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Segundo o Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito no Brasil. Estima-se que 31,5% das mortes no país sejam provocadas por esse grupo, Entre as doenças vasculares destacamos o infarto, evento que ocorre quando fluxo de sangue até o miocárdio (músculo cardíaco) fica bloqueado, de modo que parte do músculo cardíaco seja danificado ou morra.
Mas nem todo ataque cardíaco é fatal - se identificado e tratado a tempo, o paciente se recupera totalmente do ocorrido. Entretanto, todas as vítimas de infarto estão em maior risco de sofrer um novo infarto ou outras doenças cardiovasculares. Com tratamento adequado, é possível evitar danos significativos no músculo cardíaco e garantir qualidade de vida. Veja quais são os primeiros a serem dados passos após um ataque cardíaco e quais os principais cuidados:
Dieta
É sabido que uma dieta equilibrada é capaz de proteger contra diversas doenças, inclusive aquelas que afetam o coração. Por já apresentarem um comprometimento do músculo cardíaco, as vítimas de infarto devem tomar cuidados redobrados com a alimentação, a fim de evitar um novo episódio de ataque cardíaco. "Evitar a ingestão de gordura saturada e reduzir o consumo de sal estão entre as principais mudanças", ressalta a nutricionista Erika Romano, da Universidade de São Paulo e especialista da Clínica Romano.
Todos os alimentos presentes em uma alimentação balanceada poderão fazer parte do cardápio - portanto, não há grandes restrições. "Carboidratos integrais, legumes, verduras, frutas e carnes/leites com baixo teor de gordura são os pilares da dieta saudável, mesmo para aqueles que não sofreram infarto", diz. Peixes ricos em ômega 3, como salmão e sardinha, também devem entrar no prato.
Atividade física
A realização de atividades físicas quase sempre é muito positiva para a saúde de todas as pessoas. Entretanto, em determinadas situações devemos obedecer algumas recomendações, de forma que o exercício traga o máximo de benefício sem causar nenhum risco.
"Até os anos 60-70, recomendava-se repouso de três semanas aos pacientes que se recuperavam de infarto, baseando-se no pressuposto de que o repouso facilitaria o processo de cicatrização do miocárdio", explica o cardiologista Claudio Tinoco, da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj). De acordo com o especialista, há evidências de que exercício regular associado a uma abordagem multidisciplinar envolvendo intervenções psicológicas, dietéticas e farmacológicas, possa influenciar na prevenção da aterosclerose e na redução de eventos coronários. "Dessa maneira, é recomendado que recém-infartados comecem uma atividade física leve ou moderada poucas semanas após o incidente."
O cardiologista Leopoldo Piegas, especialista em infarto do Hospital do Coração, afirma que a partir da segunda semana já é possível começar a fazer uma atividade física leve, como caminhada, e após a sexta semana iniciar um exercício moderado. "Quando o paciente completar dois meses de episódio agudo de infarto, a recomendação é fazer exames ergométricos para avaliar que intensidade de estímulo ele pode fazer", diz Leopoldo. A frequência é de três a cinco vezes por semana, sempre acompanhado de um período inicial de aquecimento e um período de relaxamento após o exercício.
O cardiologista Claudio ressalta que indivíduos com comprometimento mais acentuado do coração devem exercitar-se com supervisão médica em programas de reabilitação cardíaca. "Entretanto, para qualquer paciente, é importante consultar o médico antes de iniciar os exercícios com segurança."
Vícios
"O tabagismo é totalmente contraindicado após o infarto, uma vez que o risco de ter um novo ataque aumenta em pessoas que não largam o fumo", afirma o cardiologista Leopoldo. Algumas substâncias presentes no cigarro facilitam o processo de adesão de placas nas paredes dos vasos sanguíneos, formando a aterosclerose. A formação de coágulos no sangue também é mais rápida nos tabagistas. "O resultado é a dificuldade de circulação do sangue ou sua interrupção completa, que pode causar um novo infarto se a obstrução ocorrer em artérias cardíacas", conclui o cardiologista Claudio. Os especialistas aconselham que toda vítima de infarto pare de fumar definitivamente.
O álcool também pode ser um inimigo do coração se não for consumido com cuidado. A ingestão excessiva de bebida alcoólica causa uma série de inflamações no organismo, aumenta o nível de triglicérides no sangue e acelera o batimento cardíaco. O abuso também pode ser um gatilho para AVC, arritmia e cardiomiopatias, além do risco de um novo infarto. Dependendo do caso, o ideal é interromper completamente o consumo de álcool - mas existem aqueles pacientes que podem consumir pequenas quantidades, conforme orientação médica.
