Paulista, apaixonado por medicina, o Dr. Luís Felipe Maatz graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São...
iRedatora especialista em família e bem-estar, com colaboração para as editorias de beleza e alimentação.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), a colocação de prótese de silicone nas mamas ainda é a cirurgia estética mais requisitada entre as brasileiras. Segundo o último levantamento da sociedade, feito em 2018, a busca pelo aumento das mamas representava 18,8% dos procedimentos, ficando à frente da lipoaspiração (16,1%) e da abdominoplastia (15,9%).
No entanto, nos últimos anos, tem se observado um fenômeno contrário surgindo entre as mulheres, especialmente as influenciadoras digitais: a busca pela remoção das próteses, chamada de "explante".
Indo além das questões estéticas, a causa por trás desse movimento de busca pela retirada dos implantes envolve relatos de mulheres que começaram a listar sintomas físicos e emocionais que tiveram após a cirurgia plástica. Isso alertou tanto a comunidade médica sobre uma possível doença ligada ao silicone, quanto mulheres que já fizeram ou sentem vontade de fazer a cirurgia.
Conversamos com especialistas para entender, afinal, o que é a "doença do silicone", quais seus sintomas, riscos e o que já se sabe sobre o tratamento dela até agora.
O que é a "doença do silicone''?
A síndrome de ASIA - síndrome autoimune/inflamatória induzida por adjuvantes -, ou "doença do silicone", como é conhecida popularmente, refere-se a um conjunto de sinais e sintomas que se dá em pacientes submetidos a um estímulo externo, como a vacina, adjuvante de vacinas (hormônios, alumínio, entre outros) ou a prótese de silicone.
Segundo Luís Felipe Maatz, cirurgião plástico, especialista em Reconstrução Mamária pelo Hospital Sírio-Libanês e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), apesar de existirem estudos, ainda não há muito esclarecimento e respaldo científico sobre a síndrome.
"Ainda não há evidência científica suficiente que possa afirmar categoricamente que essa síndrome realmente exista, uma vez que o desenvolvimento de reações autoimunes em pacientes com implantes de silicone é similar ao da população em geral, segundo os estudos disponíveis", explica o cirurgião.
Na teoria e até onde os estudos apontam, após o contato com o estímulo desencadeante (implantes mamários, vacinas), pacientes geneticamente suscetíveis poderiam desenvolver uma resposta autoimune que levaria ao início de sinais. Os sintomas relatados são dor articular, dor no corpo, cansaço, distúrbios no sono e perda de cabelo.
"Doença do silicone": diagnóstico e estudos
O médico e pesquisador israelense Yehuda Shoenfeld foi o primeiro a agrupar tais sinais e sintomas numa única síndrome. Segundo ele, para classificar a síndrome ASIA, os critérios são:
- Fraqueza muscular
- Artralgia e/ou artrite
- Fadiga crônica, sono não repousante ou distúrbios do sono
- Manifestações neurológicas (especialmente associadas com desmielinização)
- Alteração cognitiva, perda de memória
- Febre
- Boa seca
- Aparecimento de autoanticorpos dirigidos contra o adjuvante suspeito
- Outras manifestações clínicas (ex.: síndrome do cólon irritável)
- Surgimento de uma doença autoimune (ex.: esclerose múltipla, esclerose sistêmica)
Segundo Fernando Amato, cirurgião plástico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), ter em seu corpo uma prótese de silicone já é um risco, independentemente se é um implante mamário ou que fique em algum outro local do corpo.
"Pessoas com antecedentes pessoais e familiares de doenças autoimunes (do sistema imunológico) têm um risco aumentado", diz o médico.
A maioria das doenças ou síndromes leva anos para ser melhor compreendidas, como é o caso da "doença do silicone".
"Até o momento não existem evidências suficientes de que exista uma relação direta de causa e efeito entre as próteses de silicone e os inúmeros sintomas relatados na síndrome", ressalta o cirurgião Luís Felipe Maatz.
Sem silicone, sem doença?
Contudo, por outro lado, como explica o médico, há relatos de pacientes que, ao serem submetidos à retirada das próteses, observam melhora ou resolução de sintomas. Dessa forma, a avaliação individual de cada paciente é imprescindível, a fim de excluir a possibilidade de outras doenças que podem causar os mesmos sintomas.
"A cirurgia de retirada das próteses (explante) pode ser considerada como opção, em conformidade com o desejo da paciente e seu entendimento de que os sintomas poderão, eventualmente, continuar", diz o cirurgião.
Antes da cirurgia, pense bem
A cirurgia de aumento das mamas é geralmente de curta duração, de baixo risco e com recuperação habitualmente rápida.
De acordo com o cirurgião Luís Felipe Maatz, é importante que se pesquise bastante sobre o procedimento, o local da cirurgia e sobre o profissional (que deve ser um cirurgião plástico habilitado com título de especialista pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica).
É também necessário se atentar às contraindicações à prótese, como doenças sistêmicas descompensadas, ou à anestesia, além daquelas relacionadas às mamas, como período de amamentação atual ou recente e algumas doenças mamárias ativas.
Contudo, optar pelo implante de silicone vai além dos pré-cuidados e contraindicações médicas: é uma questão de autoaceitação, autopercepção e também de entender e avaliar quais os impactos do procedimento para a autoestima.