• Graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos; • Residência médica em Geriatria pelo Hospital da...
iHá quem aguarde ansiosamente a aposentadoria, período de merecido descanso após anos dedicados ao trabalho. Porém, este momento pode impactar na saúde de forma negativa, já que é comum para muitas pessoas desenvolverem depressão após se afastarem do trabalho. Segundo análise publicada em 2013 pelo centro de estudos Institute of Economics Affairs (IEA), a aposentadoria pode elevar em 40% as chances de desenvolver depressão, além de aumentar em 60% a possibilidade do aparecimento de um problema físico.
Por falta de preparação psicológica e financeira, a aposentadoria representa um fator predisponente para quadros depressivos, assim como o luto e a perda da autonomia e independência por doenças específicas. Na faixa etária em que as pessoas se aposentam existe uma maior prevalência de perdas de entes queridos, além de causas secundárias de depressão, como uso de medicamentos, doenças endocrinológicas, neurológicas e infecciosas.
Podemos perceber que cada vez mais pessoas estão apresentando maior dificuldade de lidar com a aposentadoria, por estarem muito envolvidas no mercado de trabalho e preocupadas com o consumo e sustento das famílias. Outras esperam a aposentadoria como uma válvula de escape para atingir a felicidade e a realização pessoal. Porém, para atingir esse objetivo é essencial ter um planejamento financeiro e emocional para que a ausência das atividades do trabalho seja compensada por outros fatores.
Como é feito o diagnóstico de depressão em idosos?
O diagnóstico da depressão deve ser realizado logo, já que a doença não tratada pode levar à perda de força muscular, isolamento social, falta de autocuidado, intensificação das dores de doenças já existentes, piora da memória, desnutrição e, em situações mais graves, dependência total e suicídio.
No idoso, a identificação da depressão muitas vezes é realizada por meio de exames para averiguar e excluir doenças que possam justificar os sintomas físicos inexplicados. Por exemplo, perda ou aumento do apetite sem causa aparente, dores refratárias ao uso de analgésicos, alteração do sono (sonolência ou insônia), distúrbios da memória e dificuldade de se concentrar sem causa definida.
Como prevenir a depressão após a aposentadoria?
Apesar da prevenção da depressão não estar muito bem elucidada cientificamente, existem três dicas básicas que são um bom ponto de partida para evitá-la:
1ª Planejamento da aposentadoria: esse recurso é fundamental e precisa ser estimulado o quanto antes. Na consulta geriátrica é possível ter um aconselhamento de como envelhecer e programar o período após a aposentadoria. É preciso fazer uma reflexão profunda e apresentar os conceitos importantes que permeiam a faixa etária após os 65 anos. Existem necessidades físicas e psicológicas que precisam ser abordadas, como por exemplo, ao envelhecer temos dificuldade de subir escadas, então seria interessante planejar mudar de casa quando se vive em um sobrado. Também são levantadas questões sobre planos de saúde, seguros de vida, manutenção de atividades sociais, problemas de relacionamentos familiares e amorosos e espiritualidade.
2ª Atividade física: exercícios contribuem para menor incidência de depressão. Em geral, é muito recomendada a prática de atividade física que traga bem-estar para o indivíduo, que estará menos suscetível a perda de força muscular, dificuldades com locomoção e dores crônicas. O maior objetivo dos exercícios é prevenir o desaparecimento da independência e autonomia que o envelhecimento pode ocasionar.
3ª Qualidade dos relacionamentos afetivos: estudos apontam que a socialização está diretamente relacionada à qualidade de vida e ao envelhecimento bem-sucedido. Por isso, é importante que as pessoas invistam e mantenham seus relacionamentos pessoais.
A aposentadoria é oportunidade para se dedicar a projetos novos e inesperados. É essencial estar preparado para que essa transição seja realizada da melhor maneira possível para que não seja um período de frustração, mas um caminho de realizações e experiências prazerosas. O planejamento pessoal somado ao suporte de amigos e familiares pode ser a chave para o sucesso na construção da vida após aposentadoria. A pergunta que eu deixo é: você está preparado?