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O exame de biomarcadores para pré-eclâmpsia é utilizado para auxiliar no diagnóstico de pré-eclâmpsia antes mesmo dos primeiros sinais clínicos. Além disso, nas pacientes com diagnóstico de pré-eclâmpsia, os biomarcadores permitem predizer a gravidade da doença hipertensiva, auxiliando o médico na condução, aconselhamento e previsão dos riscos.
A pré-eclâmpsia é definida pelo aumento da pressão arterial associada à proteinúria (perda de proteínas na urina) após a 20 ª semana de gestação. É considerada uma importante causa de morbidade e mortalidade materna, fetal e neonatal no mundo, acometendo cerca de 5 a 10% de todas as gestações. Os distúrbios hipertensivos estão entre as três principais causas de morte materna no Brasil e no mundo.
Para diagnosticar a doença, o exame analisa a concentração de duas moléculas no sangue da gestante: a sFlT-1 (tirosina quinase solúvel) e o PlGF (fator de crescimento placentário). Em gestantes que desenvolvem pré-eclâmpsia, verificou-se que os níveis de sFlT-1 estão elevados e os níveis de PlGF reduzidos quando comparados com uma gravidez normal, mesmo antes de ocorrerem os sintomas clínicos.
Estes biomarcacores são analisados em conjunto e a relação entre eles (sFlT-1/PlGF) traz informações importantes como gravidade da doença e risco de aparecimento da doença nos próximos dias.
Sinônimos
biomarcadores para pré-eclâmpsia, exame de pré-eclâmpsia
Indicações
Embora não faça parte da rotina de pré-natal normal, este exame pode ser realizado a partir de 20 semanas de gestação. As gestantes aconselhadas a realizar este exame são aquelas que possuem fatores de risco para pré-eclâmpsia, como:
- Primeira gestação
- Antecedentes pessoais de pré-eclâmpsia e eclâmpsia
- Histórico familiar de pré-eclâmpsia e eclâmpsia
- Hipertensão arterial crônica
- Doença renal pré-existente
- Obesidade
- Gestação de gêmeos
- Diabetes mellitus
- Trombofilias (alterações na coagulação sanguínea que aumentam o risco de trombose)
- Doença trofoblástica gestacional
- Isoimunização Rh
- Histórico de restrição de crescimento intrauterino
- Descolamento prematuro de placenta em gestação anterior
Há casos também em que a gestante não possui fatores de risco para pré-eclâmpsia, mas apresenta sintomas que podem justificar a realização do exame de biomarcadores sFlT-1/PlGF. Alguns desses sintomas são:
- Cefaleia
- Alterações visuais
- Epigastralgia (dor de estômago)
Entretanto, existem situações em que os sinais e sintomas não são tão graves ou evidentes, e a coleta dos biomarcadores poderia auxiliar no diagnóstico. Por exemplo:
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- Gestantes com aumento da pressão arterial sem outras alterações
- Restrição de crescimento intrauterino de forma isolada
- Gestantes com edema importante sem causa aparente.
Em pacientes com diagnóstico confirmado de pré-eclâmpsia e idade gestacional inferior a 34 semanas, o exame pode predizer o risco de desenvolvimento das formas graves da doença, como:
- Síndrome HELLP
- Edema pulmonar
- Hemorragia cerebral
- Eclâmpsia
- Insuficiência renal
- Complicações fetais, como restrição de crescimento e diástole zero em artéria umbilical
- Agravamento da condição clínica, exigindo a antecipação do parto
Contraindicações
Por tratar-se de um exame de sangue comum, não há contraindicações expressas para a dosagem de sFlT-1/PlGF. No entanto, o médico ou médica irá dizer se você precisa ou não fazer o exame.
Preparo para o exame
O teste de pré-eclâmpsia não necessita de nenhum preparo especial para ser realizado. O exame pode ser colhido a partir de 20 semanas de gestação. É importante levar anotados os medicamentos que a gestante tomou nos últimos 30 dias.
