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Quando amamos uma pessoa, fazemos o possível para mantê-la conosco. Abrimos exceções, olhamos para o que antes não prestaríamos atenção e tentamos esconder nossas imperfeições. Entretanto, todo esse esforço parece ser em vão quando a relação termina. O fim do vínculo amoroso não apenas nos desgasta, como nos força a olhar para espaços vazios de nossa existência.
O luto e a superação demandam grande energia, e quando viramos a página, ainda sentimos que alguns medos nos acompanham. O receio de passar pelo mesmo trauma é grande, e não é incomum que muitos de nós comecem a se fechar para a vida. Sem perceber, acabamos entrando em um ciclo de inutilidade, em que passamos por momentos bons que não nos fortalecem, e decepções que não nos trazem aprendizados.
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Para quebrar essa corrente, é necessário dar alguns passos para trás, e perceber que, antes de se relacionar com o próximo, é preciso ter um bom relacionamento com você mesmo. Veja a seguir, sete traços para fortalecer dentro de si antes de entrar numa relação:
1. Cultive a autoestima e o autoconhecimento
O valor que atribuímos a nós mesmos pode ditar os caminhos de uma relação, e como ela irá impactar nossa vida. De acordo com a psicóloga Wanessa Moreira, quem tem baixa autoestima corre o risco de se submeter a situações desconfortáveis, apenas para ser aceito.
"O raciocínio é que a outra pessoa irá 'descobrir' o valor que você tem, caso você aceite tudo o que lhe for imposto. Mas isso não acontece", alerta a especialista. Portanto, esteja você em uma relação ou não, é importante cultivar o autoconhecimento. Dessa forma, você saberá reconhecer sua individualidade, assim como a vida que quer viver.
Wanessa explica que isso não é um ato egoísta, porque nós apenas conseguimos compreender as necessidades do outro quando sabemos como atender as nossas.
Para a psicóloga Milena Lhano, adotar esse pensamento reduz as chances de passarmos por frustrações severas e até vivermos em um relacionamento abusivo.
"Se nós não entramos como seres completos em um relacionamento, existem duas possibilidades: Ou iremos nos decepcionar porque o outro não irá corresponder nossas expectativas, ou podemos ser manipulados por alguém que se aproveite de nossa vulnerabilidade", alerta Milena.
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2. Comece a prestar mais atenção no presente
Estar consciente do momento em que estamos na vida é importante para cuidar de nós mesmos, e também para entender por que escolhemos determinadas pessoas para estar ao nosso lado. Portanto, antes de iniciar uma relação, reflita sobre o que pode estar influenciando suas decisões.
Segundo Milena Lhano, essa também é uma forma de se resguardar. "Se estamos vivendo um período de desânimo, a tendência é atrairmos pessoas semelhantes, ou então que queiram se aproveitar dessa fragilidade", alerta.
Observar com atenção a própria realidade é uma maneira de fazer escolhas mais assertivas, que sejam um reflexo de nosso crescimento pessoal, e não o contrário.
3. Coloque sua saúde mental em primeiro lugar
"É sempre mais saudável o relacionamento de duas pessoas inteiras, do que de dois indivíduos que não estão bem e precisam um do outro para se completar", alerta Milena Lhano.
Alguns de nós convivemos com distúrbios emocionais, como a ansiedade e depressão. Estas condições reduzem a nossa qualidade de vida, e nos fazem enxergar o mundo de forma distorcida. Até as pequenas coisas parecem pesar em nossas mentes.
Por isso, antes de se esforçar para cultivar uma vida a dois, você deve direcionar suas energias para a manutenção do seu bem-estar. Wanessa Moreira diz que os relacionamentos surgem em nossas realidades repentinamente, e nós não conseguimos saber um momento exato para entrar neles, pois a paixão toma conta de nós.
Entretanto, certificar-se de que você está bem consigo pode garantir uma maior tranquilidade para o vínculo amoroso.
