Psicóloga formada em 1998 pela Faculdade de Ciências e Letras, com validação e equivalência de diploma pela Universidade...
iMuito tem se falado nos últimos dias sobre o jogo com desafios de superação chamado Desafio da Baleia Azul, que tem sido associado a problemas e suicídios. Tenho acompanhado alguns artigos e discussões na internet sobre o tema. O que mais tenho lido é sobre a associação de que são pessoas com tendência suicida que iniciam o jogo. Mas, ao meu ver, além disso, outros pontos são de grande importância para reflexão e análise, quando falamos nas motivações de um jovem a entrarem neste desafio:
1) Curiosidade, imaturidade e falta de objetivos;
2) Depressão;
3) Medos, ansiedade e insegurança.
Vamos analisar cada um desses fatores a seguir.
Saiba mais: Psicóloga analisa sentimento por trás do suicídio
Primeiro impulso: curiosidade e falta de objetivos
A curiosidade pelo novo, aceitação do grupo e experiência pessoal fazem parte do universo de muitas crianças e adolescentes. Nesse período, por exemplo, descobrir o próprio corpo (sexualidade), experimentar ou não drogas e testar os próprios limites faz parte do mundo de muitas pessoas.
Porém, a imaturidade, muitas vezes, faz com que o adolescente se perca em viver o que é novo para ele, mas já foi comprovado como um caminho negativo por quem já o fez.
A falta de objetivo é um dos pontos mais importantes e talvez o início de todo problema. A vida é feita de desafios e a conquista é muito prazerosa em qualquer idade. Ser capaz de superar-se é algo tão sério e importante que leva muitos a explorar lugares particulares, chegando ao limite de seus corpos (práticas esportivas, por exemplo).
Na fase da adolescência esses desafios não são ainda, de modo geral, muito claros ou estruturados. A maioria está ainda buscando o autoconhecimento, pensando em momentos presentes, tentando se encontrar entre as ideias da família quais são suas próprias ideias, além de buscarem a aceitação do grupo e amigos. É uma fase marcada por grandes alterações hormonais e uma enxurrada de confusões emocionais.
Dentro desse processo conturbado de vivência, quando não há um desafio saudável e objetivos específicos a serem seguidos (por exemplo, um sonho a ser realizado como estudo, profissão, atividade física, etc), qualquer desafio "imposto" ou "sugerido" pode ser a "salvação" para o momento atual. Adultos saudáveis criam suas motivações a superações ao longo da vida, com certa frequência. Em qualquer idade não saber o que se quer ou qual é a sua missão de vida, seus objetivos profissionais, pessoais... Pode ser desestabilizador e gerar grande sofrimento. Por isso, quem entra no jogo e aceita desafios e realiza tarefas, sente que está:
- Provando ações de coragem
- Sendo forte para resistir a dor
- Integrando-se a um grupo maior e a outros participantes
- Aliviando a dor de problemas presentes (e ajude a distrair a mente).
Onde entra a depressão e os outros problemas?
No entanto, tudo isso só pode ser bem-vindo dentro de uma mente com outros problemas. Desafiar-se sem propósito maior, sem visar o bem, a qualidade de vida ou mesmo o amadurecimento com vida é um grande equívoco que só é vivido por quem precisa de ajuda.
Sintomas de depressão, agravam a necessidade de provar a si mesmo ser capaz de se superar. Quem sofre com isso, não quer chamar atenção, fazer "mimimi" ou é fraco, muito pelo contrário, a depressão é mesmo uma doença que merece atenção e tratamento. A dor desse sofrimento, muitas vezes, vem associado a ideias de morte e fim.
Sintomas de medo, ansiedade e insegurança podem estar envolvidos na escolha do desafio, pois ser aceito por um grupo, acreditar que é capaz de realizar tarefas arriscadas e perigosas podem dar a falsa ideias de força, coragem e superação.
O que os adultos podem fazer?
Pais, professores e responsáveis podem e devem estar atentos a necessidade de atenção, de construção de objetivos e superação consciente da criança e adolescente. Orientar, educar e explicar os problemas existente por trás desse jogo faz parte do processo de educação. Esse artigo é direcionado aos pais e educadores que possam compreender o que está por trás do comportamento inadequado. Ajudar filhos e alunos a criarem novos e melhores caminhos de vivência é mágico. A cura pode e deve acontecer.