Formada em psicologia pelo Centro Universitário Paulistano e em psicanálise pelo Centro de Estudos em Psicanálise.Especi...
iNem sempre um casal concorda em tudo. Muitas vezes um dos parceiros em um relacionamento sonha em se casar e o outro não quer nem pensar em botar os pés na Igreja ou no cartório. Pois é, isso acontece e é mais comum do que muitos imaginam! Apesar de se gostarem e estarem juntos há certo tempo, é comum que um lado do casal não tenha o mesmo interesse em casar assim como o outro. E isso não significa, necessariamente, que não ame ou que não tenha planos para aquela relação. É, eu sei, é uma ideia confusa, mas espero conseguir esclarecer ou ampliar as reflexões sobre o tema a seguir.
A origem do casamento
Socialmente viemos de um contexto em que as relações existiam por movimentos políticos, serviam para firmar negócios e garantir um propósito social na vida das pessoas. Casar era uma negociação e uma obrigação social, não era considerado o desejo, o amor e sentimentos neste arranje, isto não cabia a um casamento.
Os tempos mudaram e as relações também. Dessa forma, a escolha pessoal e sentimental passou a ganhar força e ser fundamental nas relações humanas. As pessoas passaram a buscar suas relações através de sentimentos, identificações, desejos e planos particulares para um futuro. Porém, ainda carregam consigo alguns tabus históricos e muitas vezes não se dão conta de que acabam apenas repetindo certos padrões. É o caso do casamento, que normalmente se torna gerador de confusão, pois, mesmo com tantas mudanças de hábitos e ideias, muitos casais ainda se veem diante de crises quando chegam neste ponto, sendo assombrados pelo fantasma da obrigação.
Muitos casais, prestes a subir no altar, não sabem bem responder por que estão casando. E quando questionados, respondem algo similar a: "porque estamos na idade de casar", "porque namoramos há muito tempo", "porque todos já casaram", "para ter filhos", "porque sonho com a igreja e a festa" ou "porque minha família quer".
Nestas respostas não vemos de fato uma consciência sobre o casamento! E esta falta de consciência sugere uma ausência de um desejo real, ou seja, falamos de fantasias e repetições de padrões sociais e mesmo que os noivos se amem, parece que o amor cede espaço para a obrigação, acaba faltando interação entre razão e emoção. É comum usarmos como discurso que o amor é quem nos une. Não discordo da importância deste ponto, mas, na verdade, não escolhemos ou ficamos com alguém unicamente por sentimentos amorosos. Vários estudos mostram que nos atraímos pela outra pessoa tanto por desejos primitivos, sexuais e de procriação (atração física) como também pela estrutura que aquela pessoa nos retrata, ou seja, sua personalidade e cultura. Buscamos, mesmo que inconscientemente no outro, preencher ou satisfazer nossas necessidades particulares. E este é o ponto, do conflito, pois o fato de gostarmos de alguém e estarmos há certo tempo com aquela pessoa não significa que ambas as partes pretendam casar!
Por que casar ou não casar?
Muitas relações em nossas vidas são passageiras (independente o tempo), pois possuem como base o único interesse em satisfazer sua carência pessoal (tanto sexual, como também para ter uma parceria em certos momentos de vida). Mediante a isso, é muito comum casais permanecerem ao lado um do outro por anos e gostarem desta acomodação, mas não ter interesse em uma construção futura. E é este ponto que merece atenção!
Não ter interesse em casar não significa que o parceiro não ame ou não tenha carinho sincero pela outra parte. O que pode estar acontecendo é que estas duas pessoas vivem momentos diferentes de vida ou mesmo possuem referências históricas bem opostas sobre o assunto. Há pessoas (tanto homens quanto mulheres) que crescem buscando, desejando ou imitando o sonho de um casamento. Assim como também há aqueles que entendem o casamento como um meio difícil e gerador de estresse ou de aprisionamento e por isso buscam evitar ou tardar o máximo que podem chegar a esta etapa de vida.
Esta divergência do tempo e também nas formas de enxergar a vida por ângulos diferenciados são bases fundamentais a serem consideradas numa decisão conjunta e de longo prazo, como é a proposta do casamento. Não estou retirando a importância do amor ou dos sentimentos, ao contrario, estou agregando outros ângulos que merecem atenção, reflexão e diálogo do casal. E podem ajudar em um final feliz, independente se vão casar ou não.
