Médica especialista em Dermatologia e Nutrologia. Pós-graduada em Dermatologia e Medicina Estética.
Alimentação adequada! Ai, ai... logo vem à cabeça comer folhas e mais folhas, ou melhor: ar, água e alface. E aquele bife suculento que tanto gosto, está fora? E ovos? Queijos? Nem pensar? Os conceitos de boa alimentação estão mudando. Há quem prefira ficar contando calorias, passando fome e se privando de muitos alimentos. Isso funciona? Até que funciona. Mas até quando você vai conseguir se manter com essa alimentação? Somente até emagrecer, e depois chega?
A alimentação moderna está acabando com o nosso corpo e a nossa saúde. Para se ter um exemplo prático, compare a sua pele com a da sua avó. É claro que pelos anos vividos, a de sua avó estará com flacidez, estrias e rugas mais
evidentes. Mude o enfoque para a qualidade da pele: a da sua avó deixa a sua na poeira. Por que isso? A resposta é uma alimentação de melhor qualidade e maior atividade física diária. Não que elas se matavam em academias, mas na época delas não existia a comodidade de hoje, nem supermercados com uma infinidade de produtos a disposição, e muito menos locais específicos para se exercitarem. É que tudo o que queriam fazer, elas mesmas tinham que fazer.
Hoje não, basta apertar um botão e a máquina faz para você.
A doença obesidade, geralmente acompanhada da má alimentação e sedentarismo, vem quase sempre acompanhada de aumento das taxas de colesterol e triglicerídeos (as gorduras do sangue), de pressão alta, diabetes, hipotireoidismo e acúmulo de gordura principalmente na região abdominal, das pernas e dos quadris.
Comer bem deve fazer parte da nossa vida não só para quem quer emagrecer. Existem muitas pessoas magras com as mesmas alterações do sangue das pessoas obesas, quando não muito piores. Em outras palavras, obesidade significa aumento de gordura corporal, não necessariamente de peso. Veja o exemplo do ator austríaco e governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger. Ele pode até medir 1,88m e pesar seus 108Kg, mas este peso é resultado de excesso de gordura ou de massa muscular? É claro que da segunda alternativa.
Quando você emagrece em peso, elimina-se massa muscular e gordura. Quando você emagrece em gordura, elimina-se apenas gordura, e a massa muscular se mantém. E isso é o que você quer. Pense que, ao emagrecer, a saúde vem em primeiro lugar. A estética deve ser apenas consequência, não objetivo.
Os alimentos que mais estimulam o acúmulo de gordura corporal são os carboidratos refinados e industrializados e as gorduras do tipo trans (uma gordura sintética). Citando alguns deles: arroz branco, açúcar branco, massas brancas, pães brancos (o pão francês é rico em gordura trans), farinhas brancas, sorvetes de massa, pipocas de micro-ondas, chocolates, doces, salgados, e muitos outros. Quanto mais se consumir esses tipos de alimentos, mais gordura corporal se acumulará.
E as gorduras saturadas contidas nas carnes e queijos? E os ovos? E os produtos lácteos? E as carnes de peixes e de aves? E os óleos vegetais? Esses alimentos contêm proteínas, colesterol, gorduras saturada e insaturada. Isso não aumentará as gorduras do sangue? Aumentará se você os consumir associados a qualquer carboidrato ou gordura trans.
Um exemplo: se você comer bife e ovos com salada de folhas, não. Mas se comer bife e ovos com arroz, batatas e mandioca, sim. Então isso significa que nunca mais vou poder comer carboidratos? É claro que poderá comê-los, mas em pequenas quantidades diárias, dependendo de seu estado de saúde geral. Para se ter uma idéia, um hambúrguer com batatas fritas e um refrigerante normal, só em carboidratos, possui 190 gramas. A porção diária de carboidratos deveria ser de apenas 60 gramas. Percebeu o excesso? Naturalmente, comemos muito mais que essa quantidade, e diariamente.
Se você fizer uma dieta cortando as gorduras, em consequência cortará também os alimentos ricos em proteínas, pois os alimentos ricos em proteínas contêm gordura em sua composição. Logo, se está cortando as gorduras e as proteínas, o que sobrará para você comer? Carboidratos, claro, e quanto mais você os come, mais gordura corporal se acumulará. O que fazer então? Coma mais alimentos ricos em proteínas e gorduras insaturadas (os óleos vegetais e os peixes e frutos do mar são ricos) e pouquíssima gordura saturada (corte a gordura visível das carnes), com doses limitadas de carboidratos ao dia. Esses alimentos farão melhorar o nível sanguíneo das gorduras, a pressão do sangue se normalizará e a gordura corporal acumulada será utilizada como fonte de energia. Dessa forma, você emagrecerá e com saúde.
Não vá apenas cortando alimentos. Uma avaliação médica e nutricional detalhada é o caminho. Além da alimentação inadequada, a obesidade pode ter um fundo psicológico, geralmente ligado a quadros de ansiedade e depressão. Aí entra também o psicólogo ou o médico psiquiatra. Mas não só isso. A atividade física também faz parte do tratamento, sempre com avaliação de um profissional
de educação física. Casos de infertilidade ou também da síndrome do ovário policístico podem acompanhar o quadro geral, bem como a apneia do sono e ronco, asma, e em casos extremos, até certos tipos de cânceres. Não esqueça dos derrames cerebrais, dos ataques cardíacos e ainda, problemas ortopédicos e dermatológicos.
Infelizmente, a obesidade não existe cura, e sim tratamento, e para toda a vida. Trate-a. Mude de vida e de hábitos (ou vícios) alimentares.
Daniela Hueb é médica nutróloga