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Sem dúvida você já ouviu falar que alguma pessoa teve câncer, mas não um tumor sólido como muitos estão acostumados a ouvir: desta vez ele havia atingido o sangue. E, sim, há diversos tipos de câncer, inclusive aquele que pode atingir as células sanguíneas, chamado genericamente de "câncer no sangue".
Dentre os diversos tipos dentro dessa categoria, estão leucemias, linfomas e mielomas1. Há dois tipos, porém, que costumam ser diferentes do padrão da leucemia mais comum, que tem como característica a progressão de forma mais rápida. É o caso do Linfoma de Células do Manto (LCM) e da Leucemia Linfocítica Crônica (LLC).
Esses dois tipos, especificamente, são raros, mas costumam atingir mais os idosos, embora, em alguns casos ainda mais raros, possam atingir pessoas mais jovens.
Linfoma de Células do Manto (LCM)
Tanto o Linfoma de Células do Manto como a Leucemia Linfocítica Crônica fazem parte de um grupo maior de cânceres no sangue, conhecidos por linfomas indolentes2.
"São os linfomas 'preguiçosos'. Eles estão ali, mas se multiplicam muito devagar, têm apresentação clínica e comportamento mais lentos. Ou seja, é possível que a pessoa consiga conviver por anos com a doença sem precisar de tratamento", explica o hematologista Celso Arrais.
"Quando o diagnóstico é feito em um paciente acima de 75 anos, por exemplo, muitas vezes o paciente vai a óbito dali a um tempo, mas por outra causa, e não por causa do linfoma. Muitas vezes ele nunca nem vai precisar tratar esse linfoma", conta o especialista.
Para muitos deles, basta apenas um acompanhamento médico de perto, para captar o momento em que será necessário intervir com medicação. Há, porém, algumas variações do Linfoma de Células do Manto que tem comportamento mais agressivo, o que faz com que o tratamento seja iniciado o quanto antes. "É um linfoma que vemos com alguma frequência em centros de referência, pois o tratamento deve ser diferenciado", explica.
Mas, afinal, como a pessoa desconfia de que há algo errado no organismo, caracterizando o LCM? Em alguns casos, nem desconfia. Com frequência é por meio de um exame de rotina que o hemograma se mostra alterado - já que o linfoma provoca um aumento significativo dos glóbulos brancos, o que leva a uma investigação maior.
"Muitos médicos olham o hemograma e assustam, avisando o paciente de que ele tem de ir urgente ao hematologista", tranquiliza Arrais, sinalizando que a investigação deve, sim, ocorrer, porém não é preciso pânico. Em outros casos, um linfonodo no organismo passa a crescer e levanta a curiosidade da pessoa para entender o que é que levou a esse crescimento, o que a faz ir ao médico.
"Muitas vezes o paciente percebe na hora de fazer a barba, ou quando foi colocar uma roupa com um decote maior e percebe uma bolinha no ombro ou na cravícula", explica o médico.
Arrais explica que é preciso ficar mais atento a um linfonodo que não dói do que em um que cresce a partir de sintomas infecciosos, como mononucleose, infecções virais, entre outras. "Nesses casos de infecção, às vezes o linfonodo dói. No linfoma, não", diz o hematologista.
Quando o linfoma já está em um estágio mais avançado e a pessoa não conseguiu buscar ajuda antes, muitas vezes os sintomas já se manifestam de outras formas, como baço aumentado, anemia, além de comprometimento nos gânglios e na medula óssea, considerada a fábrica do sangue. "E aí começa a ter falha na produção de plaquetas", alerta Arrais.
Tratamento
Quando há indicação de tratar o Linfoma de Células do Manto, o tratamento pode ser feito de algumas maneiras.
"Se o paciente é jovem - o que não é comum -, opta-se por fazer um tratamento mais intensivo, com seis ciclos de quimioterapia, consolidando-o com um transplante autólogo de medula óssea, em que as próprias células troncos são congeladas para poder fazer uma última quimioterapia mais intensiva e finalizar o tratamento", diz Arrais. "É quase como formatar o disco rígido do computador", exemplifica.
No caso dos idosos, os anticorpos monoclonais fazem parte da terapia. "Quando a pessoa tem mais idade, fazemos uma quimioterapia de menor intensidade e ela passa a usar esse anticorpo monoclonal por um período de dois anos - com uma aplicação preventiva a cada dois meses, de forma a evitar recidivas", explica o especialista.
Por definição, não há metástase quando se trata de linfomas, já que é um tumor líquido. "Entre aspas, é uma doença já espalhada, pois a metástase é quando uma doença de um local do organismo se espalha para os ossos ou para outro lugar do corpo".
E, afinal, o câncer no sangue é considerado curável? Para Arrais, essa é uma classificação que ainda não foi completamente esclarecida. "Ele é curável no contexto de a pessoa precisar tratar uma vez só, não ter recidiva e vir a falecer anos depois por outra causa que não esse câncer. No caso do idoso, 87% das pessoas ficavam sem sinais de doença ainda depois de 6 ou 7 anos. Muitas vezes a pessoa morre de outra coisa, dentro da expectativa de vida de cada país", comenta.
Conceitualmente, porém, doenças indolentes têm tendência a recidivar, explica o hematologista. "Quem tem 40 anos de idade, provavelmente depois de 15 anos fará outro tratamento, e aí recidiva de novo".
De forma geral, Arrais esclarece que a expectativa de vida depois do diagnóstico costuma ser alta.
Leucemia Linfocítica Crônica (LLC)
Do ponto de vista técnico, a Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) é diferente do Linfoma de Células do Manto. "Há diferenças técnicas bem específicas. Do ponto de vista prático, porém, são diferenças mais de comportamento clínico", explica Arrais3.
"Uma pessoa com LLC apresenta a doença mais no sangue, com poucos linfonodos, enquanto na LCM há mais linfonodos afetados, enquanto o sangue é menos atingido", explica o médico.
Assim como o Linfoma de Células do Manto, a Leucemia Linfocítica Crônica também costuma apresentar evolução lenta. Quando chega o momento em que o tratamento é necessário, ele se difere da forma de tratar o LCM.
"Para a LLC, o tratamento comumente não é feito com quimioterapia, mas sim com novas drogas orais, associadas às vacinas de anticorpos", explica o médico. "Muitas vezes eu discuto com meu paciente os prós e contras de fazer um tratamento ou outro. Há pacientes que preferem se submeter à quimioterapia tradicional, de seis meses, enquanto outros preferem fazer o tratamento oral"4.
Por isso, o importante é sempre fazer exames de rotina e, caso notar algum sinal diferente no organismo, procurar um médico sem demora.
Referências
1 - Mayo Clinic. Blood Cancers. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/centers-of-excellence/walmart/specialties/blood-cancers Acesso em 29 de setembro de 2020.
4 - Acute lymphocytic leukemia. Diagnosis and Treatment. Mayo Clinic. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/acute-lymphocytic-leukemia/diagnosis-treatment/drc-20369083 Acesso em 29 de setembro de 2020.