4. Modifique sua visão sobre a solidão
Estar cercado por pessoas que amamos é sempre algo prazeroso. Entretanto, nem sempre isso é possível. E é exatamente nesses momentos que podemos tentar mudar nossas percepções acerca da solidão, para nos sentir melhores com a nossa própria companhia.
De acordo com a psicóloga Lia Clerot, estar sozinho implica em um momento para cuidar de si, de projetos e da mente. Quando entendemos isso, diminuímos as chances de entrar em relacionamentos para suprir carências.
Wanessa explica que a parceria de uma relação é algo incrível de ser vivido. Entretanto, o vínculo amoroso não supre nossas necessidades individuais. "É possível se sentir sozinho dentro do relacionamento, principalmente quando não há uma conexão real com o outro", afirma.
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5. Aceite seus vazios
Acreditar que conseguiremos preencher todos os nossos vazios é utópico. Sempre existirão questões dentro de nós, que nem sempre terão respostas. Porém, é possível encarar algumas dúvidas como motivações para continuarmos a buscar soluções.
Para Wanessa, a chegada da maturidade esclarece esse processo. "Antes disso, a ansiedade em preencher os vazios, e não saber como, acaba prejudicando alguns de nossos relacionamentos", explica.
É importante aceitar que podemos viver fases ótimas, e logo em seguida, passar por momentos ruins. Isso faz parte do movimento da vida. Exercitar esse raciocínio nos faz ser pessoas menos exigentes, o que diminui o impacto das decepções dentro de nós.
"A melhor forma de preencher as lacunas da existência é cultivar o amor próprio, compreender a realidade e buscar propósitos", afirma Wanessa.
6. Encare o seu passado
"Quando carregamos traumas para novas relações, temos grandes chances de viver tudo novamente. O que colocamos em foco é o que acaba acontecendo", alerta Wanessa. Antes de abraçar o presente, é necessário entender que o passado não nos define.
Segundo a psicóloga, isso acontece porque o medo de reviver algumas dores nos faz enxergar o passado em tudo o que estamos vivendo no presente. É como um estado de paranoia constante, onde achamos que antigos sofrimentos estão se repetindo, principalmente em nossos relacionamentos.
"Quando não elaboramos nossos traumas internos, corremos o risco de esperar que o próximo cuide de nossas cicatrizes, repare o sofrimento anterior e até 'pague' pelo mal que o outro me causou", diz Milena Lhano.
7. Esteja mais aberto às possibilidades
A ansiedade nos faz viver em constante sofrimento, tentando antecipar os resultados de nossas escolhas. E a área amorosa pode ser bastante prejudicada pelo pensamento ansioso. De acordo com Wanessa, o medo acaba nos impedindo de viver o melhor do presente.
"Precisamos de mais realidade. Podemos alcançar isso sendo gentil com nós mesmos, e sendo verdadeiros com o que queremos e sentimos", esclarece. Ao não fazermos isso, já entramos em novas etapas com receio do fim. Enxergamos crises inexistentes, que poderiam ser resolvidas com um diálogo honesto.
Desapegar do controle e abrir-se para a vida traz uma grande leveza para o dia a dia, trazendo benefícios para quem está solteiro(a) ou em um relacionamento. "Não se esqueça que nós somos responsáveis pelas nossas atitudes e sentimentos, mas não pelo dos outros. Isso nos deixa vulneráveis, mas caso não aceitemos, estar com alguém pode ser sempre um sofrimento", conclui Milena Lhano.
Referências
- Milena Lhano (CRP 102952), psicóloga clínica sistêmica, com vasta experiência no atendimento de questões familiares e amorosas
- Wanessa Moreira terapeuta transpessoal, orientadora pessoal e Master Mentoring em Coaching Corpo e Mente
- Ângela Mangabeira, psicoterapeuta, especialista em psicossomática.