O processo de crescimento é complexo e envolve aspectos genéticos, endócrinos, nutricionais e psicossociais. No entanto, geralmente é possível reconhecer e prever um padrão de crescimento linear e de ganho de peso durante a infância e adolescência. Acompanhar o crescimento e a saúde da criança e do adolescente por meio de avaliação do estado nutricional é ferramenta essencial para a prevenção e diagnóstico de distúrbios nutricionais como por exemplo a desnutrição. Ao monitorar o ritmo de crescimento é possível detectar precocemente risco de distúrbios nutricionais.
Porém é importante salientar que algumas deficiências nutricionais específicas podem ocorrer sem comprometimento antropométrico imediato, e sua detecção depende da realização de cuidadosa anamnese nutricional. A deficiência isolada ou combinada de micronutrientes pode ser identificada e confirmada utilizando-se de métodos dietéticos, clínicos e bioquímicos, que também fazem parte da avaliação do estado nutricional. Portanto, para o diagnóstico adequado da condição nutricional deve-se levar em consideração não somente a obtenção e interpretação das medidas antropométricas, mas a história clínica e nutricional, o exame físico realizado de maneira detalhada, em busca de sinais clínicos relacionados a distúrbios nutricionais e exames bioquímicos complementares.
As medidas antropométricas mais utilizadas na faixa etária pediátrica são peso, estatura, perímetro cefálico e circunferência abdominal, que são aferidas durante o exame físico. Apesar de serem procedimentos simples, devem ser aplicados cuidadosamente, seguindo-se uma padronização, e os instrumentos utilizados para sua aferição devem ser frequentemente calibrados.
Os referenciais antropométricos, também denominados curvas de crescimento, são instrumentos utilizados na prática para avaliar a normalidade, ou anormalidade, de medidas corpóreas como estatura, comprimento, peso, circunferência do braço, circunferência do abdome, pregas cutâneas entre outras. Estas curvas reproduzem, para cada idade e sexo, os diferentes valores estimados como normais de cada medida corporal com base nos observados em amostras de crianças e adolescentes tidos como normais e sadios. Além da variação considerada normal em cada idade e sexo, estas curvas apresentam uma tendência de evolução destas medidas em função da idade.
O desvio desse padrão normal de crescimento linear e ganho de peso pode ser a primeira manifestação de uma grande variedade de condições clínicas. Será, portanto o acompanhamento sistemático do crescimento e o monitoramento das condições de saúde e nutrição da criança e do adolescente juntamente com outros elementos clínicos que nos permitirão diagnosticar quadros de desnutrição e diferenciar de padrões considerados variantes da normalidade.
A desnutrição é resultado de má nutrição, consequência da escassez tanto de macro como de micronutrientes, frequentemente associada a processos infecciosos e que pode levar à magreza ou baixo peso e cronicamente à baixa estatura ou nanismo nutricional. Diferencia-se em desnutrição primária, quando é de origem nutricional, e secundária, quando gerada por doenças não nutricionais que resultam no catabolismo das reservas de proteína, carboidrato e gordura.
Além do peso e estatura abaixo do esperado para o sexo e idade, outros aspectos do exame clínico podem corroborar para o diagnóstico de desnutrição. Maior frequência de quadros infecciosos tanto do trato respiratório como gastrointestinal. Os cabelos podem se apresentar finos, opacos e quebradiços. As mucosas podem se apresentar pálidas e a pele com aspecto adelgaçado apresentar lentidão no processo de cicatrização. Ainda a criança pode ser mostrar apática, sonolenta ou com menor disposição para pratica de brincadeiras ou outras atividades físicas. Pode ocorrer distensão abdominal por aumento do tamanho do fígado e/ou distensão das alças intestinais com aumento da produção de gases por intolerância alimentar secundária à desnutrição. A intensidade e frequência destes sinais e sintomas estão diretamente relacionados a gravidade da desnutrição. Deve-se salientar que quanto maior for a inadequação do peso e da estatura e, portanto, mais distante dos valores considerados normais para a idade e sexo, maior o risco destes sintomas estarem presentes. Portanto, é de fundamental importância a avaliação rotineira e sequencial do crescimento da criança e do adolescente bem como das práticas alimentares não só para a saúde imediata mas para a prevenção de doenças crônicas na vida adulta.
Referencias
Avaliação nutricional da criança e do adolescente - Manual de Orientação / Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 2009. disponível em:< https://www.sbp.com.br/img/manuais/manual_alim_dc_nutrologia.pdf
Fernandes BS, Fernandes MT, Bismarck EM, Albuquerque MP. Abordagem clínica e preventiva, livro 3. Coleção vencendo a desnutrição. São Paulo: Salus, 2002. Disponível em: www.desnutricao.org.br ou www.cren.org.br