Redatora de saúde, família e bem-estar, com foco em comportamento e saúde mental.
Muitas pessoas estão recebendo pelo WhatsApp um suposto link para ter acesso ao 14º salário, um pagamento que, de acordo com o texto, foi liberado pelo Governo Federal para brasileiros que nasceram entre janeiro e junho e já tenham trabalhado com carteira assinada. Porém, a proposta tentadora é, na verdade, um novo golpe que está circulando pelo aplicativo e que pode roubar informações pessoais do usuário.
A mensagem pede ainda que o usuário compartilhe o link com mais dez amigos pelo WhatsApp, o que faz com que o golpe se espalhe rapidamente. A empresa de segurança PSafe afirma que já são mais de 320 mil brasileiros que caíram na armadilha. Ao clicar no link, o usuário precisa responder algumas perguntas e é encaminhado para assinar um serviço de SMS pago ou a fazer download de aplicativos falsos, igualmente perigosos.
Consequências
Além do prejuízo financeiro, em caso de um roubo de dados, esse tipo de situação também causa prejuízos emocionais, como traumas, insegurança e isolamento social: "O furto de informações é como um furto de bens. A pessoa fica com um sentimento de perda, acompanhado de raiva e sentimento de invasão", explica o psicólogo Aurélio Melo, professor de psicologia do Mackenzie.
Caso o incômodo seja ignorado, pode refletir em outras esferas de relacionamento, ou ainda fazer com que a pessoa evite qualquer contato com as redes sociais."Para muitas pessoas, é difícil perceber que golpes de internet podem acontecer com qualquer um. Sendo assim, ela sente vergonha do que aconteceu e não fala sobre o assunto com as pessoas que poderiam lhe dar apoio e também não procura auxílio profissional", destaca Melo.
Crimes digitais no Brasil
O golpe em questão pode ser compreendido como um "Phishing", uma ação utilizada por cibercriminosos para enganar e induzir pessoas a dividir informações pessoais, como senhas, número do cartão de crédito, CPF e número da conta bancária.
Infelizmente, golpes cibernéticos têm se tornado cada vez mais recorrentes no Brasil. Um estudo feito pela empresa de segurança da informação Symantec mostra que a cada minuto 54 pessoas são vítimas de crimes de internet no País. A situação é ainda mais preocupante quando vista em âmbito mundial: pesquisas mostram que o Brasil é um dos cinco países com maior índice de crimes cibernéticos.
Pode-se entender como crime cibernético divulgação de conteúdo pornográfico de crianças e menores de idade; criar perfis falsos para agredir ou caluniar um determinado grupo ou uma pessoa específica; depreciar a imagem de um grupo ou uma pessoa específica. divulgação de informações confidenciais ou conteúdo íntimo e golpes que incentivem as pessoas a fornecerem dados pessoais, como número do cartão de crédito, para serem usados de forma criminosa.
A advogada Carolina Teófilo, especialista em direito digital e sócia do Patricia Peck Pinheiro Advogados, explica que esses golpes sempre oferecem supostos benefícios relacionados ao interesse das pessoas de imediato. "Essas ações estão relacionadas à engenharia social, quando golpistas se aproveitam da ingenuidade das pessoas com ofertas incríveis e assinaturas para ter acesso a dados", alerta.
Para a advogada Nora Rachman, professora de Direito Digital,do Mackenzie Campinas, a disseminação de notícias falsas contribui para que crimes cibernéticos aconteçam. Ela conta que hoje é muito comum as pessoas receberem links e repassá-los sem questionar a origem do conteúdo, checar se a fonte é confiável ou se é um ataque criminoso. "Dessa forma, uma notícia que era mentirosa acaba ficando com cara de verdadeira", conta.
Como muitos dos golpes aplicados pela internet solicitam que a vítima compartilhe aquele conteúdo com outras pessoas, a própria vítima, muitas vezes, acaba contribuindo com a divulgação de conteúdo duvidoso.
Essa atitude espontânea de compartilhar informações sem checar a procedência do conteúdo se dá porque as pessoas acreditam muito na segurança. De acordo com Melo, nossa segurança é relativa. "A medida que uma ferramenta de segurança é desenvolvida, muitos grupos também criam formas de burlar esse recurso", ressalta.
Isso é motivo para não usar mais a internet ou deixar compartilhar informações na rede? Claro que não. Mas é importante ficar de olho aos possíveis golpes e crimes cibernéticos.
Como se proteger
Assim como quando compramos um eletrodoméstico novo precisamos nos atentar a algumas regras de uso do produto, quando usamos a internet também devemos ficar de olho em algumas orientações para fazermos um bom uso dela.
A seguir, algumas dicas:
Não aja por impulso: Por mais que a internet possibilite que muitas das nossas necessidades sejam solucionadas em poucos cliques, é necessário ter cautela na hora de utilizar o recurso. Sendo assim, a advogada Caroline recomenda que sempre que receber um link, uma notícia ou um email evite agir por impulso. "Se a pessoa receber um link de um de seus contatos, vale perguntar de onde vem aquele link", ensina.
Veja no desktop: Uma forma de ajudar a identificar possíveis golpes é procurar na internet quando receber um link misterioso. Assim, é possível ver se existem notícias falando sobre aquele conteúdo e tirar a dúvida se é seguro ou não.
Atualizar o antivírus: Além de desconfiar de possíveis links maliciosos, ter um antivírus que proteja o computador e o celular também é uma forma de dificultar possíveis ataques.
O que fazer em caso de golpe?
Mesmo com prevenção, ninguém está totalmente protegido de ataques e golpes na internet,
Caso isso aconteça, veja como agir:
Armazenar o máximo de provas: Seja no caso de roubo de dados, agressão ou calúnia, é importante tirar print das telas onde o crime aconteceu. Por exemplo, se você recebeu a mensagem que oferece um ano de acesso gratuito ao Netflix, tire uma cópia da página em que você compartilhou os seus dados.
Da mesma forma, caso tenham usado seus dados pessoais ou bancários para fins criminosos, guarde o extrato do banco ou algum documento que mostre que houve uma fraude.
Mude as senhas de acesso: Caso algum perfil seu nas redes sociais ou email tenha sido invadido, troque imediatamente a sua senha, de preferência por uma mais difícil que a anterior. A mesma orientação vale para senhas de bancos.
Contate instituições que possam te ajudar: Se você teve dados bancários roubados, é importante entrar em contato com o banco e solicitar ajuda para proteger sua conta. E, caso tenha havido um prejuízo, ver como essa situação pode ser resolvida.
Faça um boletim de ocorrência: É importante fazer um registro junto à polícia em caso de crimes cibernéticos. Existem delegacias especializadas nesse tipo de crime e podem fornecer informações para se proteger de futuros ataques.
Converse com outras pessoas: Seja por medo de julgamento ou por não se sentir confortável para falar sobre o assunto, a verdade é que é muito comum ficar em silêncio quando se é vítima de um crime cibernético. Mas é importante falar sobre esse assunto com outras pessoas. Isso porque falar sobre o assunto ajuda a lidar melhor com a situação, pois possibilita receber a solidariedade de outras pessoas, e também contribui para que outras pessoas sintam-se mais informadas sobre o assunto e adotem medidas de prevenção. Afinal, quanto mais informação, mais empoderamento.