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Receber um diagnóstico de uma Doença Inflamatória Intestinal (DII) não é uma notícia fácil. As DIIs mais frequentes são doença de Crohn e retocolite ulcerativa. De forma geral, as Doenças Inflamatórias Intestinais causam sintomas que podem interferir na convivência social. No entanto, com acompanhamento médico e realização do tratamento, é possível ter uma boa qualidade de vida.
Para falar sobre esse assunto, conversamos com a gastroenterologista Marta Brenner, Presidente Nacional da Associação Nacional de Colite e Doença de Crohn, e com a gastroenterologista Andrea Vieira, Chefe da Clínica de Gastroenterologia da Santa Casa de São Paulo e Professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Necessidades das Doenças Inflamatórias Intestinais
As Doenças Inflamatórias Intestinais constituem um grupo de enfermidades do qual fazem parte a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, que são doenças de causa desconhecida e de caráter crônico. Ambas as condições têm períodos de remissão e de reativação, e não têm cura até o momento.
A retocolite ulcerativa é uma patologia que, normalmente, restringe-se ao cólon e à camada mucosa dessa região, enquanto a doença de Crohn traz um cenário transmural de agressão intestinal e pode ocorrer em qualquer segmento do trato digestivo, desde a boca até o ânus.
Um paciente diagnosticado com uma Doença Inflamatória Intestinal pode apresentar episódios de diarreia e dores abdominais rotineiramente. "Em vista desses fatores, pode acontecer de ele ter urgência em evacuar e, se não encontrar um banheiro, pode sujar a roupa", afirma Andrea.
O paciente pode apresentar também problemas nas articulações, como inchaço e dor, e ainda problemas de visão. Esses fatores podem e precisam ser controlados para que o paciente tenha mais qualidade de vida.
Disciplina no tratamento
Apesar de as Doenças Inflamatórias Intestinais apresentarem complicações que refletem no convívio social do paciente, atualmente existem medicações e tratamentos que podem garantir uma vida normal.
"É preciso que o paciente receba um tratamento individualizado, pois as Doenças Inflamatórias Intestinais não se manifestam da mesma forma para todas as pessoas", afirma Marta Brenner.
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De acordo com Marta, é possível deixar a doença em remissão profunda se o indivíduo tomar a medicação corretamente seguir uma dieta equilibrada e realizar exames, como colonoscopia e exames de sangue, sempre que o médico solicitar.
Sendo assim, é importante ressaltar que um paciente com Doença Inflamatória Intestinal não precisa se privar do convívio social e pode realizar as mesmas atividades que outras pessoas.
Prestar atenção nos sintomas
Pode acontecer de um paciente com uma Doença Inflamatória Intestinal passar por uma situação delicada em um evento social ou ambiente de trabalho por não ter prestado atenção nos sintomas.
"Os pacientes perdem tempo deixando de se tratar corretamente por não se atentarem aos sinais que podem indicar que a doença está desregulada. Muitas vezes, quando se dão conta, o quadro se tornou mais sério", alerta a gastroenterologista Marta Brenner.
Portanto, é preciso prestar atenção aos sinais que o corpo dá. Se houver perda de peso, dores abdominais, sangramento ou outro tipo de manifestação que não seja comum, é de extrema importância comunicar ao médico para que sejam tomadas as devidas providências. "Em alguns casos os pacientes esperam os sintomas passarem e deixam de procurar ajuda. Essa atitude é ruim, pois a doença pode entrar em atividade novamente", ressalta a médica.
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Não ter vergonha da doença
Muitas vezes, os pacientes com Doença Inflamatória Intestinal não procuram atendimento médico quando apresentam algum sintoma por sentirem vergonha da doença. Esse tipo de comportamento é prejudicial para a saúde física e mental, pois impede que a doença seja controlada e também reforça a sensação de que é preciso esconder a doença.
É importante ressaltar que não há motivos para ter vergonha das Doenças Inflamatórias Intestinais. É fundamental buscar acolhimento entre amigos e familiares nos momentos de fragilidade. Atualmente, existem também muitos grupos de apoio que oferecem atendimento psicológico aos pacientes com doença de Crohn e retocolite ulcerativa. O mais importante é que o paciente não se sinta sozinho diante da situação.
Falar abertamente do assunto pode ser complicado no começo. Mas é importante comunicar às pessoas próximas como se sente, explicar que é uma doença crônica, mas que pode ser controlada e tentar falar abertamente, quando se sentir confortável, sobre os possíveis impasses da doença. Dessa forma, as pessoas que convivem com o paciente podem criar empatia diante da situação e auxiliar o paciente quando necessário.
Atendimento multidisciplinar
As Doenças Inflamatórias Intestinais podem precisar de acompanhamento de outros profissionais de saúde. Por ser uma doença que afeta o sistema gastrointestinal, é necessário equilibrar a alimentação, a fim de possibilitar que o paciente faça boas escolhas alimentares.
Da mesma forma, em alguns casos, pode haver impacto nas juntas (articulações), pele e visão. Caso o paciente precise se consultar com outros profissionais, vale encarar isso como um complemento do seu tratamento, que ajudará para que o quadro seja visto como um todo.
Também é fundamental falar abertamente com os médicos, afinal eles são os profissionais mais indicados para tirar dúvidas e oferecer uma orientação que fará diferença na vida do paciente.
Ter hábitos saudáveis e praticar exercícios
Uma boa qualidade de vida é importante para todos e para o paciente com Doença Inflamatória Intestinal não é diferente. Um hábito fundamental é não fumar ou abandonar o vício. Segundo a gastroenterologista Andrea Vieira, os pacientes que fumam apresentam uma resposta pior ao tratamento clínico.
Ter uma alimentação saudável, evitando a ingestão de frituras e de alimentos industrializados, também é de grande valia para o tratamento de Doenças Inflamatórias Intestinais porque esses alimentos podem influenciar negativamente a doença.
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"Não há necessidade de o paciente ter restrições se a doença estiver inativa. Mesmo porque a causa da doença de Crohn e da retocolite ulcerativa não é alimentar. No entanto, é importante que ele tenha um acompanhamento nutricional", ressalta Marta Brenner.
Manter o diálogo
Muitas pessoas, quando descobrem que possuem Doença Inflamatória Intestinal, acreditam que ficarão impossibilitados de ter relações sexuais. Mas isso não é verdade. Quando a doença está inativa, o paciente pode se relacionar normalmente com seu parceiro ou sua parceira.
"Alguns pacientes se sentem inseguros em se despirem pelo fato de terem a doença localizada na região anal, outros ficam com vergonha da bolsa de ileostomia. O melhor, nesses casos, é conversar com o parceiro e juntos encontrarem uma solução que torne o momento confortável para ambos", aconselha Andrea.