Como é feito
Chegando ao laboratório, o exame dos biomarcadores para pré-eclâmpsia é realizado por um profissional de saúde da seguinte forma:
- Com a paciente sentada, é amarrado um elástico em volta do seu braço para interromper o fluxo de sangue. Isso faz com que as veias fiquem mais largas, ajudando o profissional a puncionar uma delas
- O profissional faz a limpeza com álcool da área do braço onde será realizada a punção
- A agulha é inserida na veia e em seguida retira-se apenas 4 ml de sangue
- O sangue é coletado diretamente no tubo à vácuo
- O elástico é removido e uma gaze é colocada no local da punção. O profissional pode pressionar levemente o local para impedir qualquer sangramento
- Uma bandagem é colocada no local
Tempo de duração do exame
O exame de pré-eclâmpsia leva poucos minutos para ser realizado.
Recomendações pós-exame
Não há nenhuma recomendação especial após o exame. A paciente pode fazer suas atividades normalmente.
Periodicidade do exame
Não há uma periodicidade definida para a realização do teste de pré-eclâmpsia. Gestantes com ou sem diagnóstico de pré-eclâmpsia podem realizar o exame mais de uma vez durante a gravidez - o que vai definir o número de coletas será basicamente a idade gestacional no momento do diagnóstico e a gravidade da doença.
Riscos
Os riscos envolvidos na realização do exame de pré-eclâmpsia são extremamente raros. No máximo, pode haver um hematoma no local em que o sangue foi retirado.
Pessoas que utilizam medicamentos anticoagulantes ou com problemas de coagulação podem apresentar um sangramento contínuo após a coleta. Nesses casos, é importante informar o profissional de saúde do problema antes da coleta.
Resultados
Os resultados do exame costumam ficar disponíveis em até 48 horas. Os valores de referência estão em concordância com os estudos de maior qualidade metodológica e científica disponíveis até o presente momento, podendo sofrer pequenas modificações em conformidade com os estudos mais recentes.
Resultados normais
Para idade gestacional entre 20 a 33 semanas e 6 dias:
sFlT-1/PlGF | Interpretação | Predição |
maior ou igual 85 | Diagnóstico | Pré-Eclâmpsia Precoce (1) |
38 a 85 | Predição, reavaliar em 4 semanas | Alto risco de Pré-Eclâmpsia em 4 semanas (2) |
acima de 38 | Predição, reavaliar em 1 semana | Baixo risco para pré-eclâmpsia em 1 semana (3) |
- (1) Sensibilidade de 88% e especificidade de 99,5%
- (2) Valor preditivo positivo de 38,6%
- (3) Valor preditivo negativo de 99,1%
Para idade gestacional a partir de 34 semanas:
sFlT-1/PlGF | Interpretação | Predição |
maior ou igual a 100 | Diagnóstico | Pré-Eclâmpsia Tardia (1) |
38 a 110 | Predição, reavaliar em 4 semanas | Alto risco de Pré-Eclâmpsia em 4 semanas (2) |
maior que 38 | Predição, afastado por 1 semana | Baixo risco para Pré-Eclâmpsia em 1 semana (3) |
- (1) Sensibilidade de 58,2% e especificidade de 99,1%
- (2) Valor preditivo positivo de 38,6%
- (3) Valor preditivo negativo de 99,1%
Resultados anormais
Em gestantes que desenvolvem pré-eclâmpsia, verificou-se que os níveis de sFlt-1 são elevados e os níveis de PLGF reduzidos em relação à gestação normal, mesmo antes de ocorrerem sintomas clínicos.
O diagnóstico de pré-eclâmpsia é definido pelo aumento dos níveis pressóricos associado a proteinuria (eliminação de pelo menos 300 mg de proteínas na urina de 24 horas).
Na ausência de proteinúria, outras alterações laboratoriais podem ser utilizadas para confirmar o diagnóstico de pré-eclâmpsia:
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- Diminuição do número de plaquetas (< 200mil)
- Aumento de creatinina sérica (> 1,1md/dl)
- Aumento das enzimas hepáticas
- Edema agudo de pulmão
- Sintomas cerebrais e alterações visuais
Os biomarcadores permitem uma reavaliação contínua das condutas tomadas, norteando as decisões do obstetra para que ele atinja o máximo de vitalidade que mãe e feto podem alcançar.
Referências
Dr. Fernando Takashi Kojima Marques, ginecologista e obstetra, médico assistente do Serviço de Medicina Fetal do Fleury Medicina e Saúde, médico assistente de Serviço de Medicina Fetal da Faculdade de Medicina do ABC, pós-graduando da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM).
Zeisler H. et al. The prognosis study, 20th World Congress on Controversies in Obstetrics, Gynecology and Infertility (COGI), Paris, 2014.