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A pandemia de coronavírus modificou a forma de se relacionar. Medo de contaminação pelo novo vírus, isolamento social, restrições de trânsito? Esses são fatores que influenciam nas interações sociais desde que a COVID-19 se tornou um fator do cotidiano.
Para tentar adaptar a vida afetiva à nova rotina pandêmica, os solteiros descobriram formas alternativas e inovadoras para o flerte seguir vivo com a ajuda da tecnologia e de aplicativos de relacionamentos.
Amor em tempos de pandemia de COVID-19
Como medida de contenção da transmissão do Sars-CoV-2, uma das estratégias adotadas durante a pandemia de COVID-19 foi o isolamento social e o bloqueio de aglomerações de pessoas. Consequentemente, espaços que costumam ser usados para a paquera e o jogo de sedução, como bares, festas, restaurantes, entre outros, ficaram mais vazios.
Mas isso significa que as pessoas deixaram de flertar durante a pandemia? Como ficou a vida amorosa dos solteiros? Na falta de um barzinho na sexta para achar um possível par romântico, os aplicativos de relacionamento entraram como alternativa.
Tinder, Bumble, OKCupid, Happn, Grindr? A quantidade de aplicativos de paquera é imensa. Desde 2019, porém, há no mercado do flerte o chamado Filter Off, um aplicativo que se diferencia dos demais por oferecer a chamadas de vídeo como principal experiência.
A premissa do Filter Off é muito similar a outros aplicativos: você entra no app para encontrar uma outra pessoa e desenvolver um assunto, quem sabe terem algo. Diferente de outros apps, os usuários do Filter Off não conhecem um catálogo de perfis que podem dar like ou não.
No Filter Off, a ideia é participar de um "encontro às cegas" virtual. Neste evento, cada usuário tem quatro minutos para poder interagir com outro usuário e, se o papo for bom, o match é feito e ambos podem continuar a conversa por mais tempo em um chat privado - por mensagem de texto ou por vídeo.
Experiência online na pandemia
Eu participei de um encontro global no Filter Off, que reunia pessoas de diferentes partes do mundo e conversei com dois rapazes: Timothy, da Califórnia, e Nick, da Austrália.
Em minha conversa com Timothy, soube que o rapaz chegou ao app porque sempre conhecia pessoas de diferentes lugares do mundo em aplicativos de relacionamentos. Então, por que não tentar algo do tipo com ajuda de uma ferramenta que proporciona eventos que trazem pessoas do mundo inteiro em um contexto pandêmico com a segurança de estar em casa?
Nick, por outro lado, estava mais interessado em saber como funcionava a interação por vídeo. Ele viu um anúncio do aplicativo com uns amigos e decidiu baixá-lo para testar e ver como funcionava o match.
Em minha conversa com Timothy, a adaptação para conversas por vídeo pelo rapaz parecia ter sido uma novidade bem aceita. Já Nick achou a ideia um tanto diferente e não sabia dizer, ainda, se tinha gostado ou não do modelo de interação.
Aqui no Brasil, o Filter Off já funciona, mas o aplicativo ainda não parece ter engrenado. Nos eventos realizados em São Paulo, não consegui conversar com nenhum brasileiro.
Chamadas de vídeo para interações sociais: funciona?
O fundador do Filter Off, o estadunidense Zach Schleien, explica que a criação do Filter Off surgiu a partir de uma frustração sua com os "primeiros encontros".
"Eu estava cansado de ter primeiros encontros ruins. Então, antes de encontrar uma pessoa, comecei a perguntar se elas não podiam fazer uma chamada de vídeo. Achei que o bate-papo por vídeo seria uma forma de diminuir a pressão [do encontro], ver se estávamos na mesma sintonia e se eu estava atraído pela pessoa antes de nos encontrarmos pessoalmente... E funcionou", diz Schleien.
Segundo o fundador do Filter Off, ele sentiu que conversar por vídeo primeiro foi muito mais eficiente por conhecer a pessoa de fato.
"Com mensagens de texto é realmente fácil fazer suposições sobre como uma pessoa é sem ouvi-la e vê-la. Vídeos são muito mais eficientes. Eu não estava perdendo tempo indo encontrar alguém ou esbanjando em bebidas caras apenas para descobrir rapidamente que não estávamos interessados um no outro", complementa.
Para a psicóloga Fabiane de Faria, o uso de ferramentas audiovisuais, de fato, torna a interação mais efetiva. "O uso do vídeo é um ótimo recurso pois permite uma experiência mais real de troca do que só escrever e se esconder por trás das telas", afirma a psicóloga.
A especialista ainda lembra que, no contexto de pandemia de COVID-19, o uso de aplicativos de relacionamento é muito útil para manter os relacionamentos vivos. Entretanto, vale lembrar que aplicativos não são substitutos para interações sociais.
"São complementares, uma ajuda. Muitas pessoas com fobia social, por exemplo, podem ter ajuda com o aplicativo. Mas não podem só conhecer pessoas através do app. Ou mesmo pessoas com relações sociais saudáveis podem se facilitar no app. Não devem, porém, se tornar dependentes", pontua Fabiane.
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