Clínico geral e nutrólogo, diretor da clínica Dr. Roberto Navarro. Formado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz...
iSe existe um alimento polêmico que hora é apontado como benéfico e hora como vilão, este tem nome: SOJA. O motivo de se questionar a soja, segundo o grupo de ativistas ecologicamente corretos, é o fato dela hoje ser modificada geneticamente, ou seja, transgênica, palavra que mais assusta do que realmente signifique algo perverso para a saúde, pelo menos se baseando nos estudos atuais, que ainda não conseguem comprovar tal fato, mas que só mesmo o tempo, com o uso contínuo na alimentação humana, trará a certeza de sua segurança.
As evidências atuais ainda pendem no sentido de entender que vários nutrientes encontrados na soja têm potenciais benefícios à saúde. É importante compreender que a soja é composta de várias partes diferentes, como a fração oleosa e outra fração protéica. Algumas proteínas da soja, como a dadzeína e genisteína tem comprovadamente benefícios na diminuição dos sintomas da menopausa, fato amplamente comprovado por estudos. Na fração oleosa da soja é que encontramos a lecitina, composto orgânico (fosfolipideos ) formado por um ou mais ácidos graxos associados à outros nutrientes como serina, colina, inositol, formando fosfatidilserina, fosfatidilcolina e fosfatidilinositol, respectivamente, além do ácido fosfatídico, cálcio, fósforo e vitamina E. Este grupo de substâncias é chamado de LECITINA. A lecitina pode ser encontrada naturalmente na soja, gema de ovo, gérmen de trigo e semente de girassol como também pode ser "produzida" em maior escala pela indústria através de técnicas bioquímicas.
Muito utilizado pela indústria alimentícia, pelo seu poder emulsificante, ou seja, ajuda que a parte líquida do alimento se misture homogeneamente com a parte oleosa dele, trazendo estabilidade à esta mistura, a lecitina de soja é figura fácil na confecção de chocolates, biscoitos, leite em pó, margarinas, sorvetes, massas e panificação. Até mesmo na indústria cosmética é utilizada, como cremes e pomadas.
Os benefícios da lecitina de soja para a saúde humana, utilizados como suplemento alimentar em cápsulas, já foram comprovados por estudos nas últimas décadas. Seus componentes mais estudados e a alegação de seus benefícios, são a fosfatidilserina, colina e o fosfatidilinositol.
Alguns estudos avaliaram os efeitos da fosfatidilserina e seus benefícios mais evidentes foram:
- Melhora da cognição, ou seja, funções cerebrais como atenção e memorização em idosos com doença degenerativa cerebral
- Melhor tolerância ao estresse em indivíduos submetidos à ambientes estressores, por provável ação da fosfatidilserina no eixo hormonal hipotálamo-hipófise-supra renal, equilibrando níveis de cortisol que é o hormônio responsável pela adaptação do organismo em situações desfavoráveis.
Já a colina é um nutriente fundamental na formação da acetilcolina, sendo este um dos neurotransmissores responsáveis pela memorização e retenção da informação pelo cérebro. Por este motivo, estudos concluíram que a lecitina de soja favoreceu a saúde cerebral em adultos e idosos. Outra função importante da colina é atuar na preservação de algumas funções do fígado, como na produção da bile e digestão adequada dos alimentos, além de ser fundamental para a renovação das células hepáticas (hepatócitos). Estudos mostraram o efeito protetor da lecitina de soja no fígado de ratos expostos à ingestão crônica de álcool.
O fosfatidilinositol, outro componente da lecitina de soja, atua na proteção dos neurônios cerebrais, preservando suas funções e atuando como antioxidante. Estudos mostraram seus benefícios em pacientes com doença de Parkinson.
Vários outros estudos também mostraram que a lecitina de soja ajuda no controle dos níveis sanguíneos do colesterol no sangue, diminuindo o colesterol "ruim" ( LDL ) e aumentando o "bom" colesterol ( HDL ), fato que talvez explique porque o consumo de pelo menos 25 gramas de soja por dia diminui o risco de doenças cardíacas. Outro mecanismo de ação da lecitina de soja é diminuir a formação de placas de gordura nas artérias, diminuindo o risco de ataques cardíacos e melhorando a circulação sanguínea.
Embora se alegue que a lecitina de soja ajude no emagrecimento, nenhum estudo confirmou realmente este fato, ficando no campo da especulação este benefício. Também não há relatos de estudos que confirmem sua ação no "equilíbrio" hormonal e nem como diminuidor dos sintomas da menopausa, lembrando que este benefício foi comprovado com as isoflavonas ( genisteína e dadzeína ) da soja, sendo a parte protéica deste grão e não exatamente a lecitina de soja.
Vale ressaltar que existem doses limites e adequadas para se utilizar a lecitina de soja como suplemento alimentar, variando de 500 mg a no máximo 2 gramas por dia, sendo encontrada em cápsulas de 500 mg ou 1.000 mg. Não se recomenda o uso em gestantes e em pessoas com hipersensibilidade à soja. Seu consumo excessivo pode levar à efeitos colaterais como dores abdominais, náuseas e enjoos, gases e sensação de estufamento na barriga.
Na dúvida, após todo o exposto acima, converse com seu médico ou nutricionista para orientá-lo na melhor maneira de inserir a lecitina de soja no seu dia a dia.