Graduado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) com especialização em Cirurgia do Aparelho Digestivo pela BP - a Benef...
iA endoscopia é utilizada para o diagnóstico e tratamento de diversas doenças que atingem as crianças. Visando a melhoria na saúde dos pequenos, esse procedimento pode ser indicado eventualmente por gastropediatras ou qualquer outro médico que o julgue necessário, além de situações de urgência e emergência - nestes casos, são indicados principalmente quando há ingestão acidental de corpos estranhos, moedas, baterias e pedaços de brinquedos, por exemplo, ou de produtos que contenham substâncias lesivas, como a soda cáustica, e para episódios de sangramento digestivo.
Para sua realização, é necessário que inicialmente a criança seja submetida à anestesia ou sedação. Em posição lateral esquerda, o exame é feito seguindo o mesmo protocolo do adulto. Coloca-se um protetor bucal, a fim de impedir que a boca seja fechada e em seguida insere-se o endoscópio, aparelho responsável pela visualização do trato digestivo alto (esôfago, estômago e duodeno).
Além disso, a endoscopia também é utilizada para diagnosticar alguns problemas como dores abdominais, vômitos, dificuldade de deglutição e diarreia crônica. O mesmo procedimento tem função terapêutica nos casos de locais hemorrágicos ou com potencial hemorrágico, por exemplo.
Principais indicações
Hoje a endoscopia digestiva pode ser efetuada em praticamente todas as crianças, inclusive os recém-nascidos, prematuros ou não, desde que seja utilizado o aparelho de calibre adequado, ou seja, os endoscópios altos de 5 ou 6mm de diâmetro para a endoscopia alta.
A realização de endoscopia neste grupo etário deve ser efetuada sempre por profissionais muito experientes, selecionando bem o aparelho a ser usado, em sala devidamente equipada (monitorização e reanimação) e com sedação e analgesia ou anestesia, a depender da idade e do biótipo da criança.
No que se refere à endoscopia alta em recém-nascidos, estima-se que a sua necessidade seja em cerca de 1% de todos os nascimentos. As indicações principais são hemorragia digestiva, vômito e regurgitação frequente, dificuldade alimentar, disfagia e atraso de evolução ponderal, além de anemia. Há igualmente indicações terapêuticas possíveis como extração de corpos estranhos (peças de brinquedos, pilhas e outros objetos), dilatação de estreitamentos congênitos, entre outros.
Os diagnósticos mais encontrados são: esofagite, gastrite ou os dois associados, e úlcera. A ingestão de cáusticos (soda cáustica) configura uma indicação em idades maiores que três anos. Indicação por refluxo gastroesofágico, comum na criança até 11 anos de idade, é outra grande motivação para um médico indicar um exame invasivo nas crianças.
Saiba mais: Endoscopia: tire nove dúvidas sobre o exame que detecta refluxo e gastrite
É muito raro cânceres malignos que justifiquem a endoscopia na criança, mas já é mais frequente tumores benignos em infantes. A ingestão de moeda configura a maior indicação de endoscopia terapêutica em crianças no Brasil.
Preparativos para o exame
Para a endoscopia digestiva alta, normalmente o único preparo necessário é o jejum, que varia de acordo com a idade da criança e o tipo de alimentação. Por exemplo, para crianças em aleitamento materno exclusivo, é necessário jejum de quatro horas, enquanto para maiores de três anos é necessário jejum de oito horas para alimentos sólidos e de quatro horas para a maioria dos alimentos compostos por líquidos claros. Sempre é necessária a autorização escrita dos pais.
Anestesia
Eis aqui o motivo de maior preocupação para os pais e também para os médicos quando se indica a endoscopia digestiva em crianças - e tão menor for a criança, maiores são os riscos e mais especializada deve ser a endoscopia. Em crianças maiores de sete anos, com peso adequado, pode até ser feita sedação endoscópica como nos adultos. Abaixo dessa idade, normalmente se indica a anestesia geral (com injeção de medicamentos na veia ou mesmo por inalação de anestésicos).
Embora a anestesia geral seja uma das mais seguras anestesias possíveis, pois é totalmente controlada por aparelhos, um anestesista deve ter a prática já nesse público, pois ele demanda de cuidados especiais quando comparado a uma anestesia adulta. Por isso o ambiente deve estar preparado para infantes, desde o bocal que se coloca na boca da criança, até o aparelho endoscópico - tudo deve ser voltado para um ser humano pequeno.
Conclusão
Se seu filho recebeu a indicação para fazer endoscopia, fique tranquilo. É considerado um procedimento bastante seguro, rápido e importante para estabelecer certos diagnósticos, realizar certas terapêuticas, tudo para se alcançar o bem-estar do seu filho. Basta que você procure profissionais habilitados nesse público, realize o procedimento em ambiente apropriado, que tudo vai dar certo.
Os médicos que solicitam esse exame invasivo têm sempre bom senso em indicá-lo apropriadamente, não de forma leviana, quando ele é importante para a condução do caso do seu filho.
Agora, um conselho de um especialista: não deixe moedas espalhadas pela sua casa ao alcance das crianças, especialmente as moedas menores. Isso já reduzirá bastante as chances de um dia seu filho ter que fazer uma endoscopia de urgência.