Diferentes opiniões
Não é preciso muito esforço para perceber se há uma divergência no casal quanto a este assunto. Basta um reparar na reação do outro quando o assunto surge. As piadinhas que sugerem ideia de estar aprisionado, usando coleira, perdendo a vida e a diversão, são movimentos que mostram que aquela pessoa não está favorável a ideia, ao menos não no momento. Também vale reparar nos noivados, que não possuem data para o casamento e podem durar anos e até década! Esta necessidade de adiar ou de não falar sobre o assunto mostra claramente que um dos lados não está muito a vontade com o plano ou mesmo que não deseja realizar esta etapa, mesmo que goste muito da pessoa.
Ao contrario do que muitos dizem, morar junto não necessariamente é enrolar ou adiar casamento. Muitas vezes já é o próprio casamento, mas se torna mais leve, por estar livre das pressões sociais e familiares. Morar junto já uniu muitas pessoas e muitas se tornam casadas assim. Vivendo a experiência conjunta perdem o medo e abrem espaço para firmar um casamento. Porém, assim como tudo na vida, não devemos acreditar que morar junto serve para todos, porque isso não acontece. Isto é, há casos em que morar junto pode não firmar a relação.
Não existe técnica ou forma ou tempo para casar. O que existe são duas pessoas diferentes, mas com pontos em comum, por isso se aproximaram e demonstram querer estar juntos. Estas duas pessoas, com seus sentimentos e visões sobre vida, pessoal, familiar e profissional, devem se questionar abertamente, conversando muitas vezes e assim formando opiniões sobre planos e desejos futuros, entendendo um ao outro. É este dia a dia que irá responder sobre o sim ou não!
Durante o namoro, muita coisa pode ser respondida e serve para análise do futuro daquele casal. Exemplo: quando uma das partes vive falando como vai ser sua cerimônia de casamento, quantos filhos terão, como será sua casa e etc., esta pessoa está dizendo que pretende casar e busca uma parceria para concluir este desejo ou ideia. Assim como quando uma das partes vive ridicularizando, fazendo piadinhas que menospreze um casamento, ou só pensa em custos, valores, perdas de liberdade, então esta pessoa está dizendo que não vê o casamento como algo bom e talvez não seja algo desejado em sua vida, pelo menos por alguns próximos anos.
Normalmente o maior conflito se dá porque o casal ignora estas mensagens sobre suas diferenças de ideias e momento de vida e mesmo assim, continuam fazendo planos com o outro, ignorando as divergências, acreditando que em algum momento o outro irá mudar! Desde então podemos já dizer que não existe uma proposta firme, nem tão pouco saudável ou com chances de dar certo, mesmo que se casem. O casamento é um contrato sentimental e também prático assinado e desejado por ambas as partes. Então é preciso que os dois lados montem o contrato em conjunto, com dados reais obtidos das conversas e das atitudes que presenciam um do outro e com as necessidades de ambas as partes. Só assim saberão.
Uma relação boa e com chances de futuro acontece quando ambas as partes sonham em conjunto e partilham uma sintonia de ideias e desejos. Quando os projetos de vida não coincidem ou não estão no mesmo tempo é muito provável que a relação sofra conflitos e mesmo que se amem muito, isto não é garantia de casamento ou de felicidade. Talvez algumas perguntas a serem feitas, para quem pensar em se casar sejam:
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Quem seu sou?
- Para onde quero ir?
- Por que me casaria?
Depois de se fazerem essas perguntas, podem trocar as respostas e analisae. Isso tende a evitar que alguém saia magoado ou frustrado.
Casar pode sim ser muito bom. E, acreditem, pode dar certo desde a primeira vez! Há muitos casos confirmando este sucesso e talvez o que todos estes tenham em comum é a existência dos dois lados assinando o contrato com um interesse similar, uma harmonia de desejos e projetos. Estar em sintonia não é querer as mesmas coisas ou concordar com o outro, mas é preciso que ambas as partes sintam que estão ganhando ou somando os planos de vida e não atendendo um pedido ou cumprindo uma etapa de vida.
Sugiro a todos os casais, namorados e os casados também, busquem um ao outro para conversar sempre e assumam seus planos de vida. Tentem buscar o respeito e a existência dos dois na relação. Observem seus sentimentos e também os objetivos práticos da vida atual e futura. Refletir se o casamento dará certo ou se é o momento certo ou não, pode ajudá-los a entender alguns conflitos e também a encontrar soluções.
Espero que sejam felizes!