Redatora das editorias de beleza, família e alimentação.
Durante período de isolamento decorrente da COVID-19, muitos pais estão começando a observar um comportamento de inquietação e ansiedade maior em seus filhos de até 6 anos. Nesse contexto, a busca por brincadeiras e atividades em casa como uma solução para distrair os pequenos se intensificou.
Segundo a neuropsicóloga Tatiana Oliveira Serra, ficar em casa, sem poder exercer suas atividades rotineiras como ir ao parque, escola e encontrar os colegas, pode gerar ansiedade na criança, principalmente porque ela não tem controle da situação e observa que os pais também não têm.
No entanto, esse movimento de tentar entreter constantemente a criança é insustentável tanto para o convívio familiar quanto para a saúde mental das crianças e até dos próprios adultos.
"As crianças, assim como todos nós, também estão diante de um monte de emoções complexas. Muitas vezes, estão observando seus pais tensos, inseguros e com medo. Distraí-las do que elas estão sentindo, não vai impedi-las de sentir. Só vai impedir que elas compreendam e expressem o que estão sentindo", explica a pedagoga e fundadora da Fábrica Desbrinquedo, Maíra Gomes
Segundo Maíra, quando os pais buscam atividades na internet, com métodos pré-estabelecidos para a criança participar, talvez ela até se divirta, mas é preciso refletir: "como isso vai ajudar ela a expressar o que está sentindo?".
Como se relacionar com seu filho criança nessa quarentena?
Nesse momento em que adultos e crianças têm convivido em tempo integral, é importante enxergar que brincar é uma forma de conexão e expressão da criança. É a linguagem que ela utiliza para interagir com o mundo.
Nesse sentido, o brincar livre (aquele que não é conduzido ou sugerido pelo adulto) tem uma grande potência. "Criar brincadeiras é algo que permite que a criança busque recursos internos, expresse suas emoções e interaja com o mundo que está diante dela", afirma Maíra Gomes.
Pensando nisso, a neuropsicóloga Tatiana aponta diversas vantagens dessas brincadeiras para o desenvolvimento da criança:
- estimula a imaginação
- ludicidade
- criatividade
- coordenação motora
- resolução de problemas
- raciocínio lógico
- percepção corporal
Brincar também faz bem para os pais
Esse exercício é essencial não só para o desenvolvimento das crianças, como também para a saúde mental dos adultos. Muitos pais também estão cada vez mais cansados e estressados nesse período e ainda assim se sentem na obrigação de entreter a criança.
Porém, para uma relação saudável e recíproca com seu filho, a pedagoga convida os pais a pensarem no que gostam de fazer e dividir esse momento com as crianças. É importante encontrar algo que faça sentido pra criança, mas que também seja prazeroso para o adulto.
"De repente, o brincar está muito mais em fazer uma receita de bolo junto, com entusiasmo, alegria, presença e conexão, do que todo aquele tempo que você senta com uma boneca no colo e interage com a criança porque se sente na obrigação, mas mal pode esperar a hora de se ver livre dali", explica.
Como ter uma convivência saudável nessa quarentena?
Para além das brincadeiras, a neuropsicóloga Tatiana afirma que também o convívio familiar saudável não consiste apenas em seguir uma rotina em casa, mas também em saber lidar com o tédio e o ócio.
Ao contrário do que muitos pais pensam, o "ficar sem fazer nada" também é importante nesse cenário.
"A rotina funciona como um sinalizador do que vai acontecer no dia e traz para todos a sensação de controle. É importante os pais deixarem as crianças participarem da escola e das atividades e saber flexibilizar os horários conforme a necessidade da casa", explica Tatiana.
A psicóloga explica que nosso cérebro tem um limite de concentração e isso deve ser respeitado. Logo, é impossível manter a sua criança sempre entretida, ela também precisa de silêncio e introspecção.
"Valorizar momentos de tédio é valorizar também parte do que nos torna humanos. O tédio é um ótimo ingrediente para a imaginação e para a criatividade. Até hoje, não conheci uma criança entediada que não tenha inventado uma brincadeira", completa a pedagoga Maíra.