Vacina da gripe
"É de grande importância a vacinação de indivíduos cardiopatas contra o vírus influenza (gripe), porque ele é mais severo naqueles que já sofreram ataque cardíaco", explica Claudio Tinoco. Acredita-se que as infecções aumentem a frequência cardíaca e diminuem o calibre dos vasos, favorecendo a formação de placa por aterosclerose e obstrução da artéria. "Dessa forma, pessoas com artérias fragilizadas pelo infarto anterior e que apresentam placas ateroscleróticas têm mais probabilidade de sofrer uma obstrução", diz.
Vida sexual
É comum entre as vítimas do infarto o medo de voltar à atividade sexual, uma vez que o esforço físico e aumento da frequência cardíaca podem remeter ao episódio. Contudo, os especialistas afirmam que a lógica é a mesma do exercício físico - retomar a atividade de forma gradual.
"O primeiro mês após o infarto merece atenção, mas após esse período a atividade sexual volta ao normal", afirma o cardiologista Leopoldo. O especialista alerta que pessoas com outras complicações, como angina e insuficiência cardíaca, devem ser avaliadas caso a caso. Mas a atividade sexual não deve ser interrompida, uma vez que é fundamental para uma saúde completa.
Vida no trabalho
O estresse no ambiente de trabalho pode ser um dos responsáveis pelo infarto. Por isso, retomar a labuta pode ser mais complicado do que parece. "O estresse pode impedir uma boa recuperação do coração, uma vez que após o infarto ainda existem pequenas alterações do músculo cardíaco, que podem não se recuperar plenamente", lembra Leopoldo Piegas. Por outro lado, voltar à rotina é fundamental para que o paciente se sinta motivado e estimulado a cuidar mais e melhor da saúde.
De um modo geral, a equipe irá dizer se a pessoa já está apta a voltar ao trabalho. Fatores como a gravidade do infarto e tipo de trabalho exercido podem influenciar nessa decisão. "Pilotos de avião, por exemplo, devem esperar um período mínimo de 6 meses para retornar para suas atividades, além de fazer uma bateria completa de exames e de avaliações antes de voltar a voar", conta o cardiologista Claudio. Bombeiros, policiais e outros profissionais que têm maior risco de estresse súbito também têm maiores riscos após infarto e são uma população que requer atenção especial.
Uso de medicamentos
Toda pessoa que sofre um infarto agudo do miocárdio apresenta risco de sofrer um novo ataque cardíaco. Existem medicamentos que ajudam a reduzir esse risco e devem ser ministrados diariamente. "Além disso, alguns ajudam a controlar os fatores de risco que levam a aterosclerose em outros órgãos, como cérebro e membros inferiores", ressalta Claudio Tinoco. Portanto, é essencial que o paciente siga as recomendações terapêuticas de seu cardiologista. "Afinal, o que é melhor: usar o medicamento ou não usar o medicamento e ter outro infarto?", indaga Leopoldo.
Acompanhamento médico
Além dos medicamentos, a vida pós-infarto é acompanhada por uma bateria de exames periódicos. Dessa forma, a equipe médica consegue avaliar a saúde cardíaca do paciente e avaliar o risco de complicações cardiovasculares em longo prazo. "Os testes incluem uma avaliação médica rotineira e a solicitação criteriosa de exames complementares, como eletrocardiograma, testes de esforço, ecocardiograma e exames sanguíneos de rotina", declara Claudio.
Segundo o cardiologista Leopoldo, as vítimas de infarto são acompanhadas a cada dois meses e depois a cada seis meses, a depender do tamanho do infarto, complicações e tipos de tratamento. Não havendo risco elevado de novas complicações, as avaliações passam a ser anuais.
Acompanhamento psicológico
O medo de sofrer um segundo ataque cardíaco pode interferir na qualidade de vida do paciente. Muitas pessoas deixam de fazer determinadas atividades pelo receio, e esse medo pode evoluir para sintomas depressivos. Por isso é importante buscar ajuda psicológica no período de recuperação do infarto - a orientação profissional ajuda a superar os anseios e garante que o paciente retorne à vida normal.
Além disso, pessoas que já sofriam de ansiedade e estresse devem manter ou buscar acompanhamento após o infarto. "Esses distúrbios podem ser um gatilho para novos episódios, e portanto devem ser tratados", explica Leopoldo Piegas. Aqueles que não faziam acompanhamento psicológico antes do infarto devem considerar a terapia após o evento, principalmente se apresentam sintomas como estresse e ansiedade acentuadamente.