáticas. Estes trabalhos, com publicações recentes da segunda quinzena de abril de 2013 pelo grupo do Dr Young Gie Chung, em colaboração com a Universidade de Seul e a Universidade de Los Angeles, tem obtido sucesso nesta técnica.
A transferência nuclear consiste de uma célula-tronco receber o núcleo de uma célula madura e já diferenciada, e assim podem produzir células com diversos propósitos terapêuticos, semelhantes àquela que doou o núcleo. Com a evolução deste processo será possível produzir de forma segura em laboratórios células Beta pancreáticas, as células que produzem insulina, e assim regenerar os pâncreas danificados, seja por diabetes tipo 1 ou 2.
Remédios com atuação nos rins
Recentemente foi lançada no mercado uma nova classe de medicamentos, os inibidores do SLGT2. Em algumas situações, o nosso rim reabsorve a glicose que foi filtrada e que iria para a urina por meio de um canal co-transportador, que é chamado de SGLT2, da sigla em inglês para sodium-glucose cotransporters. O alvo destes medicamentos novos é justamente bloquear o funcionamento deste canal e aumentar a saída do excesso de glicose pela urina, fazendo com que a glicose no sangue caia e assim normalize. Vários medicamentos foram desenvolvidos nos últimos anos: dapagliflozina, canagliflozina e empagliflozina. No Brasil, a dapagliflozina já está disponível, e a canagliflozina tem previsão de chegada para os próximos meses.
Infusão inteligente de insulina
Já existentes no mercado há vários anos, as bombas de insulina tem apresentado a cada ano mais inovações, sejam de hardware, com dispositivos menores e mais leves, sejam de softwares mais potentes e capazes de gerenciar melhor a entrada da quantidade de insulina no sangue. O lançamento da bomba de insulina Medtronic MiniMed 530G, que está sendo chamada de ?o avanço na direção no pâncreas artificial?, é um exemplo do como as pesquisas tem evoluído neste sentido. Isto acontece porque o seu software calcula de forma mais precisa a quantidade de insulina que será injetada, além de receber informações sobre o comportamento da glicose sanguínea para fazer este cálculo. Além disso, ele pode receber dados de um sistema eletrônico chamado de CGMS, sigla em inglês para sistema de monitoramento contínuo de glicose. O CGMS é um sensor inserido no subcutâneo do paciente, que envia informações para a bomba de insulina em tempo quase real sobre o comportamento da glicemia.
Saiba mais: Diabetes: como a dieta interfere na glicemia?
Vacinas
É da Universidade de Stanford a notícia de testes de uma vacina com capacidade de frear o sistema imune, e assim evitar que ele ataque o pâncreas e destrua as células beta no diabetes tipo 1. Os dados publicados na revista Science Translational Medicine em junho de 2013 a partir de um estudo multicêntrico de 12 semanas demonstraram que aqueles que receberam a vacina apresentaram menor destruição das células beta do pâncreas, comparados com os que não haviam recebido. A ideia agora é aplicar esta pesquisa em grupos maiores de pessoas e verificar se os bons resultados se confirmam.
Fontes:
http://oramed.com/userfiles/files/ORMD-0801%20P2a%20trial%20results(1).pdf
http://www.endocrino.org.br/pesquisas-com-celulas-tronco-no-tratamento-do-diabetes/
http://www.cell.com/cell-stem-cell/abstract/S1934-5909(14)00137-4
http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=96912014&pIdAnexo=1929667
http://professional.medtronicdiabetes.com/minimed-530-g
http://med.stanford.edu/ism/2013/june/diabetes.html