Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Devido a características peculiares de saúde, como a cicatrização mais lenta, quem tem diabetes muitas vezes fica em dúvida sobre a possibilidade de se submeter a alguns tratamentos. Um deles é o implante dentário. Será que as estruturas bucais do paciente portador de diabetes suportam todas as etapas do procedimento?
A resposta é sim. Apesar de em alguns pontos precisar de cuidados extras, nada impede que uma pessoa com diabetes beneficie seu sorriso com implantes. "O transoperatório, ou seja, durante a cirurgia, é mais delicado, porque esse paciente tem tendência a sangramentos maiores e cicatrização mais lenta na boca. Mas, tendo uma boa técnica e entendendo a situação, isso não é um problema para o profissional", afirma o cirurgião-dentista Fernando Ferraz (CRO-SP 85843), especialista em implantes dentários.
Outra recomendação específica de Ferraz para os pacientes com diabetes é que as etapas cirúrgicas sejam realizadas na primeira metade da manhã. "Mais cedo, a taxa de glicose do organismo normalmente está mais baixa, o que minimiza o sangramento", justifica.
Planejamento ajuda
A endocrinologista Hermelinda Pedrosa (CRM-DF 4405), membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), alerta que um paciente com diabetes não pode decidir repentinamente iniciar um tratamento de implante dentário. "Será necessário um planejamento, para que o diabetes seja controlado previamente e o processo de cicatrização óssea e gengival, facilitado. Também é importante ir a um cirurgião dentista que tenha conhecimento da doença", afirma a médica.
Ferraz concorda e esclarece: "Estando com a glicose controlada, a pessoa passará pelas etapas do implante com mais conforto, muito próximo de como é para quem não tem a doença".
Falta de massa óssea
Hermelinda demonstra uma certa preocupação em relação aos pacientes com diabetes que tenham a matriz óssea comprometida - algo que não é raro entre esse público, devido à maior propensão às doenças periodontais.
Mas Ferraz vê a questão com tranquilidade. Segundo o cirurgião-dentista especializado em implantes dentários, hoje há várias alternativas para fazer um enxerto ósseo nos locais específicos dos implantes e resolver esse pequeno contratempo.
O mais comum é fazer um enxerto com osso do próprio paciente, tirado de alguma outra parte do corpo - é um pedaço mínimo, que não irá prejudicar o funcionamento do corpo da pessoa. Também é possível recorrer a um banco de ossos ou a ossos artificiais. "A taxa de sucesso da cirurgia cai de 95% para 80% nesses casos, o que mesmo assim ainda significa uma perspectiva muito positiva", analisa.
A vida após o final dos procedimentos para o implante
Feito o implante do pino no osso ou no enxerto ósseo da pessoa com diabetes - e antes da colocação do dente artificial - começa a necessidade real e inadiável de ter um cuidado redobrado com a higiene bucal.
"A osseointegração, ou seja, a calcificação estável do pino no osso é um pouco mais lenta nesse paciente do que o tradicional, principalmente se a diabetes estiver descompensada, podendo chegar a até seis meses. Nesse período, pegamos no pé para que ele tenha uma higiene impecável e não prejudique a cicatrização, que já é mais difícil para quem tem diabetes", conta Ferraz.
A rotina de higienização é constituída por escovação no mínimo três vezes ao dia, uso de fio dental em todas elas e de enxaguante bucal com flúor duas vezes ao dia. Tudo isso para evitar a formação de placa bacteriana ao redor do implante e o comprometimento de todo o trabalho.
É um cuidado que já deveria ser comum para o paciente com diabetes, mas que nem sempre é respeitado. "Com a colocação do implante dentário, ele não tem mais desculpa: vai precisar cuidar da higiene bucal sempre e para sempre se quiser manter a integridade do implante", afirma Hermelinda.
Uma vez fixado o dente artificial, será necessário, além de manter a rotina de limpeza caseira, fazer uma manutenção semestral do implante no consultório do dentista. "Como é pedido para qualquer outro paciente", diz Ferraz. Nessas visitas ao profissional são feitos uma limpeza de dentes e gengivas e um raio X de acompanhamento, para verificar se tudo está no lugar certo.
Caso o paciente descuide do controle do diabetes, precisará retornar ao consultório em intervalos menores, de no máximo três meses, para fazer limpezas bucais e impedir que uma possível formação de placa bacteriana comprometa o implante e a saúde de todos os outros dentes.