Médico Especialista em Endoscopia Digestiva, Coloproctologia e Gastroenterologia. Membro titular das Sociedades Brasilei...
i A doença hemorroidária afeta cerca de 800.000 pessoas ao ano no Brasil. Para o paciente, normalmente qualquer problema relacionado ao ânus se deve as "hemorroidas". Prurido, nodulações, dor, inchaço, sangramentos, prolapsos, etc. Porém, há diversas outras entidades que acometem a região anal, que não a hemorroida.
As hemorroidárias são formações vasculares constituídas por veias e artérias que fazem parte da anatomia do ânus, sendo essenciais para protegerem o canal anal de traumatismos durante a evacuação. Sintomas decorrentes de suas complicações refletem numa das queixas mais comuns na civilização ocidental. Estima-se que em torno de 50% das pessoas com mais de 50 anos já foram afetadas por queixas relacionadas às hemorroidas em algum momento de suas vidas. Afeta ambos os sexos, em qualquer idade, com maior incidência em pessoas de melhor padrão socioeconômico. Porém, há um discreto predomínio em mulheres, com pico de incidência entre os 45 e 65 anos.
Há diversos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da doença, porém, há ainda controvérsias quanto a estes possíveis fatores. Em ordem de relevância, podemos citar a gravidez, hereditariedade, obesidade, ocupação profissional, esforço evacuatório, entre outros.
As hemorroidas podem ser internas ou externas. Essa diferenciação é importante ao se definir o tratamento. As internas tendem a sangrar e prolapsar, e as externas tendem a inchar e obstruírem por coágulos, o que geralmente gera a dor da tão temida ?crise? de hemorroidas. Portanto, as hemorroidas nem sempre se manifestam na parte externa do ânus, podendo estar internas e gerar apenas desconforto e sangramento, sem outras manifestações.
A queixa mais comum é o sangramento, que habitualmente ocorre durante ou após a defecação. A dor normalmente só ocorre quando há a trombose ("crise" por obstrução por coágulo). Prolapso (exteriorização) também é um sintoma comum.
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Quanto ao diagnóstico, deve-se estar atento para sintomas que indiquem outras possíveis doenças que não as hemorroidas. Dor frequente após a evacuação sugere fissura anal. Outras causas de dor crônica ano-retal são as doenças inflamatórias intestinais, tumores, fístulas anais. Dor aguda com nodulação normalmente se deve a trombose hemorroidária externa ou abscesso. O exame físico consiste na inspeção anal e no toque retal, que normalmente são bastante esclarecedores se bem executados, podendo ser complementados com exames como a sigmoidoscopia e a colonoscopia, exames endoscópicos do reto, canal anal e intestino grosso, respectivamente.
Recomenda-se que sempre que haja sangramento se procure um médico especialista, pois nesses casos se faz necessário diagnóstico precoce, uma vez que doenças mais graves podem se manifestar somente por sangramento. Além disso, dor aguda de forte intensidade urge por uma avaliação o mais breve possível, principalmente se houver nodulação, podendo se tratar de trombose hemorroidária externa ou abscesso. Ademais, dores crônicas, prolapso, prurido, secreção, inchaço ou anormalidades percebidas ao se tocar podem ser avaliadas e tratadas adequadamente por um bom médico.
Quanto ao tratamento, recomenda-se dieta rica em fibras e líquidos e banhos de assento com água morna. Essas medidas, aliadas a medicamentos para uso local e via oral, tendem a melhorar os sintomas, mas não eliminam as hemorroidas.
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Para as hemorroidas internas, quando ainda não exageradamente avançadas, optamos pela ligadura elástica, principal tratamento não cirúrgico realizado nos Estados Unidos e que se comprovou mais efetivo que outros métodos não-cirúrgicos. Nas hemorroidas internas de grande volume e com prolapso, as técnicas do PPH (grampeamento das hemorroidas) e o THD (desarterialização guiada por Ultrassom Doppler) são menos dolorosos que a cirurgia convencional. Para as hemorroidas externas, a cirurgia convencional, desde que bem executada, confere melhores resultados, principalmente se há grandes excessos de pele na região perianal.